Ouça, se puder e quiser

Soul, jazz e disco: Ramon Morris, Syncro Jazz e Tee Mac

Ramon Morris, Sweet Sister Funk (Groove Merchant, 1973)

Primeiro e único trabalho do saxofonista tenor, Ramon Morris, Sweet Sister Funk, lançado em 1973 pela gravadora Groove Merchant, é possivelmente um dos grandes momentos do jazz-funk. Gravado em apenas uma sessão de estúdio ao-vivo, o disco traz sete faixas com uma sincronia perfeita entre grooves e arranjos, que vão do jazz ao funk, com absoluta originalidade. Delineados pelo piano elétrico de Albert Dailey — famoso por tocar com o quinteto do saxofonista Gary Bartz — ,e o trompete de Cecil Bridgewater. O LP apresenta quase todos os temas de autoria de Morris, e uma versão muito interessante de “People Make The World Go Round”, clássico do quinteto estadunidense The Stylistics. Tem no Deezer e no Spotify. No Youtube também tem algumas faixas.

Detalhe: o disco original é extremadamente raro — uma cópia pode sair em média por 500 dólares. Mas é possível encontrar reedições a preços bem honestos, se você não tem saco para essas bobagens de LPs, como eu tenho.

Syncro Jazz, Live (Poitou, 1982)

Grupo instrumental paulista formado por Lilu Aguiar (piano), Peter Wooley (baixo), Nestico Aguiar (sax tenor), Vidal (sax e flauta), Dagmar (trompete) e Ronny Machado (bateria), fez parte da cena instrumental paulista do final da década de 1970 e início da década de 1980, em que surgiram grupos como Pé Ante Pé, Banca Metalurgia, Divina Encrenca, Grupo Um, entre outros. O LP gravado ao-vivo no lendário teatro do Lira Paulistana, traz uma sonoridade soul-jazz, e foi produzido pelo baterista e compositor Amado Maita, que chegou a tocar bateria posteriormente no grupo.

Detalhe: não tem nem no Deezer nem no Spotify, mas, algumas faixas no YouTube, sim. Se você gosta de jazz, recomendo audição imediata.

Tee Mac, Nepa Oh Nepa (Hot Casa Records, 2016)

Compilação lançada pelo selo holandês Hot Casa Records do lendário flautista nigeriano Tee Mac Omatshola Isel. Tec Mac estudou composição erudita na Universidade de Lausanne, na Suíça. Gravou o primeiro LP em 1974, United, pela gravadora Polydor. Conterrâneo de Fela Kuti, o músico traz em seu trabalho uma grande influência de soul, funk e disco, os quais funde com com ritmos africanos, sendo seu trabalho conhecido por vertentes do afro-soul e afro-funk. Ouça sem moderação.

Detalhe: nem todo soul e funk feitos na África são afrobeat, aliás seu universo é muito reduzido, está ligado a trajetória do músico e ativista nigeriano Fela Kuti. Em outra coluna, falarei mais sobre o assunto.

Marcel Fracassi, é bibliotecário pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp/SP), com especialização em gestão e políticas culturais pela Universidade de Girona. Atua como pesquisador do Observatório Itaú Cultural. Dirigiu o documentário Música ao Lado. São paulino, fanático por vinil e quase careca.