A câmera possuída de Atividade Paranormal

Leve o terror para casa com você.

Redação
Revista Cine Cafe
15 min readJun 19, 2024

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(Atividade Paranormal, 2007)

Se você por acaso estava selado em alguma tumba ou simplesmente parou de acompanhar filmes de terror desde 2007, eis um breve contexto sobre a franquia Atividade Paranormal (2007 — ), que soube fazer dinheiro como poucas outras.

Atividade o quê?

Escrito e dirigido por Oren Peli, é lançado em 2007 (no Brasil, em 2009) o primeiro filme da maior e mais rentável franquia do gênero found footage e uma das maiores do terror. A franquia já conta com seis filmes, com os quatro primeiros Atividade Paranormal seguidos por Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (2014) e Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma (2015), tendo sua 7° continuação já anunciada — infelizmente, com o lançamento adiado para 4 de março de 2022 devido à crise do Covid-19 .

O lançamento de Atividade Paranormal (2007) vem para balançar o subgênero do found footage (em português, “filmes perdidos”), no qual os filmes são produzidos para se assemelhar a um documentário, emprestando realismo e fertilizando nossa imaginação de forma a aproximar aquele filme do espectador. O gênero é inaugurado nos anos 80 com Holocausto Canibal (1980), mas fica realmente conhecido com A Bruxa de Blair (1999). No entanto, apesar do sucesso de A Bruxa de Blair, o gênero não tem grandes produções até o ano de 2007, quando o sucesso dos found footage lançados nesse ano faz o gênero cair nas graças do público e se tornar bastante explorado dentro do cinema de terror.

Atividade Paranormal também é especialmente importante para consolidar a produtora Blumhouse. Fundada em 2000, a produtora é responsável por obras como Sobrenatural (2010), Whiplash: Em Busca da Perfeição (2014), Corra! (2017), Infiltrado na Klan (2018), entre outros grandes nomes. Seguindo a fórmula do estúdio de filmes de alto nível e baixo orçamento, Atividade Paranormal é produzido com apenas US$15 mil e rende um total de US$ 193 milhões — fórmula essa que se mantém na franquia, que ao todo já rendeu mais de US$ 900 milhões. Agora que já estamos por dentro da máquina de grana, vamos ao que realmente interessa aqui.

(Sobrenatural, 2010)

Brincando com o capeta

Nessa franquia de terror, vamos acompanhar a entidade demoníaca que ficou afetivamente conhecida como Toby, e como tal entidade se aproxima e seduz as crianças enquanto atormenta e mata os adultos à volta. A narrativa da franquia como um todo é completamente fragmentada, não apenas por brincar com a ordem cronológica dos acontecimentos, mas também pelas informações e descobertas dos personagens serem pequenas e frequentemente contraditórias, de forma que parece que em cada filme os protagonistas encontram justificativas e mitos diferentes sobre o demônio, que talvez estejam erradas ou talvez forneçam pistas para o que realmente vem pela frente na história.

No entanto, para não gerar expectativas desnecessárias ao leitor, vou adiantar uma coisa: a história é o menos importante ou interessante desses filmes. Isso é um ponto positivo de Atividade Paranormal, que extrapola na forma (ou seja, a produção e técnicas utilizadas) em detrimento do conteúdo (para colocar de maneira simples, a história contada). Vamos ao resumo dos quatro primeiros filmes e o criativo uso da câmera.

Podem perguntar, “se são seis filmes, por que falar de apenas quatro?”

Bom, acontece que os quatro primeiros filmes são os mais interessantes da franquia. Isso se deve ao fato de que apesar de todos os seis filmes seguirem a mesma fórmula de produção, esses quatro primeiros vão acrescentar e experimentar o uso da câmera de formas diferentes, enquanto os dois últimos vão apenas requentar as boas ideias anteriores. Fica enfatizado que em toda a franquia de Atividade Paranormal as coisas acontecem da mesma forma, a entidade se aproxima da família gerando desconfianças e curiosidades, enquanto progressivamente aterroriza a todos vai se aproximando do personagem que deseja tomar para si, no fim o demônio se dá bem e a família se dá mal.

