Desafios, enfrentamento e benefícios de ser uma asiático-americana lésbica ou bissexual

Revista Entendidas
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25 min readMay 17, 2021

Tradução por Amarezu de um trecho da pesquisa de Mi Ra Sung, Dawn M. Szymanski e Christy Henrichs-Beck, Challenges, Coping, and Benefits of Being an Asian American Lesbian or Bisexual Woman (2014) (1).

Nota introdutória

Se mulheres lésbicas e bissexuais enfrentam como um de seus maiores desafios a invisibilidade, lésbicas e bissexuais de origem asiática sentem esse problema de modo ainda mais agudo. Muitas podem chegar a sentir que são as únicas. Mas nós, lésbicas e bissexuais, estamos presentes em todos os grupos raciais, em todas as classes sociais, em todos os lugares. Parecer que não existimos em determinado grupo racial é apenas mais uma das manifestações do racismo que recai sobre mulheres racializadas.

Entendendo que há semelhanças no contexto estadunidense e brasileiro no que tange à invisibilidade de lésbicas e bissexuais de origem asiática, Amarezu, lésbica nipo-brasileira, nos brinda com a tradução de um estudo acadêmico sobre lésbicas e bissexuais asiático-americanas, o qual nos instiga a pensar sobre a condição das asiático-brasileiras.

Nos baseamos na ideia de que, em ambos os cenários, tanto nos Estados Unidos da América quanto no Brasil, essas mulheres são interpretadas como estrangeiras em seu próprio país. Ainda que muitas gerações de suas famílias estejam fora dos países de origem, as filipinas, japonesas, coreanas, chinesas, taiwanesas, vietnamitas, laosianas, indianas, sul-asiáticas e demais mulheres entrevistadas para essa pesquisa continuam sendo interpretadas como as “outras”, não importando o status de sua geração naquela localidade. O mesmo acontece aqui.

“Desafios, enfrentamento e benefícios de ser uma asiático-americana lésbica ou bissexual” é um artigo de 2014 que apresenta os resultados da pesquisa realizada por Mi Ra Sung, Dawn M. Szymanski e Christy Henrichs-Beck, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, sobre mulheres lésbicas e bissexuais de origem asiática, abarcando mulheres de primeira, segunda, terceira e até quarta gerações de asiáticos que migraram para os Estados Unidos.

Para nós, é também importante ressaltar que, embora o estudo contribua para suprir uma grave lacuna — razão pela qual consideramos importante torná-lo mais acessível às lésbicas e bissexuais brasileiras, avaliamos seu quadro teórico de referência como equivocado. Enquanto Ra Sung, Szymanski e Henrichs-Beck apoiam-se nas teorias queer para analisar a complexidade da identidade sexual das mulheres entrevistadas, nós entendemos que esse corpo de conceitos e conhecimentos choca-se frontalmente com a luta pela libertação das mulheres, visto que passou a ser desenvolvido para refrear os avanços do movimento de mulheres surgido na década de 1960, nos Estados Unidos. Somadas ao que ficou conhecido como teorias pós-modernas, as teorias queer não apenas contribuíram para estagnar a luta das mulheres, como prepararam o terreno para o surgimento de obstáculos ainda mais difíceis de transpor.

Por isso, entendemos que muitos termos utilizados no texto não correspondem com a nossa leitura de mundo. Heterossexismo; bissexismo; heteronormatividade; LGBT; orientação sexual; papéis tradicionais de gênero; a própria ideia de gênero, em si; e tantas outras expressões que, sabemos, não convergem com nossa interpretação do que é importante para a luta das mulheres, aparecem por todo o artigo que se segue. Optamos por fazer uma tradução fiel ao estudo original, apesar do conflito teórico entre nós e as pesquisadoras responsáveis.

