Sofrimentos e finais felizes

O jornalista Dirceu Alves Jr. fala sobre a biografia de Elias Andreato, ator e diretor que saiu da pobreza no interior do Paraná para se tornar um dos grandes nomes do teatro brasileiro

Almir de Freitas
Revista Bravo!
4 min readApr 5, 2019

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Dirceu Alves Jr. (Foto: Guilherme Queiroz)

Com lançamento na próxima segunda-feira (8), às 19h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, Elias Andreato, A Máscara do Improvável põe um ponto final num projeto de quase cinco anos. Começou em 2014, quando o crítico de teatro da Veja São Paulo, Dirceu Alves Jr., fez uma série de entrevistas com o ator e diretor. Cheia de histórias, a biografia faz ainda um percurso mais longo: a de Elias — da infância pobre no Paraná até hoje, quando, aos 64 anos de idade, é dos maiores nomes do teatro brasileiro. São mais de 100 as montagens ligadas a sua carreira, lado a lado com nomes como Paulo Autran, Irene Ravache, Juca de Oliveira, Jorge Takla e Gabriel Vilela.

"Tem muito sofrimento, mas vários finais felizes e isso faz dele um personagem fascinante", diz Dirceu, que fala sobre a escolha, o processo de trabalho e, também, sobre o que essa trajetória singular nos conta do Brasil.

Por que a escolha de Elias Andreato?

O Elias é um personagem surpreendente. É um cara muito fechado, muito introspectivo, então acredito que muita gente, inclusive, próxima a ele não tem conhecimento de passagens importantes da sua história. A vida do Elias é um folhetim trágico que ele consegue injetar boas doses de comédia em nome da sobrevivência, cheio de viradas. É o menino pobre, filho de um alcoólatra e de uma mãe analfabeta, que chegou a São Paulo aos 3 anos, foi criado em cortiços, trabalhou desde criança. Um dia, vê Maria Bethânia em um show e decidi virar artista. Procura o teatro amador na periferia, vira camareiro de Antonio Fagundes, contrarregra da companhia de Renato Borghi e Esther Góes. Quando a carreira decola, descobre um grave problema de saúde, a hepatite C, que precisa controlar até hoje. E o menino que se encontrou vendo Bethânia, um dia conhece o ídolo e, anos mais tarde, ajuda a criar um show dela. Tem muito sofrimento, mas vários finais felizes e isso faz dele um personagem fascinante.

É uma biografia autorizada?

Sim, nem teria interesse em fazer uma biografia que não fosse autorizada. O que me encanta é estabelecer um diálogo com o personagem, ganhar a sua confiança e ter a sua própria visão da vida para depois criar a minha leitura do que aquele cara viveu.

Como foi a pesquisa? Que acervo você consultou, quantas entrevistas?

O livro nasceu de uma série de entrevistas com o próprio Elias durante três meses de 2014. Foram encontros semanas de mais ou menos três horas, com o gravador ligado e a conversa rolando. Nunca falhamos. Se ele tinha algum compromisso na manhã de sexta, marcávamos outro dia. Foram umas 30 horas de gravações. Um tempo depois, comecei a entrevistar pessoas importantes na sua vida e carreira. A mãe, os irmãos mais próximos, a cantora Maria Bethânia, os atores Renato Borghi, Antonio Fagundes, Celso Frateschi, as atrizes Esther Góes e Karin Rodrigues, os diretores Jorge Takla, Marcio Aurelio, Vivien Buckup, Maria Abujamra e por aí foi… São mais ou menos uns 25 entrevistados. A pesquisa, na verdade, começou depois das conversas com o Elias para checar dados, descobrir outros fatos, consulta a acervos de jornais. É um livro basicamente de apuração.

Das histórias que você conta no livro, qual a sua preferida?

Eu tenho especial predileção por um capítulo chamado Uma Maratona para Edith Siqueira, que trata dos últimos momentos de vida dessa atriz, que foi uma pessoa muito importante para o Elias. E o final desse capítulo traz Elias e Celso Frateschi, viúvo de Edith, correndo a São Silvestre como uma homenagem a ela.

O que a trajetória de Elias nos conta sobre o Brasil?

Que nada é fácil para quase ninguém, mas que tudo é muito mais difícil quando você não pertence a uma elite ou, pelo menos, a uma classe média mais estável. Por outro lado, Elias também prova que quase tudo pode ser possível. Ele enfiou na cabeça que seria artista e conseguiu. Contou com a ajuda de muito pouca gente e construiu uma carreira autônoma, em que, na maior parte das vezes, só faz aqueles trabalhos que realmente deseja. E esse é o verdadeiro sucesso, não?

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Elias Andreato, A Máscara do Improvável, Dirceu Alves Jr. Editora Humana Letra, 192 págs., R$ 43.

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