Dekmantel ganha força com música brasileira e confirma próxima edição em 2018
Como transferir um dos mais importantes festivais de música de pista das florestas da Holanda para o nosso Brasil brasileiro? O Dekmantel, realizado no sábado, 4 e domingo, 5, em São Paulo, conseguiu até deixar o Jockey Club mais simpático: móveis de madeira (que não esquentavam no solão), samambaias e boa circulação. Com capacidade para 6 mil pessoas — ou seja, uma estrutura bem menor do que a de outros festivais já realizados no local, como o Lollapalooza — os cinco palcos/pistas do Dekmantel foram posicionadas a partir da entrada do Jockey, culminando no hipódromo com o palco principal. A distância curta entre as pistas não atrapalhava o som, sempre bem equalizado e potente, e evitava muito cansaço nos dois dias de sol do festival (houve só uma rápida chuva no fim da tarde de sábado).
Na curadoria de cada palco, um tchan. O Gop Tun-Boiler Room juntou grandes pesquisadores e sons mais orgânicos, como os sets do americano Brian Shimkovitz, dono do blog e selo Awesome Tapes From Africa, da suíça Sassy J., além de shows dos veteranos Hermeto Pascoal e Azymuth. No UFO, menor espaço do festival, escondido entre marquises do Jockey, a seleção reuniu, em boa parte, criadores de sets ao vivo, como o paulistano Pedro Zopelar, os cariocas do 40% Foda/Maneiríssimo e a americana Aurora Halal. Com o equipamento na altura do público, era possível vê-los tocar, o que deixava a pista ainda mais curiosa. O palco Na Manteiga privilegiou produtores locais como Elohim (da Talco Bells), Mauricio Fleury (produtor e integrante do Bixiga 70), Paulão (um dos donos da Patuá Discos), Fred (da Goma Gringa), entre outros.
No palco Selectors, sets mais famosos do público paulista (Renato Cohen, Selvagem, Gui Scott) se misturavam ao house da alemã Lena Willikens, à coleção de sons de Ben UFO, um dos fundadores da Hessle Áudio, e de Joy Orbison. Passava-se por todos esses antes de chegar no palco principal. Lá, poucos sets ao vivo (apenas Juju & Jordash, Fatima Yamaha e o arrebatador do domingo, Nicolas Jaar) e a estrutura de palcão (luzes, DJ bem acima do público) fazia o som parecer um pouco genérico, ao menos para leigos como eu. Exceções — boas — a isso foram os sets de Moodymann, mais dance e funkeado, e John Talabot. No sábado, Nina Kraviz e Jeff Mills foram os que mais empolgaram o público.
O Dekmantel acertou em mesclar a eletrônica (em suas mais diversas vertentes, do mais experimental à super balada) a Jorge Ben, Milton Nascimento, Clara Nunes, e talvez esses fossem os momentos de mais empolgação do público. Nos sets da dupla Selvagem, da suíça Sassy J e do coletivo de DJs do próprio festival, por exemplo, a música brasileira era intercalada aos tuntz-tuntz e mostrava as intersecções entre os nossos sambas, rocks e músicas afro e os graves do house. O público, alternando entre baladeiros, clubbers, amantes de música experimental, gringos, patricinhas e boys, era imprevisível: de repente, aquele bombadão que você julgou (não façam isso em casa, amiguinhos) ter vindo fritar e postar fotos no Instagram estava na boca do palco de Hermeto Pascoal.
Sem filas para banheiros, recarga de fichas ou nos bares, só geraram reclamações os preços de bebidas (cerveja Stella Artois a R$ 12; água mineral a R$ 7) e a necessidade de pagar uma taxa de R$ 5 para adquirir o cartão pré-pago, que era o único aceito em todos os bares e na praça de alimentação. O Dekmantel chega no Brasil como uma ótima opção de festival de música para dançar e já tem a próxima edição confirmada para o ano que vem.