Dois poemas de Cristiane de Oliveira
O mundo nas mãos
Era uma vez
Corpo feito inteiro
Perna, peito, braço
Mãos dadas
Dançando
Mãos pintando
Acariciando
Tocando piano
Desembrulhando doce
Mãos fazem parte
Onde o mundo cabe
Era um invés
Corpo feito prisioneiro
Boca, nariz, olhos
Mãos molhadas
De sangue
Mãos amarrando mãos
Espancando
Batendo continência
Apertando gatilho
Mãos fazem morte
Onde o mundo se parte.
Um, nenhum
Ainda somos um!
Mesmo invadidos
De tekohas arrancados
Mesmo violados
Discriminados
Assassinados
Ainda somos um!
Jurupoca, sussuarana
Tucano, tatu
Somos um
Tucumã, guaraná
Urucum, cupuaçu
Somos um
Guarani, guaianá
Tupiniquim, tupinambá
Somos um
Peri, peró
Caraíba, jurua
Sensatos
Nativos do mato
Somos um
Impávidos, mobilizados
Pelo óbvio
Quem só quer gado ver
Não verá país nenhum!