Entre a sofrência e o artivismo
Johnny Hooker chega à fase final da politizada turnê “Coração”
Representatividade já é quase um gênero musical no Brasil. Entre a geração de artivistas contemporâneos está Johnny Hooker. Sua irreverência se reflete em um jeito todo particular de cantar as dores das paixões mal resolvidas. Sem discriminar nenhuma forma de amar.
Performático, fashionista e assumidamente pró-diversidade, o recifense também incorpora elementos da música brega e referências sonoras das regiões Norte e Nordeste. A mistura de Hooker deu um bom caldo!
O hit Alma Sebosa tornou-se a música de trabalho do primeiro álbum gravado em estúdio e lançado em 2015. Eu Vou Fazer Uma Macumba pra te Amarrar, Maldito! abriu caminho para uma temporada de premiações, como o de Melhor Cantor/Canção Popular no 26º Prêmio da Música Brasileira.
Sua carreira foi impulsionada ainda pela inserção de canções em trilhas de novelas da TV Globo e pelos trampos com gente graúda. A lista inclui do diretor Felipe Hirsch à apresentadora Marina Person. Até Fafá de Belém gravou uma de suas composições.
Porém, foi a feat. com a cantora Liniker que expandiu definitivamente sua atuação do campo artístico para o político. Flutua — com mais de 4M de acessos no YouTube e quase 6M no Spotify — tornou-se nas redes sociais um hino em defesa da liberdade de amar.
Hooker e Liniker foram nomeados em 2018 pela Organização das Nações Unidas como campeões da igualdade pela campanha mundial ONU Livres & Iguais, que tem o objetivo de promover e fortalecer direitos à população LGBTQ.
Batimentos cardíacos
Coração começou a bater forte em 2017. O segundo álbum tem menos fossa e mais alegria. Com financiamento do edital Natura Musical, além de Flutua, traz a parceria com Gaby Amarantos em Corpo Fechado e uma homenagem a Caê em Caetano Veloso.
Após a primeira fase da circulação, agora Hooker revisita algumas cidades e chega a outras do Brasil e exterior. Em São Paulo, retorna para dois shows na Casa Natura Musical, onde havia feito lançamento do álbum.
Falamos sobre a “despedida” da turnê, o sucesso de Flutua, sua atuação política e peguei dicas pra fazer amarração de boy magia.
Como está seu “Coração”?
Meu “coração” está feliz e satisfeito com o resultado desta turnê. É uma despedida deste show e também do álbum. Reuniu faixas bem recebidas pelo público. Flutua foi eleito o Clipe do Ano pelo MTV MIAW 2018.
Flutua tornou-se um hino em tempos de intolerância.
Encaro essa repercussão, além da espontaneidade dos compartilhamentos nas redes sociais, como um sinal de que as pessoas estão mais atentas ao respeito a que merecem, sobretudo quanto a amar.
O que mudou na sua vida e na sua carreira ao ser nomeado campeão da igualdade pela campanha da ONU Livres & Iguais no Brasil?
Cresci literalmente dentro da comunidade LGBTQ. Meus pais sempre tiveram muitos amigos e parceiros de trabalho LGBTQ. Fui uma criança e um adolescente gay que teve o imenso privilégio de ser aceito e celebrado dentro de casa. Receber este título das Nações Unidas, agora por minha música e meu trabalho social, foi uma honra imensa. Mas também uma grande responsabilidade. A batalha ainda está muito longe de ser vencida em vários âmbitos. A luta contra a intolerância tem que se dar todos os dias.
Onde seu trabalho se insere nestes rumos que a música brasileira está tomando?
Não saberia especificar onde minha música se insere. Minha carreira tem sido bem atípica nesse sentido. Sou um artista nordestino, gay e 100% independente. Mas, ao mesmo tempo, minhas músicas têm obtido grande aceitação no mainstream, em trilhas de novelas e filmes, milhões de streamings nas plataformas, shows que esgotam ingressos no Brasil e também fora do país. Só sei dizer que é absolutamente maravilhoso ver que a nova música brasileira que bomba aqui dentro e fora é, majoritariamente, produzida por mulheres, negros e pessoas LGBTQ ou artistas que são aliados a essas causas. Isso apenas demonstra que a música no Brasil sempre foi um grande front de resistência a um país que é excludente, elitista, racista, fundamentalista, machista e homofóbico em suas próprias raízes.
Hooker e a banda formada por Artur Dantas (teclados e violões), Felipe Rodrigues (guitarras), Thiago Duarte (percussão), Joana Cid (baixo), Eduardo Guerra (bateria), Neris Rodrigues (trombone) e Alan Ameson (trompete) se apresentam em Brasília, Goiânia, Salvador, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba e Campinas, antes de seguir para a Europa.
Como talvez demore pra gente se falar de novo, não titubeei em desentalar uma pergunta, cuja resposta é de grandíssimo interesse público!
Seja sincero: a macumba feita em 2015 para amarrar o “maldito” funcionou? Se sim, conta como é que se faz uma boa amarração?
[Risos] Bem, na verdade, o maior feitiço é a química entre os que se amam e se querem. Isso sim é tiro e queda.
Turnê Coração, com Johnny Hooker. Arena Futebol Clube (SCES trecho 03 lote 01, 70200–003 Brasília). Livre. 120 min. 17 de maio. Sexta e sábado, 22h. R$ 50 a R$ 90. Confira a agenda completa da turnê.