Como lésbicas e feministas radicais, nós trabalhamos com a perspectiva da socialização para exercer papéis sexuais (2); por isso, recusamos a ideia de que existe conformidade ou identidade em torno do que mulheres asiáticas foram ensinadas a ser. Também interpretamos a heterossexualidade como uma instituição política que nos obriga a todas a servirmos laboral, sexual e afetivamente aos homens (3), e não como mera “orientação sexual”. Essa interpretação complexifica o cenário descrito pelas entrevistadas — que afirmam considerar suas comunidades “conservadoras”, por serem muito conectadas com as tradições e ritos — e nos permite compreender lésbicas e bissexuais como mulheres que se recusam a cumprir alguns papéis sexuais designados pela sociedade, ao negarem colocar seus corpos à disposição dos homens. Se somos ensinadas a servir aos homens e a acatar todas as expectativas das famílias sobre nós, basta juntar as etapas dessa equação para perceber como a heterossexualidade compulsória afeta mulheres nas comunidades asiático-americanas e brasileiras.

Resultados

Os resultados são organizados em torno das três questões de pesquisa. Os dados demográficos das participantes são incluídos entre parênteses após cada citação direta na forma de (número do participante, idade, identidade de minoria sexual, identidade étnica, status de geração). Abreviaturas foram usadas para serem simultaneamente concisas e descritivas. As abreviações de identidade de minoria sexual incluem “L” para lésbica, “B” para bissexual, “Q” para questionando, “O” para outro e “NS” para não tenho certeza. As abreviações de identidade étnica incluem “C” para chinês, “K” para coreano, “J” para japonês, “T” para taiwanês, “V” para vietnamita, “L” para laosiano, “F” para filipino, “H” para Hmong, “SA” para sul da Ásia, “I” para indiano e “O” para outro. As abreviações de status de geração incluem “1G” para 1ª geração, “2G” para 2ª geração, “3G” para 3ª geração e “4G” para 4ª geração. Como exemplo, o parênteses (P34, 20, L, C, 2G) identifica a participante 34 como 20 anos, lésbica, chinesa e 2ª geração.

Desafios/estressores

Em relação aos desafios do dia a dia enfrentados por mulheres asiático-americanas lésbicas ou bissexuais (AA LBW), dois domínios abrangentes foram identificados: viver com múltiplas identidades minoritárias e vivenciar opressão baseada na orientação sexual.

Dentro dos domínios, emergiram um total de cinco temas, um que incluía vários subtemas. A Tabela 1 [ao final do texto] ilustra os domínios abrangentes, bem como o número de casos que exemplificam cada tema/subtema. Além disso, é importante notar que três participantes relataram que foi difícil identificar desafios ou que sentiram que não havia desafios associados a ser uma AA LBW.

Vivendo com múltiplas identidades minoritárias. Algumas participantes relataram dificuldades em viver com identidades minoritárias múltiplas e cruzadas relacionadas ao racismo, heterossexismo e sexismo. Este domínio incluiu três temas: viver como mulheres de minoria sexual AA no contexto da cultura asiática; invisibilidade; e estereótipos sexuais, fantasias e fetichização.

Vivendo como uma mulher da minoria sexual AA no contexto da cultura asiática. Consistente com os valores culturais asiáticos descritos acima, quatro subtemas emergiram: conformidade com os papéis tradicionais de gênero, intolerância à homossexualidade e bissexualidade nas culturas de AA, dificuldades em revelar orientação sexual a outras pessoas e conflito com pais/famílias de AA.

Conformidade com os papéis tradicionais de gênero. Sete participantes relataram pressões relacionadas aos papéis de gênero feminino, especialmente em termos de aparência, atenção negativa, não conformidade de gênero e julgamento por outros. As participantes relataram sentir pressão para “ser mais feminina” (P45, 22, O, V, 2G), sentindo-se como “Devo me conformar a estilos de roupas e penteados mais femininos” (P34, 20, L, C, 2G), “Receber olhares de uma geração mais velha de asiáticos quando estamos juntos por principalmente a minha apresentação de gênero variar de feminina para andrógina” (P13, 26, O, C, 2G) e ficar “Nervosa em certos ambientes, especialmente se eu estiver vestindo roupas não conformes ao gênero” (P23, 21, O, SA, 2G). Uma lésbica que se descreveu como “muito masculina” relatou que “as pessoas fazem suposições o tempo todo sobre mim com base na maneira como me visto” e ela não “se encaixa” (P25, 26, L, F, 2G) ao interagir com grupos que aderem aos papéis tradicionais de gênero.

