Três poemas de Álvaro Assis
Há um muro que à frente se amontoa
Uma parede sem portas e janelas
Um sepulcro lacrado sem arestas
Contra isso, um homem pré-moldado
Sem vergalhões, embora a ferrugem
Deixou de imaginar o túnel, deixou de imaginar as trepadeiras, deixou…
Está lá e pronto, sem picareta, sem ponteiro
Não anseia desenhar com tijolo um ponto de fuga
Ou fazer corda de lençóis
Tem apenas uns poucos pregos no bolso e a testa como martelo
Quanto mais se aproxima, mais o muro cresce
Quanto mais se distancia, tanto mais as pernas se conformam.
Acordamos sem atmosfera
Negociando metros cúbicos de ar
Com máscaras a conter a empáfia
Imaginando bolhas como imensos úteros
A acolher nossas desumanidades
E as vaidades despencam feito asteróides
Sobre igrejas (que são apenas naves vazias)
Encostadas num canto feito esteiras ergométricas.
Sinto sede
E com a fome de cem crianças etíopes
Namoro uma maçã do outro lado do rio
Há um barco (que já vai afundando)
Com dois remos canhotos e puídos
Se resolvo nadar, remexo a água, que se turva
E a sede continua…
Parece que há também uns frutos no barco
Mas se o alcanço, ele submerge
E a água se turva
E a sede e a fome continuam.