tríptico para Elena
Série: Elena Ferrante
*** Todos os poemas da presente série foram inspirados em textos extraídos de FERRANTE, Elena. Frantumaglia: os caminhos de uma escritora. Tradução de Marcello Lino. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017.***
I.
cartago não caiu
quantos nomes
para tecer
o fio feminino
que forma nova
cartografia?
quantos bastam
para esculpir
novas tábuas
canônicas?
quantos mais
para compor os hinos
que entoaremos
nos templos despidos
dos velhos deuses?
quantos faltam
para raspar
dos palimpsestos da justiça
as leis dos homens?
quantos, enfim,
para a cidade franca
da promessa?
II.
o que Elena diria a Ariadne, abandonada em Amatonte
não acredites
em tudo o que lê, querida
o afeto de onde bebe
o teu olhar mareado
vem de fonte outra
cuidado
com o sal dissimulado
no que te mata a sede
o amor
esculpiu o precipício
e a psicanálise,
o léxico dos corpos
tributários do abismo –
querida fiandeira,
não penses nisso
tece outro fio
ou antes uma teia
queima as missivas –
como incensos
III.
vigência
substantivo feminino
1. qualidade, estado ou situação do que é vigente.
2. tempo durante o qual uma coisa vigora.
palavras relacionadas: vigor, ultra-ativo.
nenhuma lei
que não a do próprio
olhar:
vida que perfura
invade a fundura
do abandono
Anna Clara de Vitto (Santos/SP, 1986), é poeta e autora de Água indócil (Urutau, 2019) e MEADA (ed. da autora, 2019). Desde 2017, integra a coordenação do Clube da Escrita para Mulheres, fundado pela escritora, cordelista e poeta Jarid Arraes. Pela Casa das Rosas, em São Paulo, frequentou o Curso Livre de Preparação do Escritor — CLIPE (2018) e o curso Poesia Expandida (2019). Possui poemas publicados nas revistas Ruído
Manifesto, Mallarmagens, Cassandra, Desvario, Germina Literatura, Plural, Fazia Poesia, Literatura e Fechadura, Diversos Afins, Escrita Droide, entre outras. Além das publicações esparsas, ministra oficinas de poesia e participa de saraus, performances poéticas, podcasts, leituras e mesas de debate.