Intolerância à homossexualidade e bissexualidade nas culturas de AA. Quatorze participantes descreveram a cultura de AA como conservadora e geralmente intolerante à homossexualidade e à bissexualidade. A maioria das participantes escreveu sobre sua orientação sexual e relações com o mesmo sexo sendo consideradas invisíveis e inaceitáveis ​​em seus contextos culturais asiáticos; há uma “Percepção de que asiáticas não podem ser lésbicas (o que minha mãe me disse quando eu assumi para ela)” (P42, 46, L, T, 1G).

Descrevendo o senso de intolerância e falta de aceitação da cultura asiática, as participantes escreveram: “Eu sinto que os asiáticos tendem a ser mais conservadores e, como tal, são mais hesitantes em aceitar a homossexualidade” (P19, 21, L, T, 2G) e “Há também uma boa quantidade de homofobia nas várias comunidades asiáticas proeminentes em minha cidade (chinesa e coreana)” (P47, 19, O, J, 2G). Algumas participantes escreveram sobre a intolerância e a ignorância sobre a homossexualidade, não apenas sendo parte da cultura asiática como um todo, mas também por estar presente em suas famílias e parentes asiáticos: “A ideia de honra e orgulho familiar com a assustadora compreensão de quando um asiático se assume, toda a família pode te afastar” (P49, 28, L, V, 2G).

Dificuldades em revelar orientação sexual a outras pessoas. Vinte e sete participantes relataram que têm dificuldades com a divulgação de sua orientação sexual a outras pessoas, incluindo sua família, amigos, parentes, família da parceira, colegas de trabalho, alunos e/ou comunidade. Muitas participantes mencionaram sofrimentos em relação às questões de se assumir abertamente, como: sentimentos de pressão, desconforto, dificuldade, mágoa, nervosismo, estresse, preocupação, medo, hesitação, separação e negatividade. Ao tentar lidar e suportar tantas lutas, várias participantes descreveram a decisão de não se manifestar: “Simplesmente não conto a ninguém. Eu ajo normal a maior parte do dia para que muita gente não saiba” (P2, 19, B, C, 2G) e “Tenho medo de me assumir” (P35, 19, NS, O, 2G). Às vezes, as decisões das participantes de não se manifestarem também se estendiam à família: “Eu diria que o maior desafio é manter minha identidade e relacionamento em segredo de minha família” (P14, 21, L, K, 2G) e “Estou escondendo quem eu sou de toda a minha família chinesa” (P32, 20, O, O, 2G), possivelmente porque sua sexualidade levanta “Conflito com as tradicionais crenças e culturas asiáticas” (P33, 18, L, C, 2G) e AA LBW têm que lidar com “A pressão do casamento e as expectativas encontradas em famílias asiáticas típicas” (P16, 22, L, L, 2G). As decisões de não revelar à família, portanto, pareciam estar relacionadas aos princípios e pressões dos valores culturais asiáticos tradicionais: “Não posso contar à minha família porque, se o fizer, a reação deles seria muito mais drasticamente negativa, considerando o tipo de cultura de onde eles vêm” (P40, 22, B, K, 2G).

Assumir não é um processo estático, como algumas participantes notaram, há um estresse adicional relacionado a uma negação contínua da revelação da orientação sexual, “Também é uma luta diária me perguntar se devo me assumir para as pessoas ou não” (P21, 22, O, K, 2G), “Assumir-me é um processo pelo qual devo passar com todos que encontro e devo decidir quando ou se é apropriado fazê-lo. Tenho que sempre me perguntar se minha sexualidade vai ameaçar minhas relações de trabalho ou amizades” (P34, 20, L, C, 2G), e “Eu constantemente tenho que me preocupar que se eu deixasse certas pessoas saberem sobre minha sexualidade, eu estaria exposta aos meus pais extremamente homofóbicos que atualmente não têm ideia da minha orientação sexual e do fato de que atualmente tenho uma namorada” (P27, 19, B, C, 3G).

