Dois poemas de Beatriz Caldas

Revista Contexto
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Published in
Oct 25, 2020
“A Boneca”, 1928 — Tarsila do Amaral (Óleo sobre tela)

Manifesto das flores

Claros golpes
Cortam a alma
Das que eles roubam o perfume
E chamam de fracas

Dizem, não há culpa
Por amar demais
Despir a rosa
Pétala por pétala
Nada faz

Nada e jamais
Tocaria um dedo, mas
As mãos?
Seria pedir muito um segundo
E dizer não?

Assim, as flores nascem
Só para um dia
Sofrer

Eles querem tanto
Em suas estantes
Mulheres prontas para estar
E não ser.

Sucumbência

Vaga obstinação
Inoportuna
Dos prazeres perenes
E peças postas para
Mero contentamento

Enlouquecimento frio
Das manhãs irrazoáveis
Inóspitas aos insones

E entre pratos e prazos
Em decaimento
Os obstinados despertam
Da inercia latente
Enquanto os outros sucumbem
À letargia.

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