Este poema não é culposo

Revista Contexto
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2 min readNov 25, 2020

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um grito das mulheres

Um teatro escuro. As cadeiras da plateia estão vazias. As luzes do palco se acendem.

(entra Thainá)

Este poema não é culposo

é a intenção da palavra

ferida em vermelho

o grito da alma

contra você e seu fogo

eu e meu corpo

cinzas

de fazer nascer a terra

e o trovão

o grito da asa

expansão

eu e meu corpo

não acatamos seu julgamento.

(entra Amanda)

Este poema não é culposo

É fruto do dolo dilacerador

Que expõe o corpo mudo,

Desnudo

Feito atração de um circo de horror

Morada de uma alma que grita

Que une vozes

Ecoa e fortifica

Apontam a vítima e julgam: Culpada!

Provas já não provam mais nada.

(entra Flávia)

Este poema não é culposo

é o tecido sobre o qual

se borda uma dor ancestral,

é também a cabeça erguida,

a fênix renascida,

o canto capaz de proclamar:

covarde!

na certeza de que há no mundo,

para cada gesto,

uma palavra própria.

(entra Cynara)

Este poema não é culposo

e não se esconde

nem no dinheiro

nem no nome

não se vale

do pacto dos canalhas

esse poema é mulher

e dá a cara à navalha.

(entra Nádia)

Este poema não é culposo

é tempestade

que se aproxima

palavra vento

sopro

na ponta da flecha cujo alvo

é a vítima

refratada em milhares de pontas

a flecha recua

constrangida

atinge o ideal

daquele que anuncia

apelo moral

dominação corretiva.

Thainá, Amanda, Flávia, Cynara e Nádia dão-se as mãos. As cadeiras agora estão ocupadas por mulheres que se levantam e também dão as mãos.

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