Câmeras Diabólicas

Atividade Paranormal 1 (Oren Peli, 2007)

(Atividade Paranormal 1, 2007)

O filme começa e somos recepcionados por uma brilhante introdução narrativa. Começamos a filmagem na casa do casal Katie (Katie Featherston) e Micah (Micah Sloat), e não sabemos nada dos motivos daqueles vídeos, vamos entender que o casal estava vivenciando acontecimentos estranhos gradualmente. Essa introdução justifica de forma muito plausível o comportamento obsessivo de Micah em registrar tudo que está acontecendo a partir do momento que ele pega a câmera, a princípio por uma necessidade do personagem de provar que nada demais estava acontecendo na casa, posteriormente pela curiosidade, e o desejo de usar aquele material para talvez ganhar algum dinheiro ou fama. Conforme a narrativa desenrola, descobrimos que Katie tem uma história antiga com o demônio, atormentada desde criança por algum motivo. Ela é o interesse principal dele.

O filme é um experimento de tempo e câmera. O tempo e câmera parada se tornam a chave da tensão. São apresentadas duas utilizações contrastantes da câmera.

A primeira é a câmera na mão do personagem, se caracterizando como uma extensão dos seus sentidos e experiências. Vemos o que o personagem está vendo. Essa utilização da câmera, a princípio, é similar a de um diário familiar. Registros das conversas e brincadeiras do casal, vídeos que poderiam ser apenas para recordações intimistas. Porém, conforme a tensão aumenta a câmera fica cada vez menos controlada pelos olhos do personagem e mais por seu movimento, por seu desespero e por seu braço produzindo cenas em planos fechados, em dados momentos claustrofóbicos. Não entendemos visualmente tudo, a câmera balança, entra em ângulos que desfavorecem os acontecimentos, mas favorecem a tensão e isso nos aproxima do que poderia ser a real experiência de alguém registrando todas essas situações. Essa câmera muito viva fica fortemente contrastada com a rígida e insensível câmera parada que registra apenas o quarto, responsável pelas cargas de tensão mais potentes.

Nessa hora Atividade Paranormal mostra que está disposto a jogar pesado com os medos do expectador, pois os planos no quarto se distinguem dos demais. Enquanto os outros são muito vivos e próximos dos personagens, este os mantém à distância, distraídos do fato de estarem sendo filmados. Consiste em registrar principalmente a cama em que os personagens dormem, a porta ao lado dela e a profundidade do corredor escuro que leva para o restante da casa. A porta aberta e o corredor, magnetizam nosso olhar e imaginação. Apesar de buscarmos ação no restante do quarto esse enquadramento conduz nossa visão para os lugares escondidos, para o que estaria fora do enquadramento, recriando a sensação de olharmos para nosso quarto a noite, iluminado pela luz da janela, quando as sombras nos atraem, remetendo-nos ao questionamento do que podem esconder.

O tempo se torna, então, o melhor amigo do demônio Toby ao produzir sentimentos desconfortáveis e tensos no espectador. Nós enquanto espectador de cinema estamos acostumados a cenas em que algo acontece, as coisas se movem ou os personagens falam o tempo todo. Preste atenção como os planos longos geralmente carregam muitos acontecimentos, como o vento, a câmera se movendo lentamente, ou personagens agindo dentro do enquadramento. Por outro lado, aqui vamos acompanhar planos médios de 22 segundos em que a única ação é o casal dormindo. Esses planos, apesar de curtos, estão sempre em câmera estática, com o quarto silencioso, e a câmera esperando. Essa mistura de tempo de espera, silêncio e câmera parada no escuro potencializa o momento de antecipação antes do irromper de um susto. Só que nem sempre é um susto. Sim, algo vai acontecer, mas não necessariamente um susto. Isso brinca com a ansiedade e temor do expectador pelo momento em que algo realmente grande vai ocorrer.

Essa estranha câmera parada deveria ser comparada a uma câmera de vigilância. No entanto, é um plano muito mais baixo, praticamente na altura dos olhos de um espectador observando os bizarros acontecimentos do quarto. Aqui, é proposto um jogo com o público: a câmera estática encarna uma pessoa a observar. Ao mesmo tempo, em vários momentos a própria Katie (tomada pelo demônio) se coloca parada, quase ao lado da câmera, observando Micah dormindo. Como quem diz para nós que nosso desejo de observar e extrair entretenimento do sofrimento daquelas pessoas talvez não se distingua tanto do divertimento proporcionado ao próprio Toby parado, em pé, também observando.

