Que tal falarmos bem de Bolsonaro?

Aviso: este texto contém ironia

Isadora Elias
Revista Brado
6 min readSep 15, 2021

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Bolsonaro e seus apoiadores. Foto: Sérgio Lima/Poder360

O esquecimento, a relativização, a ignorância, a desinformação e a manipulação. Essas são pautas abordadas pelos bolsonaristas quando se referem às mídias e aos posicionamentos contrários ao seu ídolo. Dizem por aí que o Bolsonaro só faz coisa ruim, mas hoje você vai ver que por trás das piadas infames, dos pronunciamentos esdrúxulos, dos ataques à democracia e à moral humana e da banalização da maior crise sanitária das últimas décadas — entre muitas, muitas outras coisas — pode estar escondido um bom governante, que permanece sendo injustiçado por seus ingratos governados.

Jair Bolsonaro é capaz. Capaz de gerir um país tão grande como o Brasil e de trazer benefícios e oportunidades para seus cidadãos, porém tudo o que vem fazendo está sendo apagado. Dessa maneira, seguem alguns bons atos do atual presidente:

Durante a pandemia da Covid-19, Jair flexibilizou as leis trabalhistas, de maneira que o país não sofresse — tão drasticamente — com as demissões em massa, da mesma forma que ocorreu, por exemplo, nos Estados Unidos. Diante disso, podemos sim ignorar que a taxa de desemprego do país segue em alta (14,6%), com mais de 14,8 milhões de desempregados. Bolsonaro fez sua parte: ele reduziu as taxas de desemprego em mínimas porcentagens — o que já o coloca como um gestor invejável, e não há nada que prove o contrário.

Filas em agências da Caixa para receber o auxílio no Recife. Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Ademais, o presidente também disponibilizou um auxílio emergencial para aqueles que passavam por necessidades financeiras durante essa crise — mesmo que o valor não correspondesse nem um pouco com a inflação e os gastos mínimos para uma vida decente, além de uma considerável falta de organização para o fornecimento e distribuição de tais benefícios. Ainda por cima, até a boa vontade do presidente de oferecer 200 reais de auxílio aos brasileiros foi desmerecida, um valor amplo como esse foi mudado pelo Congresso, que, no final, disponibilizou a exacerbada quantia de 600 reais para os necessitados.

E, como um exemplar presidente deve ser, também ajudou na prevenção ao uso de drogas com a ampliação de atendimento a usuários — com 4.209 novas vagas gratuitas para tratar dependentes químicos. Fomentou também, de forma indireta, o agronegócio no Brasil, já que ao ignorar as queimadas na Amazônia e não fornecer ajuda, auxiliou para que a maior floresta tropical do planeta se transforme cada vez mais em pastagens, possibilitando que o país cresça economicamente em cima da pobreza natural — ampliando ainda mais a agricultura e pecuária. Como abordado anteriormente, a grande mídia e os contrários tentam constantemente boicotar o presidente, e ao tratar desse assunto — o desmatamento —, diversos artistas internacionais, como Leonardo DiCaprio, Katy Perry e Joaquin Phoenix, fizeram um apelo ao presidente estadunidense Joe Biden, para que ele rejeitasse acordos ambientais com o Brasil por conta dessas queimadas. E não só isso, muitas empresas ligadas ao agronegócio assinaram um manifesto contra o desmatamento no Brasil, e muitas delas fecharam suas sedes e vínculos com o sistema brasileiro, tudo para ir contra os atos inocentes de Jair Bolsonaro.

E não para por aí: de forma analítica, é possível traçar uma relação entre Bolsonaro e o pensador Thomas Malthus. A teoria malthusiana mostra como as pestes, as guerras e as doenças são favoráveis para a economia, já que diminuem o contingente populacional, restando mais produtos alimentícios para a população, uma vez que a produção de alimentos não acompanha o crescimento da população na mesma proporcionalidade. E o presidente parece se basear nesse ideal, já que durante a pandemia do novo coronavírus indicou que seus eleitores — e toda sua população — não tomassem medidas sanitárias, como o uso de máscaras, o distanciamento, a higiene pessoal e a quarentena. Portanto, já que o Brasil se encontra com mais de 20 milhões de pessoas no nível de insegurança alimentar, por que não potencializar a “limpeza populacional” que a pandemia fornece e diminuir o índice da fome, já que teremos menos 588 mil pessoas para suprir? E por falar em fome, ela também está em crescimento no Brasil. Sob a liderança dele, desenvolvemos uma nova forma de evitar a fome: matando as pessoas dela mesma.

