QA: Não seja apenas um piloto de ferramenta de automação de testes

Adriano Saádeh
Revista DTAR
Published in
7 min readOct 18, 2020

A crescente demanda por QA’s no mercado de TI fez com que este profissional evoluísse com relação ao seu papel de atuação dentro das equipes. Essa evolução exigiu que os profissionais da área iniciassem o contato com ferramentas para a realização de testes automatizados. Porém o mercado, fomentado pela alta demanda destas atividades, acabou transformando o processo de automação em um cargo, quando na verdade, esta deveria ser uma característica do profissional que testa aplicações. Em decorrência disso, alguns profissionais se fixaram apenas em automatizar e como consequência temos visto um crescente aumento de profissionais com pouco ou nenhuma bagagem em técnicas de testes.

A prática da Automação de Testes tem estado em voga nos últimos anos, tanto que a adoção da mesma vem ganhando cada vez mais destaque dados os seus benefícios comprovados (assim como a cultura DevOps que acabou se personificando em um cargo, mas isso é assunto para um outro post).

Entretanto, muitas vezes nós, evangelizadores de testes e qualidade de software acabamos nos deslumbrando, e ávidos por um mercado que se renova a todo instante, em diversas circunstâncias acabamos limitando que o nosso trabalho e atuação se resume apenas ao “manual x automatizado” focando nossos esforços em dominar determinada ferramenta, deixando de lado tudo que deveria vir antes e concomitantemente a um bom script de teste automatizado.

Por vezes ignoramos toda a experiência, técnicas e abordagens de teste, que deveriam vir antes da escolha de uma ferramenta ou framework de automação, e que na maioria dos casos acabam sendo superestimadas. Afinal, será mesmo que a simples presença da automação de testes em um projeto garante a qualidade final do produto?

Escolhendo a ferramenta ideal…

Digamos que você necessite apertar um parafuso em algum móvel da sua casa, rapidamente lhe vem a ideia de utilizar alguma ferramenta que lhe auxilie nesta tarefa.

O fato é que a depender do tipo, tamanho e quantidade de parafusos a serem fixados, assim como do tipo de móvel ou ajuste a ser feito, você pode ter de escolher entre uma chave de fenda, uma chave Phillips ou mesmo uma parafusadeira elétrica. Perceba! Você precisará de antemão analisar o seu contexto, objetivo e viabilidade do emprego destas ferramentas antes da utilização das mesmas.

Não entenda errado, há grande valia nos testes automatizados, mas uma ferramenta surge de uma necessidade, e não a necessidade de uma ferramenta. Adotar novas formas de solucionar problemas através da codificação, principalmente quando isso pode evitar o esforço desnecessário em tarefas repetitivas é de suma importância, entretanto, a automação de testes tem seu momento, seu lugar e maneira apropriada para ser empregada.

Em alguns eventos voltados à área de qualidade e testes, muito pouco se fala da base, dos conceitos e como isso se linka com a bendita prática de automação de testes. Os assuntos são tratados separadamente e não à toa, já que até pouco tempo e ainda em muitas organizações os papéis das pessoas que testam aplicações são segregados.

Ayrton Senna e o Teste de Software

Você certamente já ouviu falar do consagrado piloto brasileiro de Fórmula-1 Ayrton Senna, não é mesmo? E neste momento deve estar se perguntando: “O que o Ayrton tem a ver com qualidade de software e automação de testes?”

E a resposta é: Muito!

Isso se você tem a pretensão de ser alguém que é referência em testes de software, alguém que inspira, transforma, se desenvolve continuamente e por conseguinte deixa um legado por onde passa.

Se você pesquisar mais a fundo sobre a vida do Ayrton, vai descobrir que ele era muito habilidoso dentro um carro de Fórmula-1, pelo fato de ser extremamente dedicado e focado em resultados, dotado de uma perseverança e visão acima da média.

Alguém que testa aplicações, precisa também saber dominar o seu “carro”, necessita conhecer as técnicas, as abordagens empregadas em cada curva, assim como ela precisa saber de que forma o clima, o vento e até mesmo a chuva podem influenciar nos resultados finais.