Atividade Paranormal 2 (Todd Williams, 2010)

(Atividade Paranormal 2, 2010)

Esse filme ocorre alguns meses antes do primeiro. Nele, somos apresentados a irmã de Katie e sua família: a irmã Kristi (Sprague Grayden), o marido Daniel (Brian Boland) e os filhos Ali (Molly Ephraim) e Hunter (William Prieto). Diferente do primeiro filme, este começa realmente com vídeos de um diário de família, que registram cenas da casa e do nascimento de Hunter. Além dos 4 membros da família aparecem nesses diários, (surprise surprise!) Katie e Micah em visitas e Martine (Vivis Colombetti) a babá de Hunter.

No entanto, já nos primeiros 5 minutos de filme a casa é invadida e quebrada, porém roubam apenas fitas VHS, pertencentes originalmente aos pais de Kristi e uma corrente presenteada a ela por sua irmã. É essa invasão que leva a família a instalar câmeras de vigilância na casa. As câmeras de vigilância serão nosso maior pesadelo nesse filme. Posicionadas de forma convencional, em pontos altos dos cômodos, permitindo ver o máximo possível do ambiente. Além das câmeras de vigilância temos algumas cenas ao estilo diário familiar e pontualmente os vídeos produzidos por Ali, similares a um desses vlogs pessoais. Estes últimos são os que parecem ter menos motivos para serem filmados.

A câmera é organizada de forma muito interessante. O diário familiar é usado para mostrar as relações entre os personagens e a maneira pela qual eles lidam com os acontecimentos misteriosos. O vlog de Ali começa com suas brincadeiras e acaba como transmissor de informações sobre as pesquisas que ela desenvolve em relação a entidade que atormenta sua família, similar ao que Micah faz no primeiro filme. Por fim durante todo o filme as grandes cenas de ação vão acontecer em dois momentos. As câmeras de vigilância da casa registram o terror ao longo da primeira 1 hora e 20 e a partir de então as câmeras de diário familiar dividem a tarefa de aterrorizar o espectador.

O jogo com as câmeras de vigilância é bem orquestrado. A narrativa se vale de cortes de todos os ambientes, levando o espectador novamente a desenvolver um desconforto e ansiedade de descobrir em qual lugar da casa vai acontecer algum fenômeno. Em Atividade Paranormal 2 não ficamos à deriva no tempo, mas sim no espaço, pelo fato de sermos deslocados de cômodo a cômodo. A cada corte entre essas câmeras vamos parar em um ambiente cheio de possibilidades, das quais Toby pode se aproveitar. Os enquadramentos das câmeras de segurança são amplos, permitindo que os olhos do espectador estejam sempre vagando, tateando os espaços escuros a procura das fontes de seus medos, muitas vezes nossos olhos são guiados para algum lugar no ambiente, o que nos distraí dos acontecimentos sinistros que surgem em outro ponto do enquadramento.

Quando as cenas de diário familiar entram em jogo, estamos num lugar mais comum da franquia. As cenas seguem ideias já apresentadas no primeiro filme, mas gerando uma sequência única que contrasta com o restante da obra. Diferente do primeiro Atividade Paranormal, em que os confrontos acontecem fora do enquadramento, no espaço escuro além da porta do quarto, aqui a câmera é carregada por Daniel até seu embate frente a frente com Toby. A confusa e atordoante cena não permite que vejamos muita coisa, a câmera novamente segue menos os olhos do personagem e mais seus movimentos, mas os espaços escuros e o acréscimo de Hunter na situação criam um ambiente bastante sinistro.

Atividade Paranormal 3 (Henry Joost, 2011)

(Atividade Paranormal 3, 2011)

O terceiro filme da franquia, segundo a bilheteria e meu julgamento, é o melhor e mais potente dos filmes de Atividade Paranormal. Começa mostrando a origem da trama, uma vez que se passa em 1988, mantendo o clima dos found footage. Apesar de não sabermos quem vê as fitas, descobrimos que o terceiro filme parte das VHS roubadas da casa de Kristi no filme anterior.

Como em todos os outros, chegamos inesperadamente a casa de uma família, no caso a mãe Julie (Lauren Bittner), suas filhas Katie (Chloe Csengery) e Kristi (Jessica Brown) e o namorado de Julie, Dennis (Christopher Smith) que mora com a família há poucos meses. Dennis é um dos pontos mais importantes da trama, ele é cinegrafista e trabalha com vídeos de casamentos, o que facilitou para que ele tivesse o equipamento necessário para conduzir sua investigação.

