Sem dinheiro e sem fronteiras

Artistas da dança da América Latina se reúnem para trocar experiências e realizar apresentações em São Paulo

Rafael Ventuna
Revista Bravo!
2 min readOct 21, 2019

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Chilenos da Plataforma Mono (Divulgação)

A sexta edição da Dança à Deriva — 6ª Mostra Latino-Americana de Dança Contemporânea começa nesta segunda (21) no Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo, localizado próximo ao Theatro Municipal.

A ideia parecia um tanto absurda em 2014. Ano em que a produtora cultural Solange Borelli realizou a primeira edição. Afinal, como promover uma mostra artística com artistas se deslocando pela América Latina, sem patrocínio e sem pagamento de cachês? Existe um interesse dos artistas em estar juntos para trocar, compartilhar experiências e saberes e criar novas conexões sem que ninguém pague ou arrecade por isto?

A resposta é SIM. E, neste modelo com a ativação de várias estratégias da Economia Colaborativa, surgiu e avança à deriva uma utopia dançante.

Em 2019, 120 artistas, 24 companhias e 9 países. 28 peças. 3 laboratórios. 4 oficinas. 1 mostra de vídeos. Lançamentos de livros e publicações. Bate-papos e um fórum. A Dança à Deriva tornou-se a maior mostra de dança contemporânea latino-americana realizada em todo o continente.

Solange explica que o formato só é possível devido à rede que é formada com parceiros e apoiadores. “Para a hospedagem, por exemplo, é uma possibilidade que artistas que moram em São Paulo abram suas casas para receber os estrangeiros”. Desta vez, vêm artistas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai e Brasil.

Durante uma semana, os artistas convivem intensamente. Assistindo os trabalhos uns dos outros. Repassam mutuamente técnicas. E confraternizam.

A produtora fala das críticas que já recebeu. Segundo ela, essas avaliações vêm em maioria de artistas da cidade de São Paulo que não se aproximam do projeto. “Vejo artistas criticando em suas obras o capital, mas continuam servindo a ele”, rechaça Solange, que calcula que os ganhos artísticos, políticos, culturais e afetivos são bem superiores ao financeiro.

Ao final do evento, há uma reunião geral que ganhou o nome de “conversatório”. Os artistas-participantes trocam feedbacks e expõem suas opiniões sobre a experiência. “Sempre questiono se o pouco recurso que levanto deveria ser redistribuído como ajuda de custo. Mas, os artistas dizem que isso é irrelevante. Que o importante é a oportunidade de estar juntos”, pontua a produtora.

Para o público, é uma oportunidade de ver um recorte do pensamento e da pesquisa latino-americana que observa, questiona e traduz poeticamente a diversidade étnica e a pluralidade. E também conferir que a ausência de patrocínio impede a realização de um formato de festival. As outras opções continuam válidas.

Dança à Deriva 2019 – 6ª Mostra Latino-Americana de Dança Contemporânea. 21 a 27 de outubro. Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo. Ingressos grátis. Programação completa neste link.

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