Um lindo mapa do Brasil psicodélico

Feito com financiamento coletivo, o livro bilíngue “Lindo Sonho Delirante”, de Bento Araujo, seleciona 100 discos fundamentais da psicodelia brasileira, lançados de 1968 a 1975.

Guilherme Werneck
Revista Bravo!
3 min readDec 1, 2016

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Durante dois anos, o jornalista, pesquisador e colecionador Bento Araujo resolveu se embrenhar pelo mundo da psicodelia brasileira. Uma tarefa que seria impossível sem a internet. Primeiro porque Lindo Sonho Delirante, escrito em português e inglês, foi feito graças a uma campanha bem-sucedida de financiamento coletivo. Depois porque, como o próprio Bento conta, essa pesquisa seria impossível sem a internet, tanto para alcançar uma rede mundial de colecionadores, quanto para buscar informações em sites como Brazilian Nuggets, Senhor F, Mopho Discos e Vinyl Tree.

Além das críticas dos 100 discos, o livro traz muitas histórias que ajudam a entender um dos períodos mais inventivos da produção musical brasileira, que chega à mente manifesta não só através dos alucinógenos mas também do transe antropofágico representado pelo tropicalismo. É um mapa super interessante da música mais criativa produzida no país durante dos anos de chumbo da ditadura.

Lindo Sonho Delirante contém 232 páginas, é ilustrado com as capas dos LPs e dos compactos listados. Custa R$ 120 e pode ser comprado pelo site poeirazine.com.br/loja/lsd. A Bravo! conversou com Bento Araujo para entender o processo de fazer o livro e situar a psicodelia na tradição musical brasileira.

Boa parte dos discos psicodélicos brasileiros acabaram se confundindo com o nascimento do rótulo MPB, sobretudo a partir dos anos 70, e foram ao mercado chamados de moderna música brasileira ou música popular brasileira. Quais foram os elementos que fizeram você decidir se um disco era psicodélico?

O mote do livro foi contextualizar os cem discos daquela antropofagia tropical e criar uma cena com a bênção da retrospectiva. O caminho foi priorizar artistas e bandas que expandiram a mente em nome da arte, em plena era de sangrenta repressão militar e de extremo preconceito social. Isso tem relação com os alucinógenos, mas também com o simples desejo de experimentar artisticamente, atuando dentro daquela estética psicodélica em voga no período.

Muitos dos discos que você apresenta no livro ainda são bem difíceis de encontrar, sobretudo os compactos. Como foi o seu garimpo desse material e que fontes você sugere para quem quer ir fundo no tema da psicodelia brasileira?

O garimpo foi árduo, porém extremamente prazeroso. Como trabalho com música há muitos anos, tenho vários amigos colecionadores espalhados pelo mundo. O que eu não tinha na minha coleção eu acabava tendo acesso graças a eles. Quanto às fontes, sugiro os sites e blogs especializados (Brazilian Nuggets, Senhor F, Mopho Discos e Vinyl Tree), os selos especializados nesses relançamentos (Mr. Bongo, Shadoks, Polysom, etc.) e as lojas de discos, infindáveis fontes de informação musical.

Ficou muita coisa de fora da sua lista? Quais foram as ausências mais doídas?

Sim, ficou, mas costumo dizer que o bacana das listas é sempre ressaltar o que ficou de fora. A ausência mais doída foi justamente a de um dos meus discos psicodélicos favoritos, Flaviola e o Bando do Sol. Muita gente pensa que o disco saiu em 1974, mas como na verdade saiu em 1976, precisou ser deixado de fora do livro, que vai de 1968 até 1975. Essa ausência doeu.

No mundo hoje temos um revival do som psicodélico dos anos 60 e 70, com bandas como Wooden Shjips e Tame Impala, por exemplo. Você vê reflexos disso no Brasil? Quais bandas você considera psicodélicas hoje?

Estamos vivendo um grande período da música psicodélica, em todo mundo, com festivais, bandas e cenas distintas. No Brasil, a cena anda confiante e atuante, e eu posso citar bandas e artistas como Anjo Gabriel, Plástico Lunar, Boogarins, Trem Fantasma, Cidadão Instigado, Cristiano Varisco, Supercordas, The Outs e muitas outras.

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