Saúde da mulher: a importância de conhecer o próprio corpo

Felipe Zucolotto Machado
Revista Brado
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3 min readSep 10, 2020
Foto: Freepik.com

Neste texto trataremos sobre o tema de saúde da mulher, mais especificamente sobre a candidíase vulvovaginal (CVV). Essa infecção se trata muitas vezes de uma infecção oportunista causada pela Candida albicans, um fungo dimórfico, ou seja, que se apresenta em duas formas. Uma forma é responsável pela transmissão e colonização assintomática e a outra responsável pela invasão tecidual e estabelecimento da infecção.

Estima se que em torno de 75% das mulheres terão pelo menos um episódio de candidíase ao longo da vida, e episódios recorrentes também são comuns. Dessa maneira, é extremamente importante que a mulher entenda como essa infecção se instala e por que se instala, facilitando assim sua identificação pela própria paciente, bem como a tentativa de minimizar a ocorrência desses acontecimentos.

Primeiramente, é primordial entendermos como é o ambiente vaginal normal. Esse meio produz uma secreção vaginal normal (SVN), composta pelo produto de diversas glândulas presentes na vagina; células esfoliadas; muco cervical; e outros componentes. É importante lembrar que a produção da SVN é responsiva aos hormônios sexuais da mulher, sendo assim, os componentes, a quantidade e o aspecto dessas secreções varia de acordo com as alterações hormonais decorrentes do ciclo menstrual. O SVN possui consistência flocular e cor branca. Além disso, o meio vaginal possui uma microbiota normal, composta principalmente de um tipo de bactérias aeróbicas, os lactobacilos, essenciais para manter a vagina como um ambiente ácido, a partir da produção de peróxido de hidrogênio.

Em segundo lugar, precisamos conhecer o conceito de infecções oportunistas, que são infecções causadas por microrganismos que comumente estão presentes no corpo sem causar problemas, mas se aproveitam da queda das defesas do organismo para causar dano. Tendo isso em mente, vemos que a regulação do ambiente vaginal relatado acima é fundamental para manter a vagina saudável.

É notável que em situações em que esse ambiente se encontra desregulado ou a imunidade da pessoa está rebaixada, as infecções oportunistas podem surgir. No contexto da vagina, atitudes como a realização de duchas vaginais são capazes de aumentar o pH, tornando-o mais básico, além de remover algumas defesas do tecido vaginal e, com isso, favorecendo a instalação dessas infecções. Além disso, o uso de antibióticos por um longo período pode ser responsável por eliminar não só as bactérias desejadas, mas também os lactobacilos da vagina, favorecendo também a instalação das infecções, por isso é primordial sempre utilizar os antibióticos seguindo exatamente as orientações de um profissional médico.

Os fatores predisponentes além do uso de antibióticos são a gravidez e a diabetes, que estão associadas à diminuição qualitativa da imunidade celular da mulher, deixando-a mais suscetível a ter episódios de candidíase.

Esses sintomas são de extremo incômodo para o dia a dia da mulher. Imagem: iStock

Na candidíase vulvovaginal está presente um prurido (coceira) vulvar, associado a um corrimento vaginal, na maioria das vezes semelhante a “queijo coalho”. Pode haver úlceras vaginais, dores durante o ato sexual, queimação vulvar e irritação e dor/desconforto ao urinar (devido ao contato da urina com as lesões na vulva).

O tratamento se dá por meio de antifúngicos que podem ser administrados por via oral ou por cremes vaginais, mas não é do intuito deste texto exemplificar mais sobre, pois o mesmo não busca incentivar a automedicação, mas sim o autoconhecimento do corpo e de suas variações. Lembrando que se os sintomas persistirem é necessário buscar sempre o auxílio de seu médico.

Concluindo, vemos a importância da mulher entender e conhecer seu corpo, estando atenta às variações normais e anormais. Por exemplo, desconhecendo tudo isso e não sabendo a importância do SVN para sua saúde genital, muitas mulheres o associam a “sujeira” e realizam lavagens e duchas em excesso, prejudicando esse ambiente e facilitando episódios de candidíase devido à desinformação e ao desconhecimento do próprio corpo. Lembre-se de estar sempre atenta às variações de seu corpo. A prática de exercícios físicos, a boa alimentação e o cuidado e higiene de suas partes íntimas são a principal forma de prevenção contra a candidíase vulvovaginal.

Referências: Berek e Novak - Tratado de ginecologia 15°ed - Capítulo 18.

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Felipe Zucolotto Machado
Revista Brado

Sétimo período de Medicina pela Universidade Vila Velha | Colunista da Revista Brado