Imagens do êxodo

Almir de Freitas
Revista Bravo!
Published in
3 min readApr 14, 2017
Fronteira da Grécia com a Macedônia

O Museu da Imagem do Som exibe as imagens de refugiados de guerra que renderam o Prêmio Pulitzer de 2016 ao fotógrafo paulista Maurício Lima

Foi em 2016 que o fotógrafo paulista Mauricio Lima recebeu — com surpresa — a notícia de que havia ganhado o prêmio Pulitzer de Fotografia por seu ensaio registrando o êxodo de refugiados do Oriente Médio para a Europa. Farida, um Conto Sírio, exposição que acaba de ser aberta no MIS em São Paulo, reúne 33 dessas imagens, formando um documento contundente sobre um dos maiores dramas do nosso tempo.

Idomeni, Grécia

Foram seis meses de trabalho: primeiro, Lima passou passou 38 dias entre o norte da Síria e o Iraque, seguindo depois para as zonas fronteiriças que os refugiados usavam para tentar escapar da guerra— Grécia, Turquia, Bulgária, Sérvia, Macedônia, Hungria — e os destinos finais—Alemanha, Suécia, Noruega, Áustria. Em destaque está a história da família síria Majid, cuja peregrinação terminou na cidade de Karlstad, na Suécia, onde nasceu a menina Farida, que dá nome à exposição. “É um ensaio sobre o comportamento humano em busca de dignidade”, diz Maurício, que respondeu a algumas perguntas da Bravo! por e-mail.

Além do risco de vida, qual o maior desafio de cobrir zonas de guerra?

De contribuir com algo significativo, que faça parte da história como documento, como memória, e que, portanto, possamos refletir sobre o que o ser humano é capaz de produzir no seu pior.

Mithymna, Grécia

Que precauções de segurança você tomava?

A do bom senso. Nenhuma fotografia vale interromper algo tão magnífico que é o significado de viver.

Que histórias que você testemunhou e que mais te marcaram?

As que interferiram diretamente na vida das pessoas que fotografo, como a família Majid, da Síria, exposta nesse ensaio no MIS, além do menino iraquiano Ayad Karim, em 2004, e a dona de casa ucraniana Irina Dovgan, em 2015, entre outras.

Idomeni, Grécia

Dos países que você cobriu, qual tem a situação mais dramática, na sua avaliação?

Síria, uma catástrofe humana que já dura seis anos, um cultura dilacerada irresponsavelmente e que fingimos não aceitar.

Você considerava ganhar o Pulitzer? Ou foi surpresa?

Não considerava. Sou fotógrafo por convicções próprias, não para ganhar prêmios. Seria um erro pensar ao contrário.

Gevgelija, Macedônia

No que você está trabalhando agora?

Continuo a documentar sociedades afetadas por conflitos, que é o principal projeto a longo prazo que desenvolvo, desde a invasão dos Estados Unidos no Iraque, em 2003.

O fotojornalismo tem poder contra a guerra?

A fotografia tem o poder de sensibilizar, de causar questionamentos, e a partir daí contribuir para que um processo violento possa ser interrompido, não torne a se repetir.

Budapeste, Hungria

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Farida, um Conto Sírio, de Mauricio Lima. Museu da Imagem e do Som. Terça a sábado, das 12h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Até 28/5. R$ 6 (inteira)

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