Novamente as primeiras cenas são diários familiares, registrados por Dennis. Os personagens contribuem para a posição do filme no ranking da franquia, a família é mais interessante e carismática, as crianças apresentam um equilíbrio entre o fofo e assustador de forma muito melhor comparado ao bebê do segundo filme. Em meio aos registros profissionais, Dennis escuta algo. Já com a câmera na mão, parte para investigar o que poderia ser. Percebemos que esses barulhos e coisas estranhas vem acontecendo há mais tempo. É com a investigação de Dennis acerca dos estranhos barulhos da casa, que chegamos a ótima mistura entre as câmeras paradas do primeiro e segundo filmes.

Dennis posiciona durante a noite suas câmeras fixas em seu próprio quarto e no quarto das crianças. Essas câmeras são mantidas na altura dos olhos. No quarto dos pais o enquadramento lembra o apresentado no primeiro filme. No quarto das crianças, é realizado para trazer a ideia dos ambientes maiores, cheios de objetos e cantos pelos quais nossos olhos vão se perder enquanto escutamos barulhos e vemos coisas. A escolha do quarto do casal parecido com o do primeiro filme e do das crianças mais parecido com o do segundo, além de trabalhar a unidade das produções até o momento, facilita na condução do suspense que vem pela frente.

A maioria dos acontecimentos sinistros não se dão no quarto dos pais, o que justifica um posicionamento de câmera que permite um enquadramento focado na porta e no corredor. O quarto das meninas, por outro lado, se torna o epicentro da esquisitice paranormal, logo o enquadramento que permite maior deslocamento pelo quarto favorece as brincadeiras noturnas assim como a tensão que nos atinge enquanto procuramos e esperamos as situações assustadoras.

Perto do meio do filme os acontecimentos estranhos se estendem para a cozinha e sala. É então que aparece a utilização mais genial da câmera na franquia. Dennis tem a inusitada ideia de usar a base móvel de um ventilador para posicionar uma câmera que gira registrando da porta de entrada da casa, a sala até a pia e janelas da cozinha, em um movimento próximo a 180 graus.

O movimento do ventilador dita o ritmo e tempo com o qual podemos ver os acontecimentos da sala ou cozinha. Aqui, além da tensão dos enquadramentos amplos, temos o movimento que afasta nossos olhos de forma simétrica da ação. Abrindo espaço de forma natural, para que a suspensão e tensão do acontecimento futuro, no ambiente que não podemos ver, inunde nossas mentes. A partir desse momento, o filme expande os recursos já explorados anteriormente, deixando agora não apenas nossos olhos procurando alguma mudança no ambiente ou esperando um possível susto, mas também nossa imaginação, que ficará procurando coisas que -talvez — existam no cômodo, que já não podemos mais ver.

Atividade Paranormal 4 (Henry Joost, 2012)

A aparição de uma entidade revelada através do dispositivo Kinect. (Atividade Paranormal 4, 2012)

No quarto filme da franquia, primeiramente somos lembrados que Katie e Hunter seguem desaparecidos. Em seguida, somos apresentados a nova família desafortunada. Avançando 5 anos após os acontecimentos de Atividade Paranormal 2, acompanhamos um novo grupo de pessoas: a mãe Holly (Alexondra Lee), o pai Doug (Stephen Dunham), a adolescente Alex (Kathryn Newton) e seu irmão menor de 6 anos Wyatt (Aiden Lovekamp). Nessa história, diferente das demais, o foco não são os pais, mas sim em Alex, seu namorado Ben (Matt Shively) e o pequeno Wyatt.

Assim como toda a franquia começamos com um diário familiar, os registros de um jogo de futebol de Wyatt. Essa nova família parece não ter qualquer relação com os filmes anteriores, até que Katie se muda para a casa ao lado da deles, acompanhada de seu suposto filho Robbie (Brady Allen) também de 6 anos. Devido a problemas de saúde Katie precisa passar alguns dias no hospital. Como não tinha ninguém que pudesse cuidar de Robbie ele acaba sendo acolhido na casa da família protagonista.

Além dos diários familiares em vídeo, logo somos apresentados a uma nova utilização de câmera. Quando Alex e Ben conversam através de algum programa de vídeochamada, automaticamente o computador de Ben salva as conversas em vídeo. De forma acidental ele grava Alex dormindo, e Robbie invadindo o quarto dela para se deitar e abraçá-la durante a noite. Essa descoberta, somada a outros acontecimentos estranhos, levam os jovens a tentar agir. Se valendo desse sistema de gravação do computador de Ben, os adolescentes transformam os computadores da família e as filmadoras digitais que possuem em câmeras espiãs para poder vigiá-los (tirando o fato de que todos os notebooks passam a noite inteira abertos e ligados sem que o dono perceba, a ideia é muito boa).