Conflito com pais/famílias de AA. Vinte e quatro participantes descreveram vivências de conflito com suas famílias AA em relação à orientação sexual, assumir-se e/ou assumir relacionamentos. O nível de divulgação das participantes sobre sua orientação sexual para a família e o grau de conflitos relacionais variaram de acordo com o grau de consciência, abertura e aceitação de seus pais. Para as participantes que não eram abertas para a família, parecia criar uma “Pressão em casa, sendo incapaz de ser quem eu realmente sou com meus pais” (P8, 29, L, T, 2G). As participantes descreveram o conflito e estresse que sua sexualidade criou em seus relacionamentos com os pais, que muitas vezes, era sentida pela falta de apoio para suas vivências e identidades de LBW: “Meus pais não são apenas cristãos, mas também coreanos tradicionais, então, quando eu me assumi, foi um desastre. Eu sabia que eles me expulsariam de casa se soubessem que continuo com esse estilo de vida” (P14, 21, L, K, 2G) e “Sinto que perco a voz ao discutir com meus pais sobre esse assunto (problemas sociais enfrentados por homossexuais). Às vezes, fico tão magoada com a insensibilidade deles que simplesmente fico chocada em silêncio” (P27, 19, B, C, 3G).

Embora algumas participantes tivessem familiares que eram mais abertos e receptivos, as dificuldades permaneceram com outros membros da família de mente fechada e com o esforço dos membros da família para aceitar plenamente a sexualidade e relacionamentos das participantes, “No entanto, recentemente descobri que meu pai ficaria ok se eu trouxesse uma namorada para a casa. Minha mãe acharia nojento” (P12, 21, B, V, 2G) e “Eles [pais] sabem da minha namorada branca e que ela mora comigo, mas eles lutam para preencher a lacuna e criar um relacionamento com ela” (P7, 30, L, V, 2G). Às vezes, o reconhecimento e/ou aceitação da sexualidade de uma participante era restringido para a unidade familiar mais próxima e escondida dos familiares e comunidades mais amplas de AA:

“Meu pai aceitou minha parceira como minha namorada lésbica, mas não reconheceu que esse era o nosso relacionamento. Quando em público, ele nos permitiu dar as mãos, abraçar e beijar na sua frente, mas pediu que não o fizéssemos em Chinatown ou quando visitássemos o Havaí em família, pois havia muitos outros asiáticos por perto” (P15, 21, B, C, 2G).

e

“Minha família não aceita minha sexualidade e minha mãe está escondendo minha identidade queer dos meus avós chineses. Porque eu não falo cantonês, não posso contar a eles sobre isso. Minha mãe está escondendo isso dos meus avós porque ela acha que eles ficariam ‘de coração partido’ com o que eu tenho feito” (P32, 20, O, O, 2G).

Invisibilidade. Dezesseis participantes relataram enfrentar desafios relacionados à invisibilidade. Essa invisibilidade e falta de representação de AA LBW ocorreram tanto na comunidade LGB quanto na cultura norte-americana mais ampla. As participantes descreveram: “Ser invisível para o público, bem como para a comunidade queer em geral, como uma mulher bissexual feminilizada asiático-americana” (P31, 25, B, C, 2G), “Também é difícil e cansativo ser constantemente invisível para outras mulheres lésbicas e bissexuais” (P27, 19, B, C, 3G), e ser negada por “Ter outras lésbicas/bissexuais sem nem mesmo considerar que eu possa estar interessada nelas porque eu sou uma coreana-americana. Os coreanos são conhecidos por serem cristãos, conservadores e preocupados com sua imagem. Ninguém presumiria que eu, como coreana, seria bissexual por causa desses fatores” (P40, 22, B, K, 2G). A invisibilidade também foi discutida em termos de falta de uma comunidade e pessoas LGB AA, “Não sendo capaz de encontrar outras lésbicas ou bissexuais asiático-americanas para se relacionar nas proximidades” (P16, 22, L, L, 2G), fazendo com que as participantes sintam-se “desconectadas” e “isoladas”, “Visto que vejo tão poucas asiáticas que são abertamente lésbicas ou bissexuais, sinto-me mais isolada porque parece haver menos pessoas como eu” (P19, 21, L, T, 2G). Essa invisibilidade é ainda mais reforçada pela cultura e mídia convencionais, como uma participante expressou eloquentemente:

