Quem é a sombra que te influencia?

O mito da caverna, escrito por Platão, traz um alerta para a influência das redes sociais na vida em sociedade

Alinemuniz
Revista Brado
4 min readOct 12, 2021

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Reprodução/As Sombras da Vida/ Maurício de Sousa

Já ouviu falar do “mito da caverna”? Mito da caverna ou alegoria da caverna é um dos textos mais famosos escritos pelo filósofo Platão. Trata-se de uma conversa entre Sócrates e Glauco, onde é descrito o seguinte plano: a caverna é uma morada subterrânea, onde homens estão acorrentados, imóveis, contra a luz. A caverna possui uma abertura onde a luz penetra como “fogo” e através dela são dispostas sombras de alguns objetos. O mito tem como objetivo trazer uma reflexão sobre até onde vão nossas crenças e valores e como podemos ser cegados por nossos medos, inseguranças, dúvidas e até mesmo pelo Outro.

Quando lemos o mito da caverna numa aula de filosofia na escola, pensamos que é só mais um texto que precisamos aprender para garantir uma boa nota numa avaliação. Porém, o mito da caverna não está tão longe assim da nossa realidade. Quando aplicada à sociedade contemporânea, pode-se associar a caverna a diversas áreas da nossa vida. Vive-se a caverna política, onde pessoas se apropriam de políticos como deuses e salvadores, tomam suas palavras como verdades incontestáveis e cometem atrocidades em nome de sua aprovação. Além da caverna política, vivemos uma caverna muito opressora, se não a mais profunda: a caverna das redes sociais.

Conhecidas como um novo mundo de possibilidades de conexões, é impossível não admitir que as redes sociais permitem a comunicação mais rápida no mundo. Através delas é possível falar, em questão de segundos, com uma pessoa que está do outro lado do mundo. Além de uma fonte nova de comunicação, as redes trouxeram uma maneira mais rápida de compartilhar a vida num contexto geral. Postar fotos e, por segundos, mostrar sua realidade para milhares de telespectadores. Por mais benéfico e interessante que isso pareça, as redes sociais servem como uma caverna: elas cegam nossas percepções de criticidade, nos tornam passivos, consumistas, juízes facilmente manipuláveis e prisioneiros influenciados por sombras.

Imagem: Denise Duplinsk/Pexels

Temos, em nossa caverna das redes, a sombra de diversos “influencers”: pessoas que não conhecemos, que vendem suas vidas, filhos e famílias perfeitas; nos induzem a comprar produtos de confiabilidade duvidosa, nos oferecem um corpo perfeito e malhado em apenas algumas horas na cama de um centro cirúrgico. Ficamos acorrentados, como prisioneiros, por horas na frente de uma tela, assistindo diversas sombras, acreditando em suas inverdades, buscando se assemelhar a suas “perfeições”.

As consequências de viver como um prisioneiro de um mundo de aparências e sombras são devastadoras. Cerca de 50 milhões de brasileiros acessam o Instagram no mês. O potencial de vício dessa rede já foi admitido por diversos estudiosos. 50 milhões de pessoas acorrentadas com diversas outras, criticando de maneira positiva ou negativa as sombras que assistem, movidas por números de curtidas em fotos editadas em mais de três aplicativos diferentes. Não para por aí: assistir não é apenas a melhor parte, queremos nos igualar. Redes sociais ditam o nosso life style, a forma como vivemos, comemos, vestimos.

Foto: Jeremy Levin/Pexels

Quando não alcançamos a vitória nessa competição desleal, adoecemos. Os níveis de solidão, depressão e ansiedade aumentam exponencialmente com o crescente uso de redes sociais. O resultado? Jovens cada vez mais suscetíveis a desenvolver bulimia, anorexia, depressão, entre outras doenças. Um exemplo de como as redes podem se tornar cruéis foram os recentes ataques à cantora Luisa Sonza. Sobre isso, ela afirmou: “Eu tenho muito medo. Fico pensando o que a galera vai pensar. Será que vão me atacar? Eu não preciso nem falar os traumas que eu tenho sobre isso. Não gosto nem de entrar nesse assunto, porque ele me deixa desconfortável. Mas é óbvio que eu fico um pouco com medo”.

É preciso lembrar: a rede social não é uma terra sem lei! Comentários ofensivos machucam qualquer pessoa. É preciso estar atento até onde o Outro tem poder de definir seu estilo de vida, afetar sua saúde física e mental e buscar ajuda necessária.

No mito de Platão, sair da caverna significa libertar-se da opressão, do medo que corrói e limita. Por muitas vezes, escolhemos continuar escondidos em nossas cavernas confortáveis e aconchegantes. Viramos telespectadores e não protagonistas da nossa própria história. Sair da caverna pode ser um processo doloroso. Enxergar um novo mundo, desvencilhar-se das correntes, enfrentar a luz do sol pode ser difícil. Mas acredite, nossos olhos podem se acostumar. É preciso libertar-se das amarras, enfrentar os medos e inseguranças. Fora da caverna existe uma vida, um novo mundo das ideias. Experimente sair da caverna, viver, cuidar de si, não se deixe enganar pelas sombras. Por trás de cada tela existem seres humanos reais, com problemas reais e corpos reais. Como disse Pitty em A Sombra, “Eu quero saber me querer; Com toda beleza e abominação”.

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Escrevendo poemas aleatórios sempre que possível