Precisamos falar da Agenda 2030. Qual Brasil queremos para o futuro?

Num mundo cada vez mais cosmopolita, por que a ONU é importante para o nosso desenvolvimento?

Anderson Barollo Pires Filho
Revista Brado
5 min readSep 21, 2021

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Uma pesquisa realizada pela Rede de Conhecimento Social em parceria com o IBOPE Inteligência apontou que 49% dos brasileiros não conhecem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pela Organização das Nações Unidas (ONU). O estudo também indica que 38% já ouviu falar sobre o tema e que apenas 1% sabe bastante sobre o assunto. Crédito: Alan Santos/PR

Precisamos falar da Agenda 2030. Aliás, precisamos nos convidar para o século XXI. Em “Um Brasil sem sentidos”, artigo de minha autoria publicado há pouco mais de um ano aqui na Brado, fiz esse aceno:

“Um convite ao século XXI. Outro ponto sine qua non no Brasil de hoje é a desconexão dos líderes políticos e partidários em relação ao mundo moderno e às suas novas demandas. Vivemos nos séculos XVIII e XXI ao mesmo tempo”.

Por sinal, antes de iniciarmos essa breve conversa que proponho com você, leitor, recomendo fortemente essa leitura — é uma ótima introdução para iniciamos esse debate.

A desconexão da nossa classe política, e também de boa parte da nossa classe empresarial e sociedade civil, em relação ao mundo contemporâneo está evidenciada em diversas frentes. Quer um exemplo? Quantas vezes você já ouviu os seus representantes públicos, a imprensa, alguém do seu trabalho ou qualquer grupo que você participe falarem sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU?

Ou melhor: você conhece esses Objetivos? Se sim, saiba que você faz parte dos 10% dos brasileiros que declaram ter algum conhecimento sobre o tema — é o que aponta o Conselho Empresarial Brasileiro para Desenvolvimento Sustentável. Mas se você nunca ouviu falar delas, não se culpe — é raro o debate sobre essa pauta no Brasil.

Quando muito, os 17 ODS, acordados durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável na Assembleia Geral da ONU em 2015, são apresentados na escola, provavelmente em uma aula de Geografia ou um trabalho interdisciplinar que a instituição de ensino promova.

Mas afinal, o que são os ODS e por que eles são tão importantes para o nosso desenvolvimento? A primeira pergunta é mais simples e pode ser resumida da seguinte forma: após um processo de consulta pública, envolvendo governos, empresas e sociedade civil, os países signatários da ONU se comprometeram a cumprir 17 grandes objetivos para tornar o mundo mais sustentável, justo e seguro. A meta é atingir esses objetivos até 2030.

Já a segunda pergunta pede um pouco mais de atenção dedicada. Dessa forma, te convido a seguir o fio abaixo.

A Agenda 2030, lançada em 2015 em Nova York (EUA), apresenta 17 grandes objetivos que carregam, ao todo, 169 metas. Integrados e interdependentes, os objetivos refletem, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável: social, econômica e ambiental. Imagem: Reprodução

Um mundo cosmopolita

Com inúmeras contribuições desde os tempos pré-socráticos, a cosmologia sempre esteve presente em nossa história, e sempre com um olhar macro. Hoje atuando como uma vertente de estudos da Astronomia, que lida com a origem e evolução do Universo através de métodos científicos, ela já foi essencial para uma série de avanços e conquistas — como as chamadas “Grandes Navegações”, por exemplo.

Confiro um destaque especial ao período das Grandes Navegações pois, do ponto de vista pragmático, esse foi o primeiro grande passo para o que chamamos atualmente de globalização. Desde então, o mundo nunca mais foi o mesmo. Barreiras territoriais foram quebradas; culturas totalmente diferentes entraram em choque; guerras, domínios, escravização e genocídios (que sempre ocorreram) se elevaram à décima potência; e as relações econômicas entre as nações começaram, aos poucos, a se tornarem mais integradas.

Saltando cinco séculos no cursor da História, chegamos ao século XX. Após duas grandes guerras mundiais, ocasionadas muito por conta dos nacionalismos exacerbados latentes nos principais países da época, o mundo resolveu dar mais um passo em direção à universalidade, criando uma organização intergovernamental: a chamada Organização da Nações Unidas, popularmente conhecida como ONU.

O último, e mais definitivo, passo rumo à globalização foi o boom das tecnologias de informação e comunicação, que hoje nos permitem estar conectados em rede a qualquer momento. Tempo e espaço ganharam uma nova esfera: o território virtual. Eis- me aqui, sendo lido por ti através de uma plataforma digital.

Tudo isso para dizer o óbvio (embora seja sempre importante evidenciar o óbvio, principalmente nos dias atuais): vivemos em um mundo globalizado e não há mais volta para esse fato.

Mas não deixemos pontas soltas: o que esse papo de cosmologia/cosmopolitismo tem a ver com isso? Tudo. Por definição, cosmopolita é aquele que transcende a divisão geopolítica inerente às diferentes cidadanias nacionais. Em resumo, sua pátria é o mundo.

Quando 193 nações, organizadas e unidas, resolvem se debruçar em torno de uma agenda única, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, isso se torna uma pauta mundial. E não confunda: a ONU não é o “governo do mundo”, mas sim uma estrutura burocrática que organiza as interações entre essas nações, que são soberanas.

E quando essa burocracia firma um tratado, é bom cumprir. Eis a sua importância. Ser destaque, ou o famigerado “case de sucesso”, em um fórum internacional atrai respeitabilidade e, consequentemente, ativos econômicos. Ou seja, é uma oportunidade — principalmente para países em desenvolvimento, como o Brasil, que almejam fortalecer sua participação na governança global.

Proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento marco na história da humanidade. Fruto desse processo de globalização, a carta foi a primeira estrutura formal e material de proteção dos direitos fundamentais da pessoa humana em âmbito global. Crédito: Agência Senado.

Qual Brasil queremos para o futuro?

Enquanto perdemos tempo nos degringolando com discussões de esquerda vs direita, pautadas no período da guerra fria, o verdadeiro e mais importante debate sobre como organizar uma sociedade diante da globalização vigente está em falta. Padecemos do cosmopolitismo no Brasil.

Que nação não gostaria de ter esses 17 objetivos sendo aplicados em sua pátria? De fato, não é uma tarefa simples, mas já é um plano — um norte. Se perdemos a habilidade de sentarmos para definir quais políticas de Estado, e não de governo, queremos para o Brasil, que peguemos, então, a Agenda 2030 como nosso projeto de país e caminhemos rumo a essas metas. Repito: é uma oportunidade.

Mas, seis anos depois do acordo selado em Nova York, não avançamos em nenhuma das 169 metas presentes na Agenda — e não, não é uma força de expressão. É um dado. E a responsabilidade desse quadro atual é do governo, mas não só. Instituições, públicas e privadas, imprensa e a sociedade civil: todos somos partes desse processo.

Precisamos entrar no século XXI. As oportunidades estão batendo em nossa porta. Até quando iremos ignorá-las?

Clique aqui e acompanhe os indicadores brasileiros para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

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Anderson Barollo Pires Filho
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