Senryū, por Carlos Castelo
1.
já é primavera -
a barata me persegue
apaixonada
2.
nem tudo são flores
– disse aquele tronco
à folha caindo do galho
3.
a felicidade
é passageira
e viaja sem bagagem
4.
até William Carlos Williams
pode ter seu dia
de W C Williams
5.
não resta mais dúvida
só sobrou do progresso
a escova progressiva
6.
sem a rã e sem o tao
inexistiria
poesia oriental
7.
quando a preguiça
derrota o sonho
nasce o pequeno burguês
8.
o meu verso é guerra
um fim ao clichê
que gruda como chiclé
9.
vá à merda — disse
preferi não ir
ela foi
10.
poeta
não goza
glosa
Carlos Castelo é ficcionista, compositor e epigramático. Escreve crônicas no Estadão e resenhas literárias na revista Bravo!. Atualmente publica microcontos em Minusculidades.