Millennials em paranoia
“Cat Person e outros contos”, de Kristen Roupenian, se debruça sobre os dilemas afetivos de uma geração frágil e instável
Consentimento, crise existencial, masculinidade frágil, sexo e dependência de prazer. As palavras, que dominam as relações interpessoais da geração millennial, são pontos do livro Cat Person e outros Contos, de Kristen Roupenian, que a Companhia das Letras acaba de lançar no Brasil.
No vídeo da semana, falo sobre como as histórias retratam os dilemas dessa turma, e sua importância para entendermos que o prazer serve de ferramenta para o autoconhecimento.
“Ele mostra como essas pessoas pensam sobre o sexo, e sobre o reflexo desses pensamentos sexuais na vida deles, no corpo deles, no dia a dia, nas relações interpessoais. Uma vez a Eliane Robert Moraes, a acadêmica que se tornou grande estudiosa da história do erotismo na literatura, disse que tem algo no erotismo que é perigoso, que é como dinamite. Para mexer com dinamite é preciso ter muito cuidado, delicadeza. E que a tal da moralização é uma capa. E quando a gente moraliza, acaba perdendo de se conhecer. Então os contos desse livro, apesar de não serem eróticos, mas tem a dosagem na medida pra sabermos como aquilo interfere na mente dos jovens de toda uma geração”.
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“Alguns personagens irritam. Algumas histórias também. Mas não dá pra culpar a autora por isso. Algumas irritam porque a gente se identifica, a gente reconhece as dores e delícias, digamos assim, de viver nessa era pós-moderna, de relacionamentos líquidos. Com os outros, e com nosso interior mesmo. Cat Person e os outros contos do livro, em alguns momentos, parecem muito superficiais. E são, porque o livro é um retrato, uma sátira, dos millennials: dramáticos, inseguros, instáveis, e, apesar de tudo, inegavelmente encantadores”.
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Cat Person e outros Contos, de Kristen Roupenian. Tradução: Ana Guadalupe. Companhia das Letras, 256 págs., R$ 44,90.