Sínteses e surpresas

Assis Benevenuto fala do processo de criação do Grupo Quatroloscinco — Teatro do Comum e da relação com o público

Beatriz Goulart
Revista Bravo!
3 min readOct 17, 2017

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Dramaturgo, ator e diretor, Assis Benevenuto está, junto com Marcos Coletta, há dez anos à frente do Grupo Quatroloscinco — Teatro do Comum, de Belo Horizonte. O grupo, que ainda conta com os atores Rejane Faria, Maria Mourão e Ítalo Laureano, tem no currículo espetáculos como Get Out! (2013), Humor (2014), Ignorância (2015) e Fauna (2016). Além disso, Assis é parceiro do grupo Espanca! desde 2009 no espetáculo Amores Surdos e na cena curta Onde está Amarildo? — entre outras empreitadas teatrais.

Em 2015, uma aventura fora do palco — mas nem tanto. Junto com Vinícius Souza, criou a editora independente Javali, voltada para teatro — textos dramatúrgicos, teoria, traduções, memórias. Entre os volumes estão a Coleção Eid Ribeiro, com 15 peças de teatro e mais de 40 crônicas. E a biografia da atriz Teuda Bara, integrante do grupo Galpão. O próximo trabalho a ser publicado será sobre Grace Passô, intitulado Vaga Carne.

Poderia falar um pouco sobre o processo de criação coletiva do Quatroloscinco — Teatro do Comum?

Nós iniciamos sempre discutindo o que está acontecendo, os que nos acomete, o que nos assusta, o que está perto e longe. Dessa forma, somos os nossos primeiros críticos e espectadores. É nessa etapa que surgem as primeiras ideias e experimentos. A partir daí nós convidamos amigos, outros artistas, para acompanhar a criação. Em momento algum nós deixamos de exercer todas estas funções, mas com a criação em curso, outras pessoas passam a participar desse processo. Muitas vezes o teatro está em perspectiva: sabemos que queremos algo específico, mas o que temos, o que sabemos, ainda é uma semente, está em processo. Ensaios compartilhados durante a criação são sempre reveladores. Quando estreamos já não sabemos muito quem vai ver e criticar. Nestes 10 anos de atividades continuadas muita gente já compartilhou conosco das nossas criações. Mas de uma coisa sabemos: para fazer, pensar e criticar o teatro, é preciso chafurdar nele.

Como conciliar fugacidade com densidade, na literatura e no teatro?

Pela síntese, como um golpe de arte marcial, algo que seja objetivo, certeiro, quase invisível. Mas por que conciliar essas duas naturezas? Para quê, para quem? Seria possível separar essas naturezas das demais? De qualquer forma, essa é uma tarefa que demanda trabalho e lucidez. A ideia de síntese me parece potente, mas depende do objetivo. Às vezes é preciso transbordar, ser prolixo para confundir — para borrar os limites do visível, do sensível, para chegar a um lugar interessante, romper com a limpeza dos gestos, do minimalismo das ideias e criar um outro lugar possível.

Como imprimir ritmo no tempo das suas peças?

Às vezes fazendo o silêncio aparecer, às vezes observando o nosso próprio ritmo, e também o dos espectadores. Algumas peças do Quatroloscinco propõem uma relação direta com o público. Trabalhamos então com tempos diferentes, com surpresas a cada apresentação. Um recurso interessante é atuar numa dramaturgia não linear, que convide o espectador dar saltos na linha de raciocínio que a peça estava propondo.

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