Professor Duprat
Com Tim Bernardes, Luiza Lian, Jaloo e Tiê, o maestro Rogério Duprat recebe homenagem no Sesc Pompéia nos 50 anos de “Tropicalia”
Rogério Duprat tem um lugar muito especial na minha formação de ouvinte de música brasileira. Antes de reconhecê-lo como o maestro que arquitetou a geléia geral brasileira, ao emprestar a explosão psicodélica de seus arranjos ao movimento tropicalista, Duprat e seu irmão Régis eram os curadores de uma série de LPs para o selo Marcus Pereira em que esquadrinhavam a três séculos música brasileira, Valsas & Polcas, Dobrados e A Béla Época da Música Brasileira, Maxixes. Não sei bem o porquê de ser atraído por esses discos na infância, nem a razão pela qual o meu pai, que tinha pouquíssimos discos e os ouvia com muita parcimônia, tinha esses LPs na sua diminuta coleção.
Uma música em especial, encontrada nesses LPs, tem ainda mais importância na construção dos meus afetos. A valsinha Dolente, de José Carlos Dias, bisavô de minha mulher, era dessas pequenas músicas preciosas, que me encantavam anos antes de saber que a bisneta do compositor seria a pessoa com quem eu escolheria, há mais de 20 anos, viver e ter filhos. A execução dessa valsa na tarde em que nos casamos, num ensolarado solstício de inverno nos anos 1990, ainda é das melhores memórias que guardo na vida.
Todo esse preâmbulo pessoal é para dizer da felicidade de ver Rogério Duprat recebendo uma homenagem à altura da sua importância no espetáculo Professor Duprat — O Maestro da Invenção, show que irá acontecer nos dias 6 e 7 de setembro no Teatro do Sesc Pompéia.
Profundo pesquisador da música brasileira, compositor de vanguarda, tradutor de John Cage, Rogério Duprat é um dos responsáveis por quebrar das barreiras entre o erudito e o popular. E seus arranjos, seja para o magnífico Construção de Chico Buarque, como para os tropicalistas, ou para os Mutantes, não perdem a validade. Ainda hoje estão entre o que melhor se produziu em termos de música brasileira, justamente porque, numa época pesada, em que era difícil sonhar, sua visão musical era duplamente disruptiva e subversiva. Primeiro por serem arranjos realmente psicoativos, multicoloridos, dramáticos, que dialogavam com e amplificavam a potência das letras de Caetano, de Chico, a irreverência dos Mutantes. Depois por romper as muitas camadas de preconceito com a produção artística das camadas mais marginalizadas da população, seja o samba ou o iê-iê-iê, a música popular na raiz. Essa síntese está super presente em um dos discos menos falados e mais interessantes da música brasileira, o genial A Banda Tropicalista do Duprat, lançado em 1968.
Concebido por Alexandre Matias, jornalista e colaborador da Bravo!, o show pega carona nos 50 anos do Tropicalia ou Panis et Circencis para apresentar, de forma não-cronológica, algumas de suas composições mais famosas. Com direção musical de Arthur Decloedt e Charles Tixier, o show terá nas vozes Curumim, Tiê, Jaloo, Tim Bernardes, Jonas Sá e Luiza Lian. Eles serão acompanhados por uma banda formada por Charles Tixier (Charlie e os Marretas), Arthur Decloedt (Música de Selvagem), Filipe Nader (Trupe Chá de Boldo), Thiago França (Metá Metá), Maria Beraldo, Mariá Portugal e Rafael “Chicão” Montorfano (Quartabê) e André Vac (Grand Bazaar).
As minhas expectativas estão altas. Então fiz uma pequena playlist com dez momentos sensacionais dos maestro:
Serviço
Professor Duprat — Maestro da Invenção
Dias 6 e 7 de setembro. Quinta, às 21h, e sexta, às 18h
Teatro do Sesc Pompéia
Ingressos: R$9 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$15 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$30 (inteira).
Venda online a partir de 28 de agosto, terça-feira, às 12h.
Venda presencial nas unidades do Sesc SP a partir de 29 de agosto, quarta-feira, às 17h30.