Quanto vale o mercado de criptomoedas?

Com apenas doze anos de existência, as moedas digitais já superaram importantes marcas de valor de mercado

Lorenzo Kill
Revista Brado
5 min readApr 20, 2021

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Algumas das principais criptomoedas do mercado. Imagem: Shutterstock

O Bitcoin (BTC) é a primeira moeda descentralizada do mundo. Isso significa que não existe uma entidade administrativa central a controlando. A tecnologia foi apresentada à sociedade em 18 de agosto de 2008 pelo programador ou grupo de programadores ocultados no pseudônimo “Satoshi Nakamoto”, até hoje com a identidade desconhecida. A criptomoeda permite transferências financeiras sem intermediários, com uma rede ativa 24 horas por dia, fora de qualquer alcance estatal.

Após fundado o BTC, outras moedas vieram para tentar solucionar algumas “falhas”. É o caso do Litecoin (LTC), que compartilha o mesmo código do Bitcoin, porém com algumas mudanças que tornam as transações mais rápidas e menos custosas. Outras moedas, como o ZCASH (ZEC) e a Monero (XMR), trazem melhorias quanto à privacidade e irrastreabilidade das transações.

O mercado de criptomoedas é maior que sua associação direta ao Bitcoin. Apesar da dominância da “moeda mãe” estar atualmente em 52%, ou seja, metade do valor desse mercado está alocado em Bitcoin, esse percentual variou de 72% até 35% nos últimos 4 anos. Variando em momentos de expansão do Bitcoin, quanto em momento de crescimento das altcoins -ou seja, moedas alternativas, denominação dada a todas as outras criptomoedas que não sejam o BTC.

Trazendo para a prática, atualmente a capitalização de mercado das criptomoedas é de US$ 2,033 trilhões — aproximadamente 1,1 vezes o PIB do Brasil. A dominância de cerca de 52% do Bitcoin significa que o valor de mercado dele é de 1,057 trilhões de dólares, ou seja, valor próximo à soma de todas as empresas listadas na bolsa de valores brasileira. Até a semana passada, o Bitcoin superava essas empresas, cenário que mudou após uma queda de aproximadamente 14% na cotação da moeda.

O método utilizado para medir a capitalização de mercado é extremamente simples: deve ser multiplicado a quantidade de moedas em circulação, pelo preço de uma unidade da moeda. A falha desse método é não leva em consideração todas as moedas que estão em carteiras inacessíveis ou foram perdidas. Na prática, são moedas que deixaram de existir.

Estima-se que dos 18,5 milhões de bitcoins em circulação, 20% deles foram perdidos. Muitos dos casos de perda da moeda se deram num contexto em que ela possuía pouco valor, fazendo com que seus proprietários fossem negligentes com a segurança de suas carteiras. Em 2010, por exemplo, quando o Bitcoin valia menos de 20 centavos de real, a perda de 100 bitcoins seria comparada à perda de uma nota de 20 reais, enquanto o valor atual dessas moedas passaria dos R$ 30 milhões.

Isso significa que o valor de mercado “real” das criptomoedas deveria ser o valor de mercado nominal subtraído o percentual estimado de moedas que ao longo do tempo foram perdidas. Isso porque as moedas inacessíveis funcionam na prática como se não existissem mais, tornando as outras moedas em circulação mais escassas e inerentemente com mais valor. Ou seja, a pessoa que perdeu a sua moeda transfere todo o seu capital para os outros portadores das moedas que continuam em circulação. Lei da oferta e demanda.

Essa lei também funciona nas moedas fiduciárias, porém a perda de papel moeda que acontece é irrelevante frente à base monetária total, e a elevada emissão de moeda por parte do Governo, faz com que essa pressão deflacionária não tenha sequer relevância. Diferentemente do papel-moeda, muitas das moedas criptográficas possuem uma base monetária limitada, não podendo ser “impresso” mais do que a quantidade prevista no protocolo.

São vários os exemplos públicos desses “azarados”, como o programador alemão Stefan Thomas, que perdeu o pedaço de papel que continha a senha de sua carteira com um total de 7 mil bitcoins. Outro caso parecido ocorreu em 2013, quando um engenheiro da área da tecnologia da informação descartou por engano um disco rígido com aproximadamente 7.500 bitcoins. Ele era um minerador da moeda e já ofereceu, sem êxito, 55 milhões de libras esterlinas para que o Conselho local liberasse o acesso para ele encontrar e desenterrar o equipamento perdido.

A imagem abaixo compara o valor de mercado do Bitcoin com o de alguns dos principais ativos do mundo. À direita, há embaixo do nome e valor total dos ativos, em laranja, o valor necessário que uma unidade de Bitcoin deve chegar para alcançar a capitalização de mercado deles.

Observe o caso do ouro. O valor atual do Bitcoin equivale a aproximadamente 10% de todo o ouro explorado no mundo. Caso um único BTC, que hoje está próximo de US$ 56 mil, alcançar o valor de US$ 590 mil, ele terá o valor equivalente a todo o metal dourado em circulação.

Diferenças de valor de mercado do Bitcoin em relação a outros ativos. Fonte: ecoinometrics

A estrutura pouco visível por trás do criptomercado possui muito valor e não está sendo diretamente precificado nas moedas. São muitas empresas que mantêm essa indústria ativa, desde mineradores que trabalham para manter a rede em funcionamento e segura, com investimentos bilionários que geraram receita de R$ 8,5 bilhões no mês de março. Esse valor diz respeito apenas à receita de mineradores de Bitcoin, não incluindo outras moedas.

Outro setor em crescimento são as corretoras de criptomoedas, uma espécie de bolsa de valores desse mercado. No dia 14 de abril ocorreu o IPO da Coinbase, ou seja, primeiro momento em que a maior corretora dos Estados Unidos abriu a venda de suas ações para o público geral. A empresa estima um lucro de US$ 800 milhões apenas no primeiro trimestre de 2021.

É difícil prever até quando esse mercado continuará em tendência de crescimento. A valorização do Bitcoin tem se mostrado muito rápida, e os seus fundamentos precisam crescer na mesma proporção para que esse preço se sustente. O valor é extremamente subjetivo e pautado em uma maior força da aceitabilidade, confiança e interesse do mercado por esse ativo.

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Lorenzo Kill
Revista Brado

Estudante de direito da Universidade Federal do Espírito Santo e de Ciências Econômicas na Universidade Vila Velha - https://www.youtube.com/@LorenzoKill