O som mágico de Christian Fennesz

Em entrevista, o músico austríaco fala de sua trajetória e dos shows que faz nesta semana em São Paulo e no Rio

Guilherme Werneck
Revista Bravo!
3 min readDec 5, 2018

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Fennesz ao vivo em Lisboa em 2012, em foto de Luís Martins

Ao longo das últimas décadas, o austríaco Christian Fennesz conseguiu algo raro: encontrar um som de guitarra ultrapessoal, que mescla em suas composições com música eletrônica, trabalhando camadas de som que criam ambientes mágicos, muitas vezes abrindo espaços meditativos, em que a guitarra, cristalina ou cheia de efeitos, toma a frente.

Desde os anos 90, quando deixou a banda de rock experimental Maische e se filiou ao selo Mego, incorporou a seu som a improvisação com laptop. Nessa época, participa de um trio com o norte-americano Jim O’Rourke e com Perter Rehberg, cabeça do Mego. The Magic Sound of Fenn O’Berg (1999), The Return of Fenn O’Berg (2002) e In Stereo (2010) podem ser considerados como alguns dos discos mais desafiadores de improvisação eletrônica, alternando momentos rascantes com passagens sutis.

A colaboração com outros artistas sempre fez parte de sua trajetória, o que ele considera “inspirador e libertador”. Entre elas se destacam discos feitos com Jim O’Rourke, Ryuichi Sakamoto, Keith Rowe, Oren Ambarchi, David Sylvian, Sparklehorse e King Midas Sound. Essas colaborações amplificam suas próprias pesquisas sonoras inauguradas com o álbum Hotel Paral.lel (1997) e amadurecida em discos lançados pelos selos Mego ou Touch como Endeless Summer (2001) Venice (2004) e Bécs (2014). Prestes a lançar o álbum Agora, Fennesz falou com a Bravo! por e-mail sobre os shows que faz em São Paulo, no Sesc Pompeia, e no Rio no Festival Novas Frequências.

Sem contar seus álbuns solo, você tem uma lista longa de colaboradores, que vão do projeto Fenno’berg até It’s Hard For Me To Say I’m Sorry, só para citar dois com Jim O’Rourke. Qual a motivação para buscar essa colaborações?

É provavelmente a necessidade de interação humana com outros músicos. Quando uma pessoa passa muito tempo sozinha num estúdio como eu, pode ser muito inspirador e libertador trabalhar com outros músicos.

Neste ano você lançou Station One, com uma versão editada de uma instalação feita para a Red Bull Music Academy. Como foi o processo de transformar uma peça que tocava em loop o dia todo em um espaço de arte em uma faixa? Que aspectos da experiência ao vivo você conseguiu cristalizar no disco?

Na verdade, é mais ou menos a mesma faixa no disco. Pensei que se uma peça funciona num álbum, porque não funcionaria em loop em um instalação? Mas, para ser sincero, não conseguir ir para ouvi-la naquele espaço. Espero que tudo tenha corrido bem…

No ano passado, você remixou uma faixa de Async, de Ryuichi Sakamoto. E, claro, ao longo dos anos você lançou Cendre, Flumina e muitas outras parcerias entre vocês dois. O quanto a música de Sakamoto é importante para você? O minimalismo japonês é uma inspiração, em que sentido?

Desde os anos 80, a música do Ryuichi me fascina e nós tocamos muitas vezes juntos. Eu até toquei guitarra na Yellow Magic Orchestra por um tempo. O que mais me inspira é a habilidade dele de deixar espaço entre as notas, e seu timing incrível. Dele pode alongar um tom por séculos e ainda assim o resultado funciona perfeitamente.

Muito da sua música nos convida para um estado meditativo. Como você se sente em relação à meditação e a expansão da mente fora do ambiente musical?

Pode ser bom pra muita gente. Pra mim, música é a única meditação que eu preciso.

Como é estar de volta ao Brasil?

Há dez anos, fui a São Paulo e fiquei apenas alguns dias. Estou muito curioso e ansioso para voltar ao país.

Você ouve música brasileira?

Sim, há muito tempo. Claro que ouvi todos os clássicos brasileiros. Lá atrás, meu disco favorito era um antigo da Joyce. Não conheço muito da música brasileira feita hoje, mas quero investigar quando estiver aí.

Quais são seus planos para as apresentações no Novas Frequências e no Sesc Pompeia?

Acabei de terminar um novo álbum, Agora, então meu plano é tocar partes dele.

Serviço

Fennesz

Sesc Pompeia

6/12 às 21h30

Ingressos: R$ 30

Festival Novas Frequências

7/12 às 20h no Teatro Ipanema

Ingressos: R$ 60 e R$ 30 para estudantes

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