Isso sim parece ser um bom presidente.

Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS

Já que estamos no clima de relativizar e ironizar fatos, que tal usarmos outro exemplo?

Adolf Hitler: o genocida, o monstro, o homofóbico, o racista, o tudo de pior que existe, também pode ser considerado um bom gestor — em certa perspectiva. Se analisarmos a história, é possível ver como Hitler realmente se importava e valorizava seu povo ariano, e com um discurso patriota — ironicamente muito similar ao do nosso muso Bolsonaro — conseguiu unir a Alemanha e lutar para reerguer a nação. Além disso, após a crise proveniente da Primeira Guerra Mundial, ele foi capaz de levantar a Alemanha economicamente e torná-la novamente uma potência mundial, aumentando assim a qualidade de vida de seus civis.

Campanha de 1987 do jornal Folha de S. Paulo

Com essa análise pode-se ilustrar como qualquer gestor pode ser inocente aos olhos de quem o apoia. Hitler era bom para os alemães nazistas e Bolsonaro é bom para os brasileiros ignorantes. A similaridade entre todos eles é que a venda em seus olhos é tão grande que são incapazes de enxergar o tamanho do estrago que causam na vida das pessoas e em seus países. A diferença é que, ao contrário até mesmo de Hitler, a mais execrável figura histórica da contemporaneidade, Jair Bolsonaro não é responsável por nenhum progresso que o Brasil possa ter tido de 2019 para cá — prova disso é que todos os elogios da primeira parte do texto não passaram de distorções irônicas.

“O ser humano é cego para os próprios defeitos. Jamais um vilão do cinema mudo proclamou-se vilão. Nem o idiota se diz idiota.” — Nelson Rodrigues.

Com tudo isso posto, podemos levantar um questionamento: será que os bolsonaristas sabem que não há nada de bom — nas quase inexistentes medidas propostas por esse governo irresponsável — que irá compensar todas as decisões vergonhosas — e criminosas — tomadas pelo presidente?

Será que eles sabem que não é a mídia ou os “esquerdistas” que não querem divulgar as coisas boas que o presidente faz, mas sim que essas coisas simplesmente não existem?

As medidas que são consideradas boas pelos apoiadores de Jair Bolsonaro mostram como eles se colocam em uma bolha social que se comove e apoia qualquer movimento proposto pelo político, sem a existência de uma análise das reais necessidades do país e das lacunas que o presidente está deixando com o passar de seu governo, da mesma forma que — assim como o próprio Bolsonaro — pecam ao não terem empatia com as pessoas que essas medidas afetam.

“O mestre totalitário diz: Eu sei melhor do que você o que você realmente quer, o que é para o seu bem, então o que ordeno que você faça é o que, no fundo, você deseja sem saber, mesmo que superficialmente pareça se opor” — Slavoj Žižek.

O simples ato de uma pessoa formular uma frase como: “É verdade, o Bolsonaro fez coisas ruins, como diminuir as religiões de matriz africana, incitar um golpe de Estado, ridicularizar as mais de 588 mil mortes por Covid… mas não podemos esquecer que ele valoriza a família, a igreja, o país, e também fez coisas boas”, deixa claro que na realidade muitos dos apoiadores desse gestor têm sim consciência do que estão apoiando, mas querem, acima de tudo, apoiá-lo em qualquer circunstância. Muitos dos eleitores bolsonaristas admitem e reconhecem os absurdos cometidos pelo presidente, e isso só os coloca em uma posição de preconceito e extremismo, pois reconhecer e ainda sim aceitar atos como os de Jair Bolsonaro esclarece muito a realidade da mentalidade — e talvez até do caráter — de uma pessoa.

Podem tentar falar bem do presidente do Brasil, podem tentar dizer que a esquerda está escondendo o jogo, ou que as mídias estão o boicotando, mas a realidade não é subjetiva. Jair Bolsonaro é o pior gestor brasileiro de todos os tempos. Nunca um presidente, antes mesmo de terminar o mandato, conseguiu deixar um saldo tão negativo ao país — em vidas, em economia, em democracia e em todas as demais áreas. Em seu governo, o que reina é a violência, a ignorância, o preconceito, o desrespeito, o sarcasmo, a fome, a crise e a morte. E não são seus eleitores mentecaptos que conseguirão relativizar a história e inocentar o réu confesso Jair Bolsonaro.

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