Como você consegue

Por Mayã Fernandes

ano II: ensaio
ano II: ensaio
3 min readDec 22, 2021

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Como você consegue?

É a pergunta que mais escuto nos últimos 9 anos desde que entrei na universidade. A segunda frase geralmente é uma afirmação de que sou workaholic. Conceito chick em inglês dado para pessoas que são viciadas em trabalho. No meu caso, esse título é atribuído injustamente, puro delírio, pois nunca vi nenhum pobre ser viciado em trabalhar. Na verdade, esse termo nunca em hipótese nenhuma deveria ter chegado ao Brasil. Nem ser usado em plena pandemia de desgoverno. Muito menos ser falado para uma pessoa que é bolsista CAPES. Sempre digo com um sorriso meio que amarelo, que o segredo é a organização, que uso planner. Até porque os links de reuniões pipocam, as demandas das pessoas são implacáveis e não me rendem nem 0% no CDB.

Neste último mês, depois de muito tempo de contribuições com a Ano II ensaio, não consegui enviar um texto. Logo depois, recebi a notícia de que a revista teria seu fim em dezembro e confesso que respirei aliviada, por mim e por toda a equipe, pois nos últimos meses venho sentindo cada vez mais a necessidade de abandonar os processos de urgência que a universidade e a própria dinâmica que as redes sociais vêm me impondo.

Para mim, enquanto professora e doutoranda no meio de uma tese com bolsa CAPES, é extremamente estressante manter um ritmo de produção acadêmica no governo no qual estamos. No último ano passamos por cortes nas bolsas de estudos e meu programa de pós- graduação não as garante durante o doutorado inteiro, sendo que a renovação das bolsas é anual e por mérito. Mas o que fiz aqui foi uma das melhores coisas que já me aconteceram durante esses dois anos. Todos os ensaios que publiquei na Revista Ano I e Ano II, contaram como se fossem semelhantes aos artigos publicados em revistas de grande circulação. Durante esses anos em que estive na Revista com vocês, a Revista foi de certo modo, minha fonte de renda segura na pandemia. Graças aos meus textos publicados na revista e em outros lugares, tenho minha bolsa de estudos garantida por 2022. No fim, a Ano II também foi minha fonte de renda. Por isso eu consigo. Não tem mistério.

Então quando fiquei sabendo da notícia que a Revista estava chegando ao fim, fiquei com um sentimento de gratidão imenso pelo acolhimento que tive. Pelo carinho, sobretudo do Diego, do Lucca, do Fernando, do Henrique e da Laura. Agradeço também a todas as pessoas que leram algum texto meu. Sigo nas redes sociais, pois continuo tendo que pagar boletos e renovar a minha bolsa CAPES anualmente.

Vida que segue.

Mayã Fernandes é escritora, ensaísta, podcaster e filósofa de bar. Doutoranda em Teoria e História da Arte pela UnB, mestra em Metafísica e graduada em Filosofia pela mesma universidade. É professora de Filosofia da Arte e Filosofia da Fotografia, desenvolvendo estudo sobre a imagem abstrata na Antiguidade e na Arte Moderna. Seu site é www.linhasdefuga.com.br

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