Cadernos de leituras

Uma conversa com Giovana Madalosso, autora do romance "Suíte Tóquio"

Bravo!
Revista Bravo!
3 min readNov 17, 2020

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Por Carlos Castelo

Há um mandamento importante para quem escreve crítica literária: nunca faça uma resenha sobre o livro de um amigo. Conheço Giovana Madalosso há um tempão, e agora? Bem, aqui vai explicação: além de minha esposa, uma amiga que tem bom gosto artístico me pediu para conhecer (e, se possível, escrever algo no Cadernos de Leituras) sobre o Suíte Tóquio. Obedeci e curti o material da Madalosso. Então, para não quebrar o preceito, a entrevistei. Entrevista não é resenha.

Por que te ocorreu contar essa história?

Queria colocar uma lupa no ambiente doméstico. Em torno do epicentro de um quarto de empregada, apelidado de Suíte Tóquio pela narradora, giram diversos temas que eu queria explorar: a maternidade como um papel construído socialmente, as dificuldades da relação monogâmica e a exploração de classe contida na relação entre babás e patroas.

O livro tem personagens tão atuais e de “carne e osso” que parecem conhecidos seus. Pode-se dizer que se trata de uma narrativa autobiográfica?

Não, Suíte Tóquio é totalmente ficional. Ou melhor, parcialmente ficcional, porque sempre partimos de algum registro pessoal, ainda que muito vago, para criar ficção.

Como é o seu método de criação? Intuitivo, planejado ou algum outro pessoal e intransferível?

Intuitivo e planejado. No começo, não há método algum. Vou anotando ideias soltas num caderno, trechos no computador, juntando textos ou notícias relacionadas ao universo que pretendo representar. No caso de Suíte Tóquio, empreendi duas viagens de pesquisa. De ônibus até Mandaguaçu, fazendo a viagem que a babá Maju e Cora fazem no livro. De avião, carro e barco até a uma aldeia Yawanawa na Amazônia, a mesma jornada da mãe de Cora e Yara. Num certo momento, precisei esquematizar essas trajetórias (das duas narradoras), porque além de serem relacionadas, confluem. Distribuí todos os capítulos numa linha temporal. Tracei um norte, mas um norte inexato, sem saber como o romance acabaria.

A pandemia mudou algo na sua escrita?

Passei a pensar mais no que escrevo. A me perguntar se o que estou narrando tem relevência.

Quais são os seus autores mais queridos?

Roberto Bolaño, Lygia Fagundes Telles, Herta Muller, Orhan Pamuk e Mircea Cartarescu.

Borges dizia que a narração é um dos maiores prazeres. Mas a prosa contemporânea caminha para o lado da fabulação, para o texto coreográfico e outras experimentações. Você flerta com esses experimentos ou não vive sem o prazer de narrar?

Experimentar é parte indissociável do fazer artístico. Mas eu não busco a transgressão pela transgressão. Meu objetivo é contar uma história da melhor maneira; se a experimentação me ajudar nesse sentido, será bem-vinda.

O que vem aí pela frente em sua produção? Já escreveu a sinopse de seu próximo livro?

Tenho a ideia de um romance, mas não estou pronta para escrevê-lo porque envolve certas experiências que ainda não tive, que terei nos próximos anos. Enquanto espero a vida me entalhar, trabalho num livro de poesia. E estou finalizando um infantil, que será lançado em 2021.

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