“O maior desafio do dia a dia é simplesmente o quão invisível eu me sinto, seja o que é mostrado na mídia convencional, os livros que leio ou as notícias frustrantes mais recentes sobre como os estereótipos asiático-americanas ainda estão em alta e as mulheres bissexuais ainda são sub-representadas. Para mim, a mídia sempre foi poderosa. Para simplificar, sempre acreditei que a mídia pode ditar quem pensamos que podem ser heróis, o que nossa sociedade acredita atualmente sobre tal grupo de pessoas ou que ideais perpetuamos. Eu existo, sou um indivíduo multifacetado e complexo e, no entanto, estou reduzida a um estereótipo exótico, a uma amiga ou, na maioria das vezes, a nada. Sou uma mulher invisível e anseio por existir” (P41, 22, B, F, 2G).

As participantes também escreveram sobre a invisibilidade decorrente do racismo que existe dentro da comunidade LGB e observaram a primazia da “brancura” e do “racismo de supremacia branca/anti-asiática” dentro da comunidade LGB. “Acho que a maioria dos recursos LGBT são voltados para homens gays brancos” (P15, 21, B, C, 2G). A experiência de uma participante envolveu lutar contra essa invisibilidade baseada no racismo, “Escrever uma tese (que se tornou minha única atividade do dia a dia) que aborda o racismo na literatura LGBT, no trabalho acadêmico, na política e nas comunidades. A brancura desestabilizadora como norma aceita para a vivência LGBT” (P18, 23, L, F, 2G).

Estereótipos sexuais, fantasias e fetichização. Oito participantes ilustraram como o racismo, heterossexismo e/ou sexismo influenciam as vivências de AA LBW em relação à objetificação e estereotipagem sexual, particularmente sendo “Reduzida a um estereótipo exótico” (P41, 22, B, F, 2G). Ao descrever esta paisagem social, as participantes compartilharam como “Há uma expectativa consistente para que a mulher asiática seja abertamente sexual e desejosa de homens brancos e, se não de homens brancos, de mulheres brancas. Dia após dia, enfrento insinuações sutis, comentários sexualmente sugestivos e assim por diante” (P28, 28, L, C, 2G) e “Existem muitos estereótipos sexuais sobre mulheres asiáticas que enfatizam comportamentos exóticos e, pessoas associam ser lésbica com esse tipo de fantasias ou seja, não levar a sério as lésbicas asiáticas como pessoas com vidas reais” (P6, 42, L, K, 2G). Esses estereótipos e atos de objetificação sexual também atuam nas experiências de AA LBW com namoro e escolha de parceiros, como as participantes descreveram: “Eu vivencio pessoas fetichizando minha raça, bem como minha sexualidade. Não gosto da ideia de ‘cumprir’ o estereótipo de mulher asiática esquisita que vejo frequentemente em filmes, por isso sou extremamente cautelosa ao escolher parceiros(as) que não esperam certas coisas por causa da minha raça, sexo ou sexualidade” (P12, 21, B, V, 2G) e “Eu me deparo com muita fetichização da asiática, geralmente na forma de me dizer que sou exótica ou parecida com a Mulan. Então, toda vez que eu saio num encontro, tenho que levar em consideração que pode ser febre amarela” (P36, 18, B, O, 3G). Para algumas participantes, tal fetichização e objetificação é tão angustiante que as leva a questionar o fato de serem abertas e assumidas como uma LBW: “Estou farta do fetichismo objetificante de relacionamentos lésbicos. Embora eu ache que é melhor do que ser odiada, ainda é desumano e quase me faz querer não ser assumida” (P38, 20, B, J, 4G).

