Sobre princípios e fins

Editorial

ano II: ensaio
ano II: ensaio
4 min readJan 4, 2021

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2020 finalmente chegou ao fim. Dizer que foi um ano infeliz seria um eufemismo. Nossas existências públicas e privadas se viram rotineiramente desafiadas tanto pela pandemia quanto pela irresponsabilidade dos nossos governantes. Mesmo antes de o COVID-19 tornar-se mais um perigo cotidiano, já estávamos lidando com as consequências das mudanças climáticas e da megalomania neofascista de vários atores no cenário político. O ano arrastou-se, simultânea e paradoxalmente, com uma rapidez insuspeita — e embora o horizonte careça até mesmo da miragem de um oásis, a mudança simbólica no calendário trouxe a todos um pouco de alívio.

Apesar dos percalços, o ano que se encerrou, não obstante, foi também o ano em que a ano I: ensaio, após um longo planejamento, saiu do papel e, ainda que isso não apague de forma alguma todas as calamidades que coletivamente vivemos, ao menos para nós do conselho editorial e — esperamos — também para nossos leitores, a revista serviu como refúgio para esses momentos difíceis. Alentou-nos a ideia de que mês a mês, escritores e leitores acreditaram nesse projeto como um meio para se expressarem, se identificarem, dialogarem e também, como nós, ensaiarem os seus projetos pessoais, as suas reflexões sobre a literatura, a sociedade e a forma como relacionamos as duas.

Desarte, nos últimos 11 meses tivemos a honra de entrevistar grandes nomes nacionais e internacionais da literatura; tratamos de assuntos pertinentes à História - como foi na série de setembro “A História sob os olhos do opressor” — o mercado editorial — série homônima de novembro — a pandemia (ao longo de todo o ano), a poesia, a política nacional e até mesmo das questões mais cotidianas. Também pudemos publicar contos e poemas que nos surpreenderam durante às seleções pela qualidade assim como, através dessas publicações, pudemos estar em contato direto com escritores, críticos e jornalistas de todo o país, feito inimaginável em nossas primeiras reuniões de editorial.

De fato, o ritmo de trabalho se tornou tão intenso que, em junho, a chamada para novos colaboradores foi essencial para que pudéssemos manter o padrão de qualidade e o ritmo das publicações. Muito mais do que isso, podemos dizer que a chegada das escritoras Mayã Fernandes, Karina Sgarbi e a Laura Navarro, do escritor Carlos Castelo e do editor Henrique Conceição alterou positivamente a dinâmica e elevou as expectativas que nós, os editores originais, nutrimos quanto aos rumos da revista.

A ano I: ensaio, de fato, leva em seu nome as marcas das sua concepção original, isto é, a ensaio só deveria durar um único ano e com o fim do seu 12º mês (inaugurado por esse mesmo texto que vocês leem) ela viria ao seu fim pelo motivo básico por trás dessa palavra-conceito-gênero, ensaiar. Hoje, em janeiro de 2021, manter essa escolha inicial nos parece impossível. Portanto, ao inaugurarmos a ano II no março próximo, traremos muitas novidades para os leitores, mas não vemos razão para mudar radicalmente nossa forma de trabalhar: continuaremos comprometidos com a a noção de aperfeiçoar nossos escritos, antecipar novas perspectivas e aprofundar-nos nas questões mais pertinentes de nossos tempos atribulados. Mas antes que a ano II chegue ainda teremos tempo para um último ensaio.

Nesse sentido, o Janeiro que se abre será um mês em que nos aproveitamos deste momento tão oportuno — o primeiro mês do ano, o último da revista — para nos debruçarmos um pouco mais “Sobre os Princípios e os Fins”.

A ambiguidade dos termos, quer dizer, seja sobre os começos e os finais quem permeiam nossas vidas, seja sobre os princípios que nos guiam e os fins que queremos alcançar, não é casual mas sim uma última provocação para fechar esse primeiro ciclo da revista sem que, com isso, se encerre um sentido único aos percursos que, juntos, trilhamos nesses últimos meses. Nada mais apropriado para um ensaio, supomos, do que um final em aberto.

Conselho editorial.

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