Cadernos de leituras
A batalha entre tigres e cabras de Lucas Verzola e a Ouro Preto setecentista de Sérgio Luís de Carvalho
Por Carlos Castelo
Costumo ler poucos autores iniciantes. Não se trata de preconceito, mas de um certo cacoete. Herdei a biblioteca do meu pai. Nela havia cerca de 90% de escritores já estabelecidos e o restante de obras de referência. Quem adicionou os novos artistas nas prateleiras fui eu. Contudo, eles são minoria ainda hoje por lá.
Nessa quinzena recebi o livro A Última Cabra, de Lucas Verzola. E talvez pelo título intrigante decidi ler os contos. E não é que foi uma grata surpresa? Pois é, o mundo literário não é composto apenas de joyces, guimarães, prousts e faulkners. Há muito campo para os talentos a desabrochar. E, além disso, lê-lo pode ter sido uma dica das musas para que eu me detenha mais nos debutantes de nossas artes literárias.
O texto de Verzola é francamente kafkiano. Há relatos que recendem a repartições, fóruns e toda aquele tédio jurídico.
Só que Verzola possui a vantagem de nos mostrar uma boa fatia de sua experiência pessoal. O que traz à luz um conjunto bastante original. Delirantemente original, diga-se de passagem. Por exemplo, o conto que dá título à obra é o duelo entre um ex-aluno de História com um certo Dong Park-II Koo num jogo de tabuleiro chamado bagha-chall. De origem nepalesa, o jogo é uma batalha de estratégias pela vida e a morte entre tigres e cabras.
Mas não é só isso — o que, de per se, já seria suficientemente imaginativo. A narrativa do conto é toda em camadas e nelas coabitam diversos subtextos independentes.
Analisando os outros textos notei que Lucas Verzola não pode mais ser chamado de promessa. Já escreve como um veterano e espera-se que as casas editoriais continuem lhe dando o espaço que um tigre merece.
Ouro Preto
Ao lado do livro de Lucas Verzola ataquei o romance histórico Ouro Preto, do escritor português Sérgio Luís de Carvalho. A narrativa é uma tragicomédia passada na Lisboa setecentista.
Pedro de Rates Henequim escreve a D. Nuno da Cunha e Ataíde, cardeal e inquisidor-mór do reino, falando de suas experiências no Brasil. De um outro ponto de vista, Alexandre de Gusmão envia cartas a D. Luís da Cunha, embaixador de Portugal em Paris, contando as novas sobre o rei D. João V. Podemos ver nessas cartas detalhes da exploração de ouro no Brasil, das bizarrices do rei e muitos pormenores históricos curiosos e divertidos.
Ouro Preto é baseado em fatos reais e muito bom de se ler. Recomendação premium para as férias de julho.