Vivenciando opressão baseada na orientação sexual. Consistente com a literatura teórica e empírica que examina opressões heterossexistas como fatores de risco entre indivíduos LGB (cf., Huang et al., 2010; Szymanski et al., 2008a), dois temas emergiram neste domínio: vivenciando heterossexismo/bissexismo externo e internalizado heterossexismo/bissexismo.

Heterossexismo/bissexismo externo. Vinte e uma participantes descreveram vivenciar heterossexismo externo e/ou bissexismo. As participantes relataram sentir “medo constante”, “mágoa” e “desconforto” em lidar com a “homofobia” ou “mensagens homofóbicas da sociedade exterior”.

Uma participante lembrou: “Certa vez, após jantar em um restaurante na área de Seattle, uma mulher sentada perto de nós disse a seus filhos que ‘essas pessoas são chamadas de lésbicas’, apontou para minha parceira e disse ‘aquela é provavelmente transgênero’. Sem saber do próprio erro, ela sorriu para nós como se estivesse nos fazendo um favor” (P15, 21, B, C, 2G). Às vezes, as participantes vivenciam uma interseção entre heterossexismo e racismo, “Posso dizer com certeza que o Sul quase não aceita/inclui os americanos de origem asiática, mas praticamente não aceita pessoas LGBTQ” (P7, 30, L, V, 2G).

As participantes também discutiram os desafios específicos aos estereótipos sobre a bissexualidade, incluindo a bissexualidade sendo “apenas uma fase” e a bissexualidade sendo sinônimo de promiscuidade, como uma participante descreveu: “Embora eu tenha sugerido aos membros da minha família que sou bissexual, eles não me levam a sério porque eles acham que a sexualidade é uma escolha. A bissexualidade para eles é uma fase. Além disso, os parceiros masculinos, às vezes, sugeriam que convidássemos outra mulher para ter relação sexual” (P26, 19, B, C, 1G).

Além de formas mais evidentes de heterossexismo/bissexismo, as participantes relataram lidar com pressupostos socioculturais de heterossexualidade em suas trocas interpessoais. Elas expressaram a prevalência da heteronormatividade em suas vidas: “Não sou visivelmente lésbica, o que significa que todos simplesmente presumem que sou heterossexual. É incrivelmente doloroso e estressante ter uma parte importante da minha identidade tão sem sentido para as outras pessoas que nem mesmo entra em seu radar” (P21, 22, O, K, 2G) e “As pessoas, às vezes, me perguntam sobre um namorado” (P8, 29, L, T, 2G).

Heterossexismo/bissexismo internalizado. Quatro participantes relataram que vivenciaram algum nível de mensagens e atitudes negativas internalizadas sobre sua orientação sexual, incluindo conflitos com sentimentos de vergonha, injustiça, anormalidade e inaceitabilidade. As participantes expressaram: “Sentir que estou me escondendo e que preciso esconder uma das minhas identidades, o que me faz sentir que ser queer é uma vergonha, quando sei que não deveria ser assim” (P22, 20, O, C, 2G), “Como lésbica, sinto-me mal. Eu vejo mulheres ao meu redor com crianças. Quero filhos e uma família normal como aquela em que cresci” (P50, 22, L, H, 1G) e “Embora ser atraída por vários gêneros esteja ficando cada vez mais aceitável, ainda hesito em ser uma bissexual aberta e orgulhosa porque ainda parece inaceitável em algum grau” (P31, 25, B, C, 2G).

Enfrentamento e resistência

Entre as estratégias de enfrentamento que as AA LBW compartilharam para lidar com seus desafios do dia a dia, dois domínios abrangentes emergiram: estratégias de gerenciamento de identidade e estratégias de empoderamento. Dentro desses domínios, um total de sete temas foram identificados (ver Tabela 1). Além disso, duas participantes escreveram “n/a” e uma participante deixou em branco a resposta à pergunta sobre suas estratégias de enfrentamento.

Estratégias de gerenciamento de identidade. As participantes descreveram uma variedade de maneiras como gerenciam e protegem suas identidades AA LBW e, dentro desse domínio, três temas emergiram: usar camuflagem cultural, evitar quaisquer assuntos/situações relacionadas à sexualidade e esconder/tirar a ênfase.

