O EXPERIMENTO ENSAIO

Por Laura Redfern Navarro

ano II: ensaio
ano II: ensaio
2 min readDec 30, 2021

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É difícil escrever esse texto. As palavras querem sair, querem vazar, mas emperram. Ainda não caiu a ficha, mas já sinto certa saudade, talvez uma inquietação em perguntar: para onde vou agora?

A verdade é que esses dois anos como colaboradora e quase um como editora da Revista Ensaio foram ricos na minha formação enquanto escritora. Não falo num sentido autocentrado, mas na possibilidade que a publicação, como um todo, trouxe em relação a experimentar.

Em um dos textos de despedida, a Mayã Fernandes comenta que“Todos os ensaios que publiquei na Revista Ano I e Ano II, contaram como se fossem semelhantes aos artigos publicados em revistas de grande circulação”. De certo modo, digo o mesmo. Sempre senti que a minha escrita na Revista Ensaio era indissociável da minha pesquisa, tanto como poeta quanto como pesquisadora. O processo neste espaço, portanto, foi muito intenso e, ao mesmo tempo, revigorante: afinal, era uma forma de movimentar as minhas inquietações, de organizar a minha escrita e, também, de deixar o mundo acolhê-las.

E essa é a maior graça em experimentar: construir um ponto de partida e, em seguida, permitir movimento. E esse movimento que chega, que atinge outras pessoas — seja do meu texto, seja do texto que edito junto a meus colegas. Tenho pensado nos diálogos que a Revista permitiu. As relações que ela formou, a solidez delas. Houve uma força coletiva para construir o que a Ensaio se tornou, ainda que houvesse, em contrapartida, o cansaço dos dias. A experiência de editar uma revista literária nem sempre é uma grande alegria. E, no fundo, experimentar também tem muito disso: ser um território do erro.

Mas, no fim das contas, um experimento também tem o seu fim. E já não cabe mais à Revista essas novas possibilidades, agora mais maduras, de se experimentar. Seguimos, com a solidez desta experiência. E que vai fazer (já faz) muita falta.

Laura Redfern Navarro é poeta e quase-formada em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Toca o projeto literário independente matryoshkabooks, focado na divulgação de poesia brasileira contemporânea feita por mulheres. Pesquisa as vicissitudes do trauma, do feminino e do corpo em “O Martelo”, de Adelaide Ivánova. Colabora com a equipe de poetas da FaziaPoesia e publicou, em 2020, o livro Matryoshka (Desconcertos Editora).

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