A partir dessas câmeras podemos acompanhar alguns acontecimentos da casa. Como as câmeras são móveis através dos notebooks, elas estão sempre trocando de lugar. Por um lado isso produz planos diversificados, permitindo mostrar acontecimentos por vezes de ângulos mais interessantes. Infelizmente essa variação de local da câmera dilui os efeitos progressivos de tensão, que estão presentes na franquia até aqui, tornando esse filme bem menos tenso. O fato dos adolescentes, desde o início, se entenderem e trabalharem juntos, anula a descrença dos pais, o que também colabora para criar uma narrativa bem menos opressora.

Apesar dessas pequenas mudanças na fórmula desse filme, ele ainda consegue produzir ótimos efeitos de tensão. Quando acompanhamos Alex com o computador andando por sua casa, sendo perturbada e atacada pelo demônio, a câmera — quase sempre focada em seu rosto — permite que vejamos aquilo que ela não vê, e que esta imediatamente às suas costas. O potente efeito não é tão explorado, mas ainda assim a tensão que ele provoca no espectador, de que alguma coisa vai acontecer atrás da personagem, já é suficiente para que essa câmera mereça seu destaque.

Outra utilização interessante aqui, não exatamente da câmera, mas de um recurso dela, é a capacidade de registrar os pontos luminosos de um Kinect. Esses pontos acabam revelando formas curiosas e que geram confusão em relação a personificação material de Toby. Em dado momento, os pontos reagem a um ser grande e rápido. Em outros, vemos uma criança invisível, deixando a dúvida: o demônio assumiria várias formas ou seriam entidades diferentes? Somando a possibilidade de ver esses vultos, com a estética de pontilhismo verde neon, a sala com o vídeo game consegue produzir algumas cenas bastante tensas e sinistras.

Através do esquema de vigilância desenvolvido pelos adolescentes, conseguimos acompanhar Robbie seduzindo Wyatt, levando-o a conhecer seu amigo invisível (e demoníaco)… Toby! Sendo o personagem mais coerente da franquia, atormenta a família até eles ficarem divididos e amedrontados, para então chegar a seu objetivo.

Considerações sobre o terror

Infelizmente, o terror nas últimas décadas tem produzido filmes de um ponto de vista objetivo, similares a Invocação do Mal (2013), que, por mais que apresente ótimos momentos de tensão e medo, esses se diluem nos momentos finais, quando tudo acaba luminosamente bem. Poucos são os filmes similares a Bebê de Rosemary (1968), que te deixam tenso, desconfortável e atemorizado o filme todo e, no final, essas sensações vão para casa com você. Para a felicidade dos entusiastas do gênero, Atividade Paranormal é desses terrores que você leva para casa, do qual você vai se lembrar quando ouvir as vigas do telhado rangendo, quando precisar ir a noite sozinho até a cozinha, quando acordar para ir ao banheiro e ainda da cama, olhar a porta entreaberta do quarto e só conseguir manter os olhos cravados — como adagas geladas — na sombra atrás dela.

(Atividade Paranormal 2, 2010)

Obras citadas:

Atividade Paranormal (Paranormal Activity, 2007), Oren Peli; Atividade Paranormal 2 (Paranormal Activity 2, 2010), Todd Williams; Atividade Paranormal 3 (Paranormal Activity 3, 2011), Henry Joost e Ariel Schulman; Atividade Paranormal 4 (Paranormal Activity 4, 2012), Henry Joost e Ariel Schulman; Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal (Paranormal Activity: The Marked Ones, 2014), Christopher Landon; Atividade Paranormal: Dimensão Fantasma (Paranormal Activity: The Ghost Dimension, 2015), Gregory Plotkin; O Bebê de Rosemary (Rosemary’s Baby, 1968), Roman Polanski; A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), Daniel Myrick e Eduardo Sánchez; Corra! (Get Out, 2017), Jordan Peele; Holocausto Canibal (Cannibal Holocaust, 1980), Ruggero Deodato; Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, 2018), Spike Lee; Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), James Wan; Sobrenatural (Insidious, 2010), James Wan; Whiplash: Em Busca da Perfeição (Whiplash, 2014), Damien Chazelle.

Texto originalmente publicado no dia 31 de outubro de 2020, na edição nº 01 da Revista Cine Cafe, por Anderson Costa.

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