Editora Fotô quer reforçar poética em livros de fotografia

Paula Carvalho
Revista Bravo!
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4 min readOct 28, 2016

Nascida a partir dos trabalhos do Ateliê Fotô, um centro de estudos e discussão de fotografia contemporânea, a editora Fotô amplia o projeto concebido por Eder Chiodetto em 2011. Agora, além dos estudos e leituras de portifólios, fotógrafos poderão ter seus fotolivros editados pelo grupo, que além de Eder tem Fabiana Bruno e Elaine Pessoa como sócias. “NIMBUS”, de Elaine, e “Nervuras Noturno”, de Alice Grou, serão lançados nesta sexta-feira, 28, na sede da editora, em São Paulo.

Elaine Pessoa, Eder Chiodetto e Fabiana Bruno, sócios da Fotô. Foto: Raquel Santos

A Bravo! conversou com o editor Eder Chiodetto — que é também curador de diversas mostras de fotografia, dentre elas German Lorca: Arte Ofício/Artifício”, em cartaz no Sesc Bom Retiro — sobre a editora.

Como surgiu a ideia da Fotô e como a editora vai atuar?

A editora surge como uma consequência natural das linhas de trabalho desenvolvidas no âmbito dos Grupos de Estudos e Criação em Fotografia do Ateliê Fotô, fundado por mim, em 2011. Hoje em dia temos cerca de 60 fotógrafos que integram esses grupos e com os quais eu faço acompanhamento de trabalhos autorais, ajudando-os a fortalecer conceitos e edição. Com o tempo muitos deles começaram a ter trabalhos fortes que merecem vir ao mundo. Começamos a pensar em edição de fotolivros e daí surgiu a editora.

Além da edição de livros personalizados voltado para artistas e documentaristas, a editora surge com duas coleções: uma voltada para ensaios fotográficos e outra para textos inéditos de pesquisadores que investigam sob diversos prismas os desdobramentos simbólicos das imagens na sociedade.

Imagens de “NIMBUS”, de Elaine Pessoa

O primeiro livro, “NIMBUS”, de Elaine Pessoa, parece uma obra de arte até interativa, com páginas por abrir e etc. Isso se liga, pelo que entendi, com a ideia do livro, de tratar de incertezas e de experiências sensoriais. Como é o processo de traduzir (ou transmitir) essa linguagem através de um livro? Como vocês imaginaram esse formato?

Você tocou no ponto certo. Todo o nosso trabalho de edição e de pensamento sobre como um trabalho artístico pode ter sua poética reforçada num suporte como o livro, nos leva a um esforço de imaginar um livro-objeto que tenha uma relação orgânica com o leitor. NIMBUS, de Elaine Pessoa, nos instigou a avançar nesse sentido. É como adentrar numa floresta enigmática, nebulosa, em que a sedução sugerida pela atmosfera rivaliza com o temor do inominável. As páginas fechadas, que o leitor deve cortar caso queira avançar por esse território, denotam essa dualidade e amplificam o campo sensorial sugerido pelas imagens.

Você já pode falar de futuros projetos que pretendem lançar pela Fotô?

Até dezembro lançaremos seis livros no total, sendo quatro personalizados: NIMBUS, de Elaine Pessoa; Serra da Ermida 357, de Daniela de Moraes; Tropeço, de Mario Lalau e O Livro das Armas, de Angelo Manjabosco. Os outros dois são os volumes 01 e 02 da Coleção de Ensaios Fotográficos. Respectivamente Nervuras Noturno, de Alice Grou e Lugar Onde o Tempo Sofre, de Marcelo Costa. Exceto Elaine Pessoa, todos os outros autores estão lançando seus primeiros livros. Todos esses artistas integram ou já integraram os nossos Grupos de Estudos do Ateliê Fotô, mas não necessariamente editaremos livros apenas de quem nos frequenta. Nosso site (www.fotoeditorial.com) tem um canal para que a gente receba propostas de autores que querem publicar conosco.

A Coleção Imagem Refletida, de textos teóricos, será lançada em 2017.

Foto do livro “Nervuras Noturno”, de Alice Grou

Por que se lançar no mercado editorial de arte, sobretudo nesse período de crise do impresso?

A forma como fotografias ganham a sua melhor performance é no impresso. As mídias virtuais são incríveis para propagar o conhecimento e a interação, mas uma obra fotográfica alcança seu ápice quando conseguimos vê-la numa impressão bem acabada. É diante de uma cópia fotográfica feita com a melhor qualidade possível que conseguimos acessar de forma mais contundente o universo do artista. É também diante de uma obra impressa que conseguimos ter o tempo da contemplação necessário, sem a tensão que uma tela de computador nos coloca. Por isso negociamos muito com gráficas, escolhemos a melhor do mercado e fazemos um acompanhamento rigoroso no momento da impressão.

Mais informações sobre os lançamentos:
“Nervuras Noturno, de Alice Grou e “NIMBUS”, de Elaine Pessoa
Compras poderão ser feitas somente online (menos no lançamento)
Sede da Ateliê Fotô — Rua Lisboa, 328, nesta sexta-feira, 28, às 19h30.

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Paula Carvalho
Revista Bravo!

jornalista, doutoranda em sociologia na usp. quase tudo em torno de som 🎛 pra mandar mensagem: paula.cncarvalho@gmail.com