Este poema não é culposo
um grito das mulheres
Um teatro escuro. As cadeiras da plateia estão vazias. As luzes do palco se acendem.
(entra Thainá)
Este poema não é culposo
é a intenção da palavra
ferida em vermelho
o grito da alma
contra você e seu fogo
eu e meu corpo
cinzas
de fazer nascer a terra
e o trovão
o grito da asa
expansão
eu e meu corpo
não acatamos seu julgamento.
(entra Amanda)
Este poema não é culposo
É fruto do dolo dilacerador
Que expõe o corpo mudo,
Desnudo
Feito atração de um circo de horror
Morada de uma alma que grita
Que une vozes
Ecoa e fortifica
Apontam a vítima e julgam: Culpada!
Provas já não provam mais nada.
(entra Flávia)
Este poema não é culposo
é o tecido sobre o qual
se borda uma dor ancestral,
é também a cabeça erguida,
a fênix renascida,
o canto capaz de proclamar:
covarde!
na certeza de que há no mundo,
para cada gesto,
uma palavra própria.
(entra Cynara)
Este poema não é culposo
e não se esconde
nem no dinheiro
nem no nome
não se vale
do pacto dos canalhas
esse poema é mulher
e dá a cara à navalha.
(entra Nádia)
Este poema não é culposo
é tempestade
que se aproxima
palavra vento
sopro
na ponta da flecha cujo alvo
é a vítima
refratada em milhares de pontas
a flecha recua
constrangida
atinge o ideal
daquele que anuncia
apelo moral
dominação corretiva.
Thainá, Amanda, Flávia, Cynara e Nádia dão-se as mãos. As cadeiras agora estão ocupadas por mulheres que se levantam e também dão as mãos.