Sua empresa quer que você seja criativo. Será?

Gustavo Roças
Revista Co:lab
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4 min readApr 1, 2019

Essa e mais duas perguntas problematizadoras que me ajudam todos os dias.

By Ryan McGuire

Inspiração é o principal combustível para a criação de coisas novas. Sim, coisas, no abstrato mesmo. Mas como estimular a inspiração em um ambiente onde o incerto, o não provado e o erro são tão negados quanto a inovação é esperada?
Trabalhar com métodos de inovação, numa escola voltada a esse objetivo e, mais tarde, numa empresa em que, como em todas, há uma vontade de se adequar ao desejo geral de adaptação à nova mecânica de consumo e principalmente de consumidores, fez com que perguntas como essa me acompanhassem o tempo inteiro. Afinal, uma de minhas funções é a de justamente criar um ambiente em que os funcionários e, antigamente, os alunos, ficassem à vontade para se inspirar e criar sem apego ao que poderia ou não dar certo.

Uma das maneiras que encontrei de pensar em possíveis respostas a essa pergunta foi a mais universalmente conhecida: estudar. Por isso, categorizei mentalmente o que precisaria saber para conseguir, apesar de tudo, continuar a incentivar esse pensamento em meus colegas.
De onde vinha a criatividade, então? Quais eram os processos físicos, biológicos e sociais responsáveis por alguém se sentir capaz de criar e como, sabendo disso, eu poderia desenhar melhor caminhos que os levassem ao encontro desse grande potencial, apesar do ambiente pouco estimulador das empresas? Esse é um objetivo ousado e, portanto, sempre em construção, mas enquanto não atinjo o que acredito ser um nível comprovado de conhecimento para responder essas perguntas, sumarizo nesse artigo as reflexões que tenho tido até agora.

A inspiração acontece quando nos abrimos aos estímulos externos, quando nos deixamos ser atropelados por algo que ouvimos, vimos, presenciamos ou até mesmo imaginamos e, por se tratar disso, a incerteza é um companheiro fiel de todos esse processo e quanto mais nos negamos a possibilidade do “erro” e da “perda”, mais presos aos modelos já existentes ficamos — o que nos distancia da tão famigerada inovação.
Neste artigo falarei sobre duas perguntas que são fundamentais para me ajudar nesses processos, que têm me norteado quando estou pensando em suas estruturas e, de quebra, moldado meu corportamento na hora de facilitá-los. São elas:

  1. “Como você se sente?”

Trabalhar com criação quer dizer que teremos de lidar com gostos pessoais. O que é mais “bonito”, o que é mais “claro ao usuário”, o que “sempre foi feito assim, então a mudança não funcionará.”
Para driblar as opiniões disfarçadas de críticas construtivas, opto por encorajar as pessoas, e a mim mesmo, a mudar a estrutura da pergunta, em vez de “o que você acha?”, perguntar “como você se sente?”
Desse modo, tudo fica mais claro (o que é opinião e o que é feedback propriamente dito).
Além disso, as possíveis respostas a essa pergunta nos abrem ao que citei um pouco acima: a inspiração requer sentimento, requer estarmos abertos ao que nos anima e ao que nos entristece também, portanto se quebramos esse gelo entre os participantes logo no início, já estamos com meio caminho andado.
Meio caminho, que me leva à segunda pergunta.

2. “Qual foi a última vez que você errou?”

Erros são aquelas pequenas coisas que nos ensinaram a temer desde crianças e, portanto, baseado em minhas experiências, esse medo é o maior obstáculo na atividade da criação.
Todas as pessoas as quais tive o prazer de facilitar durante minha jornada, as que cumpriam funções “criativas” ou estavam ligadas à atividades não tidas como possíveis de inovação sofrem desse medo do erro. A chamada fobia criativa, que, muitos autores dizem, ser oriunda de processos que voltam a nossa infância.
Mas negar a possibilidade do equívoco nos força não só a nos manter seguros, mas, principalmente, nos prende a possibilidades já existentes.
Sem erro não há como criar. E se não podemos criar, bom, como desenvolveremos nosso potencial criativo?

A responsabilidade de criar ambientes nos quais os sentimentos imperam sobre a razão e nos ajudam, a mim e aos participantes, a superar o medo da falha é enorme e deve ser compartilhada por todos nós. Facilitadores, ou participantes. Colegas ou chefes.
Porque criatividade não é processo e não precisa fazer sentido.
Processo gera resultados, e é parte imprescindívei de nossas funções na empresa, mas criatividade é a bagunça e o caminho anterior a isso. Não podemos condicionar criatividade a sua conotação utiliarista.

O processo vem depois e podemos falar mais sobre ele. Em outro artigo.
Neste aqui o questionamento é outro: sua empresa quer que você seja criativo.
Mas estaria ela, ou você em seu conjunto de corportamentos pessoais e com seus colegas, realmente disposto a pelo menos tentar?

Será?

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Gustavo Roças
Revista Co:lab

quem sabe se de verso em verso eu não te viro do avesso