Uniformes de atletas femininas nas Olimpíadas de 2021 escancaram objetificação do corpo da mulher

Mylena Ferro
Revista Brado
Published in
3 min readAug 26, 2021
Foto: Jonathan Chng/Unsplash

Em meio às competições e medalhas, outro assunto tomou conta das manchetes de jornais que cobriam as Olimpíadas de 2021: a ginasta artística alemã Sarah Voss que, ao contrário do que é esperado e encorajado, recusou-se a usar os uniformes tradicionais — que deixam as pernas à mostra — e optou por um traje que cobrisse todo o seu corpo, encorajando outras atletas a fazerem o mesmo. Antes, as únicas mulheres que competiam com seus corpos cobertos eram as que tinham respaldo religioso.

Isso foi o suficiente para, de um lado, questionarem se a prática era permitida (afinal, para quê mulheres participariam da competição se não para exibir seus corpos, não é?) e, de outro, para fomentar um assunto que há muito já deveria ter ganhado o grande público: seria mesmo necessário uniformes tão justos, curtos e decotados para as mulheres ou isso não passa de pura e clara sexualização e objetificação dos corpos femininos?

“Esperamos que as atletas que fiquem desconfortáveis com as roupas usuais se sintam encorajadas a seguir nosso exemplo”. (Sarah Voss)

Sarah, ao usar um macacão que cobria todo o seu corpo, afirmou, junto a toda a federação alemã, que o ato era, sim, contra a sexualização de seus corpos e, ainda, contra o abuso sexual no esporte. Além disso, a alemã afirmou ser mais confortável utilizar roupas em que não precisa se preocupar “se vai mostrar mais do que deve”.

“Toda vez que você não se sente seguro, isso distrai você daquilo que você quer apresentar. Acho que se sentir seguro e não pensar no que as outras pessoas podem ou não podem ver é um alívio quando você pode competir assim”, pontuou a atleta.

Fora das Olimpíadas, atletas da Noruega optaram por vestir shorts e blusa — assim como os atletas masculinos — durante o campeonato de handebol de praia da Noruega e foram multadas em 9 mil reais pela Federação Europeia de Handebol, que afirmou ter como regra da competição que as mulheres do time usassem calcinha de biquíni e sutiã esportivo.

Imagem: NICLAS DOVSJÖ / NORWEGIAN HANDBALL FEDERATION

Acontece que o corpo da mulher atlética em trajes justos e curtos interessa a muita gente, como uma forma de efeito dominó: em primeiro momento, há os que assistem competições femininas apenas como fetiche, sem interesse no esporte e na competição — até porque muitos acreditam que mulher não serve para esporte –, ligada a essa audiência há as plataformas de televisão que transmitem as disputas. Para elas, o que importa é o público: não importa o motivo, mas os números: quanto mais altos, maior será a quantidade de dinheiro investido na publicidade. Por fim, interessa aos empresários das equipes, que quanto maior o sucesso, o apelo e a publicidade, mais ganham em patrocínio e, por consequência, mais lucram.

Falar em objetificação de corpos não é se referir apenas à sexualização, mas a todo esse esquema que se retroalimenta e visa o lucro que esses corpos podem gerar, independente do como e das possíveis consequências — que muito se assemelha, inclusive, ao ciclo de quase todas as áreas que se ligam, de alguma forma, à mídia. Em alguns casos, inclusive, sob o pretexto liberal de liberdade de corpos — critico aqui não as mulheres que o fazem, mas o sistema que nos faz acreditar ser empoderador o que, na verdade, só nos aliena e objetifica.

Imagem: Reprodução. Ao buscar insumos para escrever este artigo, esta foi uma reação comum de ser encontrada em comentários de posts, reportagens e tweets.

Gostou deste texto? Deixe seus aplausos (eles vão de 1 a 50) e compartilhe.

Siga a Brado nas redes sociais: Instagram; Facebook; Twitter; e LinkedIn.

--

--