“Corpo de delito”
Published in
Oct 17, 2020
Poema de Felipe Fleury
Corpo de delito
Escuta com atenção:
pedidos de socorro podem ser líquidos,
quando se derramam no segredo das lágrimas.
À noite, o silêncio engole o grito,
o sangue varrido para debaixo da cama,
o corpo de delito.
Repara a quietude mortal na vizinhança:
manchas de sangue no assoalho
se lavam com água e sabão.
(Dói dizer bom dia e ouvir
que roxo é a cor da moda,
que bateu na porta ou caiu da escada
ou que, se não mentir, apanha mais).
Percebe: na cama, ao fechar
os olhos, (ela) só às vezes adormece.
Outras, se dedica a contar
quantas vezes disse
o nome de Deus em vão.