Mais do que isso, a pessoa que testa aplicações também precisa conhecer as regras do jogo, da corrida, das pistas, dos seus adversários, suas fraquezas e virtudes.

Até aí tudo bem, isso inegavelmente vai garantir que no mínimo você seja um excelente analista, testador e por que não dizer, automatizador de testes? Dominar as ferramentas e seus usos é primordial e certamente para estar no patamar de um piloto de F-1 a pessoa já passou por horas e horas de treinamento e dedicação.

Rumo ao desconhecido!

Mas afinal de contas, o que fez o Ayrton Senna se destacar tanto nesse esporte, e por que ele é considerado uma referência até os dias de hoje enquanto muitos dos mais exímios pilotos que já viveram sequer são lembrados?

Bem, além de ser muito bom dentro de um carro, Ayrton não limitava o seu papel a apenas atuar quando estava no seu treinamento ou em uma corrida de fato. Ele percebeu que poderia contribuir ativamente junto com o seu time, se envolvendo durante as mais diversas fases do projeto, na construção ou reparos do carro que ele pilotava, conhecendo o carro por debaixo do seu tampo em cada detalhe.

Isso possibilitou uma visão mais abrangente, a antecipação de problemas e certamente uma coesão maior entre todos, já que o objetivo final era ganhar o maior número de corridas possíveis para levar o campeonato.

Como atingir excelência e maestria?!

Alguém que testa aplicações hoje, se quiser transcender e atingir um nível de excelência como o do Ayrton, também deve abrir mão de crenças limitantes, se envolver na fase de levantamento dos requisitos, abrir o código, realizar analises estáticas, analisar logs, conhecer de arquitetura e infra-estrutura, fazer análises de risco, entender de histórias de usuário, ser um bom comunicador e assim por diante…

Em outras palavras, fazer tudo que estiver ao seu alcance para entregar um produto ou serviço com maior qualidade.

O ato de simplesmente registrar bugs ou escrever e executar casos de testes já não serve mais. Precisamos ir além, deixar de ser meros bug hunters e reportadores de problemas.

Precisamos sair da zona de conforto, ajudar a encontrar soluções para as inconsistências, engajar pessoas, compartilhar responsabilidades e ensinar aos nossos pares sobre os conceitos, motivações e abordagens de testes, sejam elas automatizadas ou não.

Por onde começar:

Você pode encontrar diversos materiais acerca desses temas na web. Na revista TSPI e DTAR você pode encontrar os mais variados assuntos explicados no bit, que com certeza te ajudarão a consolidar e aprender novos conceitos, bem como já aplicá-los à sua realidade, desde que você conheça e respeite o seu contexto.

Evidentemente tudo isso dá trabalho, exige um senso apuradíssimo de responsabilidade e proatividade. A constante necessidade de aprender e evoluir fará parte da sua rotina e certamente você sentirá na pele os seus benefícios, acredite você vai adorar.

Assim como Gabs Ferreira explica de forma extremamente simples e didática em seu artigo: “Deixe de ser um profissional limitado aprendendo o básico”, isto é, o básico não necessariamente representa uma característica de alguém iniciante e sim, remete a ideia de alguém que possui uma base forte e concisa. Isso é o que lhe permitirá entender aonde você está hoje, aonde quer chegar e o que precisa fazer para avançar para o próximo nível.

Conclusão

Entender os porquês das coisas e se perder em profundas reflexões sobre os assuntos mais distintos também faz parte da jornada, seja você testador, analista, automatizador de testes ou puramente QA.

Busque primeiramente entender o que é explicitamente esperado do seu papel, após isso, descubra como de fato você pode agregar valor e ajudar a promover qualidade às entregas do seu time, além de se desenvolver como pessoa e profissional.

Tudo isso é muito mais importante do que ficar preso a um título ou a uma mera expectativa que os outros tem sobre você e o seu trabalho. Seja você o agente transformador da sua carreira e realidade!

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