Cinema, educação e preservação

Começa hoje a 13ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto — CINEOP — , com a exibição de 134 filmes entre curtas, médias e longas-metragens, de 12 estados brasileiros e 3 países

Beatriz Goulart
Revista Bravo!
5 min readJun 14, 2018

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"Fevereiros", longa da Mostra Contemporânea

Transitando entre os temas Preservação, História e Educação, a 13ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto — CINEOP — acontece de hoje a 18 de junho, com a exibição de 134 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens, de 12 estados brasileiros e 3 países — EUA, Espanha e França -, distribuídos nas mostras Contemporânea, Preservação, Histórica, Educação, Mostrinha e Cine-Escola. Exemplos de filmes em estreia ou pré-estreia são Quebranto, de Jose Sette; Fevereiros, documentário estrelado por Maria Bethânia e produzido por Márcio Debellian; e Arábia de Affonso Uchoa e João Dumans.

Em foco, a vanguarda tropical, as fronteiras do patrimônio audiovisual e a escola como espaço de memória do futuro, num evento programado também para costurar discussões, debates e oficinas entre pesquisadores, profissionais do audiovisual, críticos, acadêmicos, preservadores e público.

Realizada pela Universo Produção, empresa dirigida pela mineira Raquel Hallak, um dos diferenciais da Mostra de Cinema de Ouro Preto é a promoção do Encontro Nacional de Arquivos. De acordo com a produtora, o CineOP representa uma iniciativa pioneira no circuito de festivais a agregar valor de patrimônio à sétima arte e contribuir com um olhar para a história a partir do contemporâneo, em intercâmbio com o mundo. Idealizadora do Cinema sem Fronteiras, Raquel coordena a Mostra Tiradentes de cinema brasileiro contemporâneo, e o CineBH, que contempla o cinema no mercado.

“Reunir e enfocar através de filmes e debates as temáticas Preservação, História e Educação é uma atitude ousada e relevante, a fim de retratar e procurar salvaguardar o modo de vida de uma sociedade, no cenário artístico de um mundo sem fronteiras”, diz Raquel Hallak.

Ainda nesse quesito, os curadores José Quental e Ines Aisengart Menezes sublinham as trocas entre patrimônio audiovisual e o mercado, os arquivos, a formação de arquivistas, o uso das tecnologias, entre outros temas das conversas que propõem ampliar o diálogo internacional do Brasil com instituições de salvaguarda e manutenção de acervos. Portanto, o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino, promovem uma série de debates com a participação de profissionais que são referência no cenário brasileiro e internacional no setor da preservação e da educação.

Uma das presenças aguardadas é do multiartista americano Bill Morrison, que exibirá o longa-metragem Dawson City — Tempo Congelado. Outros convidados são a colombiana Juana Suárez, integrante do Archival Exchange Program — APEX –, e a francesa Céline Ruivo, coordenadora da Comissão Técnica da Fédération Internationale des Archives du Film — FIAF — e curadora na Cinemateca Francesa.

De Belo Horizonte, seguem profissionais do Museu da Imagem e do Som, o superintendente do Arquivo Público Mineiro , Thiago Veloso, que, junto com o documentarista Alexandre Pimenta e Silmara Gomes Faria do MIS-BH, lançarão o livro História em Movimento — Os Cinejornais em Minas Gerais.

Entre as apresentações previstas de projetos de restauro está a obra do capixaba Orlando Bomfim, primeiro cineasta a registrar sistematicamente o cotidiano cultural do Espírito Santo, a partir da década de 1970, em documentários que se tornaram peças importantes do patrimônio histórico e da cinematografia do estado.

A temática histórica abordará a Vanguarda Tropical: Cinema e Outras Artes, lançando luz sobre personagens importantes do Tropicalismo, movimento que permeou o teatro, o cinema, as artes plásticas e a literatura. Com curadoria de Lila Foster e Francis Vogner dos Reis, será exibido um conjunto de filmes experimentais com produções mescladas com as artes plásticas, pesquisa sonora, etc. de artistas como Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Sérgio Ricardo, Torquato Neto e outros. Vários dos filmes vêm de arquivos pessoais, tendo raras exibições públicas desde suas produções. Entre eles, estão À Meia-noite com Glauber, de Ivan Cardoso, Alma no Olho de Zózimo Bulbul, Light Works de Iole de Freitas, Terror da Vermelha de Torquato Neto e O Demiurgo de Jorge Mautner.

Cinema na praça

A vanguarda tropical ainda se faz presente no Seminário, na mesa Fronteiras do Experimental: História, Cinema e Outras Artes”. O encontro terá a presença da professora e pesquisadora Guiomar Ramos, do cineasta Tiago Mata Machado, da artista Kátia Maciel, sob mediação do curador Francis Vogner, levantando questões pertinentes aos critérios de uma organização de uma história do experimental brasileiro.

Intitulada Escola: Memórias do Futuro, a proposta da Temática Educação tem por foco a escola pública. O Encontro da Educação que sedia anualmente o Fórum da Rede Kino: Rede Latino-Americana de Educação, Cinema e Audiovisual celebra, nesta edição, 10 anos da Rede e se propõe a fazer uma homenagem às escolas.

Assim, Adriana Fresquet, que assina a curadoria desta temática com o assistente Geraldo Pereira, colocam em evidência o conceito e a noção de “memória do futuro — a importância da escola como algo que conserva, cuida e produz memória a cada segundo, num presente ativo, ao mesmo tempo antecipando o futuro, imaginando-o, sonhando o mundo que quer habitar como gesto de invenção”.

“Nas edições anuais da CineOP são promovidas sessões para apresentações de projetos audiovisuais realizados no contexto escolar e comunitário, o que nos leva a constatar o poder que o cinema tem de transformação social e construção da cidadania", afirma Hallak, que aponta como um destaque da Mostra a presença do professor espanhol Jorge Larossa, autor de singulares reflexões sobre a escola como espaço de afetos. Outro destaque é a mesa Cinema e Educação: A Escola no Cinema, reunindo representantes do Programa Cineduca, iniciativa do Uruguai que será apresentado pelas convidadas Cecilia Etcheverry e Cecilia Cirillo, respectivamente coordenadora pedagógica e coordenadora técnica do projeto.

Uma novidade desse ano é que os filmes selecionados que integram a Mostra Educação incluem agora trabalhos audiovisuais de estudantes, professores e cineastas, ampliando a relação dos participantes com uma cadeia de produção que se inicia nos estímulos da sala de aula. Ao todo, 69 curtas produzidos em contexto escolar foram selecionados para compor a mostra, que inclui ainda dois médias e um longa. Dentre os curtas, destacam-se três lançamentos resultantes da experiência de oficinas de audiovisual realizadas em BH e Contagem do projeto Inventar com a Diferença — Grupo Mutum, com jovens em cumprimento de medidas socioeducativas. São eles Atrapados, Muros e Grades e Caminho Novo, que confrontam o confinamento físico com o desejo de expressão.

A abertura da mostra será hoje no Cine Vila Rica, a partir das 20h30, com a homenagem e entrega do Troféu Vila Rica à atriz Maria Gladys. Durante a programação, serão exibidos alguns dos filmes que marcaram a carreira da artista, com destaque para Sem essa, Aranha’ dirigido por Rogério Sganzerla; e o documentário Maria Gladys, Uma Atriz Brasileira’, produzido por Norma Bengell.

Haverá ainda, na programação uma série de shows de artistas como Tom Zé, Felipe Cordeiro, Marcelo Veronez, Barulhista, entre outros. A programação é gratuita e pode ser conferida no site www.cineop.com.br

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