Dekmantel ganha força com música brasileira e confirma próxima edição em 2018

Paula Carvalho
Revista Bravo!
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4 min readFeb 6, 2017
Palco principal e o Selectors. Foto: Dekmantel/Divulgação

Como transferir um dos mais importantes festivais de música de pista das florestas da Holanda para o nosso Brasil brasileiro? O Dekmantel, realizado no sábado, 4 e domingo, 5, em São Paulo, conseguiu até deixar o Jockey Club mais simpático: móveis de madeira (que não esquentavam no solão), samambaias e boa circulação. Com capacidade para 6 mil pessoas — ou seja, uma estrutura bem menor do que a de outros festivais já realizados no local, como o Lollapalooza — os cinco palcos/pistas do Dekmantel foram posicionadas a partir da entrada do Jockey, culminando no hipódromo com o palco principal. A distância curta entre as pistas não atrapalhava o som, sempre bem equalizado e potente, e evitava muito cansaço nos dois dias de sol do festival (houve só uma rápida chuva no fim da tarde de sábado).

Na curadoria de cada palco, um tchan. O Gop Tun-Boiler Room juntou grandes pesquisadores e sons mais orgânicos, como os sets do americano Brian Shimkovitz, dono do blog e selo Awesome Tapes From Africa, da suíça Sassy J., além de shows dos veteranos Hermeto Pascoal e Azymuth. No UFO, menor espaço do festival, escondido entre marquises do Jockey, a seleção reuniu, em boa parte, criadores de sets ao vivo, como o paulistano Pedro Zopelar, os cariocas do 40% Foda/Maneiríssimo e a americana Aurora Halal. Com o equipamento na altura do público, era possível vê-los tocar, o que deixava a pista ainda mais curiosa. O palco Na Manteiga privilegiou produtores locais como Elohim (da Talco Bells), Mauricio Fleury (produtor e integrante do Bixiga 70), Paulão (um dos donos da Patuá Discos), Fred (da Goma Gringa), entre outros.

Set do Awesome Tapes From Africa é todo tocado em cassetes. Foto: Dekmantel/Divulgação

No palco Selectors, sets mais famosos do público paulista (Renato Cohen, Selvagem, Gui Scott) se misturavam ao house da alemã Lena Willikens, à coleção de sons de Ben UFO, um dos fundadores da Hessle Áudio, e de Joy Orbison. Passava-se por todos esses antes de chegar no palco principal. Lá, poucos sets ao vivo (apenas Juju & Jordash, Fatima Yamaha e o arrebatador do domingo, Nicolas Jaar) e a estrutura de palcão (luzes, DJ bem acima do público) fazia o som parecer um pouco genérico, ao menos para leigos como eu. Exceções — boas — a isso foram os sets de Moodymann, mais dance e funkeado, e John Talabot. No sábado, Nina Kraviz e Jeff Mills foram os que mais empolgaram o público.

O Dekmantel acertou em mesclar a eletrônica (em suas mais diversas vertentes, do mais experimental à super balada) a Jorge Ben, Milton Nascimento, Clara Nunes, e talvez esses fossem os momentos de mais empolgação do público. Nos sets da dupla Selvagem, da suíça Sassy J e do coletivo de DJs do próprio festival, por exemplo, a música brasileira era intercalada aos tuntz-tuntz e mostrava as intersecções entre os nossos sambas, rocks e músicas afro e os graves do house. O público, alternando entre baladeiros, clubbers, amantes de música experimental, gringos, patricinhas e boys, era imprevisível: de repente, aquele bombadão que você julgou (não façam isso em casa, amiguinhos) ter vindo fritar e postar fotos no Instagram estava na boca do palco de Hermeto Pascoal.

Hermeto. Foto: Dekmantel/Divulgação

Sem filas para banheiros, recarga de fichas ou nos bares, só geraram reclamações os preços de bebidas (cerveja Stella Artois a R$ 12; água mineral a R$ 7) e a necessidade de pagar uma taxa de R$ 5 para adquirir o cartão pré-pago, que era o único aceito em todos os bares e na praça de alimentação. O Dekmantel chega no Brasil como uma ótima opção de festival de música para dançar e já tem a próxima edição confirmada para o ano que vem.

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Written by Paula Carvalho

jornalista, doutoranda em sociologia na usp. quase tudo em torno de som 🎛 pra mandar mensagem: paula.cncarvalho@gmail.com