“Corpo de delito”

Revista Contexto
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Published in
Oct 17, 2020

Poema de Felipe Fleury

“Três retratos de Laurette” — Henri Matisse, 1916–1917 (óleo sobre tela).

Corpo de delito

Escuta com atenção:

pedidos de socorro podem ser líquidos,

quando se derramam no segredo das lágrimas.

À noite, o silêncio engole o grito,

o sangue varrido para debaixo da cama,

o corpo de delito.

Repara a quietude mortal na vizinhança:

manchas de sangue no assoalho

se lavam com água e sabão.

(Dói dizer bom dia e ouvir

que roxo é a cor da moda,

que bateu na porta ou caiu da escada

ou que, se não mentir, apanha mais).

Percebe: na cama, ao fechar

os olhos, (ela) só às vezes adormece.

Outras, se dedica a contar

quantas vezes disse

o nome de Deus em vão.

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