Uma breve história do gênio

Um dos mais renomados cientistas do século XX, Stephen Hawking completaria hoje seus 80 anos

Felipe de Rossi Audibert
Revista Brado
4 min readJan 8, 2022

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Stephen Hawking em Cambridge, Janeiro de 1993. Foto: David Montgomery/Getty Images

Cientista, físico, astrônomo, ateu, divulgador científico, figura pública, escritor, professor e uma das mentes mais importantes dos séculos XX e XXI. Há, porém, aqueles que atribuam grande parte de sua visibilidade à sua condição física, e eles estão redondamente enganados. E a data dos 80 anos de Stephen Hawking é a data perfeita para explicar o trabalho e a importância desse grande homem.

Apesar da forma como ele encarou sua doença ser inspiradora, pessoalmente não acho justo defini-lo pela única parte de sua vida na qual ele não teve escolha. Por isso vamos passar apenas brevemente:

“Minhas expectativas se reduziram a zero quando tinha 21 anos. O restante foi um presente”.

Em 1963 Hawking foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), estando em estado inicial, mas que ao longo do tempo lhe retirou aos poucos as capacidades físicas, eventualmente perdendo a capacidade de fala, se comunicando através de um gerador de fala, primeiro controlado pela mão e mais ao fim de sua vida através de um único músculo da bochecha. Isso não o impediu de ter 3 filhos e até se separar em 1991 (quando sua doença já estava mais avançada), para morar com sua enfermeira. Para mais detalhes sobre sua vida pessoal é interessante ver o filme “A Teoria de Tudo” ou ler o livro “Stephen Hawking: minha breve história”.

Autobiografia de Hawking, livro curto e muito interessante.

Outra face interessante da lenda é seu status como figura pública. Foi representado em várias animações como “The Simpsons” e “Futurama”, além de participar pessoalmente da série “The Big Bang Theory” e no caso mais curioso da série “Star Trek: Next Generation”, onde um personagem joga pôquer com ele, Einstein e Newton em holograma, demonstrando sua posição importante entre os grandes da história.

Foi embaixador de muitos projetos científicos e escreveu vários livros voltados para o público, sendo o mais famoso deles “Uma Breve História do Tempo”. O texto aborda conceitos muito modernos da física, como buracos negros, o Big Bang e a Teoria das Cordas. O best-seller se tornou um clássico e entrou no Guinness Book de 98 por ficar na lista dos mais vendidos por 237 semanas seguidas.

“O sentido da vida é o que você quiser que ele seja. Nós somos o universo contemplando a si mesmo”

Mas o que de tão importante ele fez para ser tão aclamado até mesmo fora de sua área de estudo?

Ele já abala o mundo muito cedo em sua carreira, na tese de doutorado, colocando o último prego na discussão e validando a teoria do Big Bang.

Para conseguir esse feito ele usou de forma brilhante e inovadora técnicas matemáticas modernas desenvolvidas por Roger Penrose para entender buracos negros e provar que todos eles possuem uma singularidade. Aplicando as técnicas de Penrose no tempo ao invés do espaço, Hawking provou que existia uma singularidade (pontos onde a física para de funcionar) no início do tempo: o Big Bang. Por essa e outras contribuições, Sir Roger Penrose ganhou o Nobel de física de 2020 e muitos argumentaram que seria justo que a honra fosse dividida com Hawking.

Simulação realista da aparência de um buraco negro feita pelo físico Kip Thorne para o filma Interestelar.

Anos depois em sua carreira ele descreveu a radiação Hawking. Esse fenômeno acontece no horizonte de eventos dos buracos negros e, devido a um efeito quântico, emite partículas, fazendo o buraco negro “evaporar”. Esse resultado é importante pois é o primeiro a relacionar as duas grandes áreas da física: a relatividade geral (de coisas grandes como buracos negros) e a física quântica (de coisas muito pequenas como as partículas da radiação Hawking) e também demonstra um jeito dos buracos negros sumirem. Antes dele, era razoável se imaginar que o universo todo ia ser engolido por buracos negros até não sobrar nada.

Uma das interpretações da existência do fenômeno. Fonte: George Matsas

Por fim, ele derivou a equação de entropia dos buracos negros. A pedido do próprio, essa equação está gravada em seu tumulo como epitáfio. O interessante nesse caso é, além de entropia ser uma propriedade fundamental na física, o fato da equação mostrar que ela aumenta proporcionalmente à área de superfície do buraco negro e não ao volume, como acontece com algum objeto normal, o fato dos buracos negros terem entropia resolve uma série de problemas na física, mas ser proporcional à área abriu para muitas perguntas ainda não respondidas (incluindo teorias exóticas como a possibilidade do universo ser um holograma).

Hawking também foi professor em Cambridge, onde ocupou o posto de professor Lucasiano, previamente que pertenceu a Isaac Newton, entre outras grandes figuras da física e matemática.

Hawking morreu na manhã de 14 de março de 2018 aos 76 anos de forma tranquila em decorrência da ELA. Pensar em Stephen Hawking é pensar em criatividade e inteligência, é pensar em superação, mas é principalmente pensar na poderosa e interminável curiosidade que motiva o ser humano a seguir em frente.

“Meu objetivo é simples. É a compreensão completa do universo, por que ele é assim e por que ele existe”

Trailer do filme sobre a vida de Stephen Hawking:

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Felipe de Rossi Audibert
Revista Brado

eng-elétrica UFES, Aluno LabTel, membro da Vitória Baja e colunista de ciência e tecnologia da revista Brado.