Exibindo a montagem

Exposição coletiva “CKD — Completely Knocked Down” transforma o MAMAM em linha de montagem e conecta obras de artistas do Recife e de Bremen, na Alemanha

Andrei Reina
Revista Bravo!
3 min readMar 12, 2020

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Contêiner utilizado na exposição CKD (Foto: Divulgação)

Na indústria automobilística, é chamado de completely knocked-down o conjunto de peças desconectadas de um veículo. Fabricadas em separado, com frequência em lugares diferentes para diminuir custos, elas recebem a montagem apenas no local de destino, onde tomam a forma do produto final.

Inspirados por esse método de produção típico do capitalismo globalizado, os artistas Francisco Valença Vaz e Rebekka Kronsteiner conceberam o projeto CKD — Completely Knocked Down — Recife Bremen Connection, que será exposto no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM) a partir de 18 de março e que promove a criação coletiva de artistas do Recife — incluindo o veterano Paulo Bruscky — e de Bremen, na Alemanha.

Para a exposição, obras dos nove artistas foram desmontadas e transportadas até o museu em pequenos contêineres que serão incorporados na montagem. “A exposição trabalha conceitos relacionados a globalização e ao transporte internacional de obras de arte”, explica Francisco Vaz. “O título vem do termo industrial para transporte de pedaços de um objeto desmontado, e assim desmontamos nossas obras e incorporamos esta ideia”.

Márcio Almeida, artista envolvido no projeto, explica que a mostra “parte da premissa de que as obras serão montadas durante o processo de montagem da exposição”. O trabalho, portanto, começa já no transporte e antes do dia da inauguração, o que motivou os idealizadores a envolver o público já neste período inicial.

“Durante duas semanas nós tivemos um ateliê aberto, encontros abertos para o público experimentar e estar junto com os artistas, pensando as obras e também a criação de uma obra coletiva, a partir das embalagens nas quais esses fragmentos de obra vieram”, diz Almeida.

Vaz salienta que, além da nacionalidade entre os grupos de brasileiros e alemães, há diferenças geracionais e de suporte entre os artistas. Neste sentido, os pernambucanos Bruscky, Sílvio Hansen e Maria do Carmo Nino — além de Vaz e Almeida — e os germânicos Kronsteiner, Christian Haake e Tobias Heine se encontraram na diferença para conceber uma “instalação coletiva”.

“Os artistas pertencem a quatro diferentes gerações e trabalham com obras que variam entre pintura, escultura, desenho, vídeo e instalação. A junção dessas obras, que apresentam um contraste entre suas épocas, podem neste contexto refutar ou até apresentar congruências inesperadas”, aposta Vaz.

Há ainda a presença de trabalhos individuais, como os dois elaborados por Márcio Almeida para a exposição. Em Patuá, o artista reutilizou uma caixa que serviu para o transporte de obras entre Bremen e Recife para criar um espaço “meio casa, meio lugar de ficar”. Com rodízios acoplados na parte inferior, a casa-caixa pode ser movimentada pelo público dentro do museu.

Já para conceber Sobre o Mesmo Chão de Estrelas, Almeida entregou madeiras novas em um estande de tiro e dali levou tábuas crivadas de bala. “O que me instigou nessa troca é que no instante em que a bala perfura e destrói a madeira, ela ao mesmo tempo constrói uma estética. Para mim essa figura que aparecia me remetia a mapas”, diz o artista, que elaborou “um mapa-múndi de canto nenhum” com o material.

Antes da abertura, os nove artistas se reúnem na Avenida Rio Branco, no Recife Antigo, para uma performance coletiva e ao ar livre. Intitulada Contêiner Sinfonia, a ação envolve a abertura de uma caixa de ferramentas — com martelos, furadeiras e fitas métricas — para produzir sons que serão captados e, em seguida, utilizados como trilha sonora da exposição no MAMAM.

Exposição CKD — Completely Knocked Down. Abertura: 18/3, às 19h. Até 03/5. Terça a sexta, das 12h às 18h, e sábado e domingo, das 13h às 17h. MAMAM: Rua da Aurora, 265 — Boa Vista.

Performance Contêiner Sinfonia. 14/3, às 16h, no Boulevard Rio Branco (Avenida Rio Branco — Bairro do Recife).

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