Usando camuflagem cultural. Cinco participantes relataram que usam certas normas e costumes do contexto cultural asiático para lidar com o heterossexismo e o preconceito baseado na orientação sexual, “camuflando” suas identidades de minorias sexuais e relações entre pessoas do mesmo sexo com tais elementos culturais. Às vezes, as participantes usavam normas culturais asiáticas, como afeto entre amigas, para esconder a atração e afeição romântica, como uma participante descreveu: “A maioria das pessoas veria o abraço feminino como uma razão de segurança (psicologia) ou simplesmente uma necessidade de amizade… As mulheres são mais emocionais do que os homens, portanto, enquanto outras veem um simples abraço como sem sentido, o casal pode vê-lo como uma abordagem sexual” (P2, 19, B, C, 2G). Na cultura asiática, os indivíduos não são definidos por sua sexualidade (por exemplo, atração sexual, comportamento sexual), e a lesbianidade e as relações entre pessoas do mesmo sexo são vistos como “conceitos ocidentais” que não afetam a cultura asiática (Chan, 1989, 1997). Este princípio cultural camuflou os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo de algumas participantes, tornando-os invisíveis na cultura asiática e, finalmente, minimizando as reações homofóbicas e promovendo mais tolerância de outros AA. Como uma participante compartilhou:

“Acho que estar em um relacionamento interracial e morar em uma cidade cosmopolitana sempre me protegeu da maioria da discriminação. Acho que outros asiáticos ignoram muito o fato de que estou visivelmente com uma parceira do mesmo sexo e desculpam o fato de que minha parceira não é asiática. Dessa forma, sinto que as reações homofóbicas típicas são reduzidas… talvez seja a ideia de que as não-asiáticas ‘me desencaminharam’, e não que duas asiáticas imersas na cultura deram as costas para os ideais asiáticos” (P15, 21, B, C, 2G).

Embora algumas participantes tenham transmitido as dificuldades envolvidas na presunção da cultura asiática de heterossexualidade e pressão para se casar, algumas participantes discutiram como elas podem usar o tabu cultural asiático de discussão sobre sexo e sexualidade (Chan, 1997) para esconder suas identidades sexuais minoritárias e manter a atenção em outras facetas da vida:

“Como na cultura asiática não é incentivado que as filhas namorem até passar dos 21 anos (de preferência após o terceiro ou quarto ano de faculdade), é fácil esconder minha bissexualidade mesmo se eu não tiver um namorado. Embora eu saiba que essa vantagem é temporária e terei que me casar por volta dos 27 anos, gostaria de saborear o fato de que meus pais se preocupam com minhas atividades acadêmicas muito mais do que relacionamentos românticos/sexuais, que basicamente posso me esconder na graduação e mais tarde, na pós-graduação (espero). Também é um estigma na comunidade asiático-americana não falar sobre relações sexuais, então a questão e o tópico nunca são levantados e eu nunca terei que lidar com a estranheza de respondê-los” (P27, 19, B, C, 3G)

Evitando quaisquer assuntos/situações relacionadas à sexualidade. Onze participantes relataram que usam estratégias de enfrentamento evitativas para lidar com a prevalência de heteronormatividade em suas vidas e relacionamentos. As participantes descreveram como evitar certas interações, situações e tópicos de conversas que podem (muitas vezes) catalisar reações heterossexistas: “Eu tento evitar qualquer confronto e se o assunto surgir, eu contorno o assunto e tento mudar de assunto” (P8, 29, L, T, 2G); “Em termos de homofobia, eu apenas tento evitar situações que possam nos causar problemas” (P36, 18, B, O, 3G), e às vezes, tal evitação é pelo conforto alheio, “Quando se trata de minha família, eu fico em silêncio. Evito tópicos sobre questões LGBTQ nem que seja para manter a harmonia dentro da minha família ou para evitar estressar meu pai” (P41, 22, B, F, 2G). Em níveis mais extremos, as participantes descreveram a evitação e/ou término de relacionamentos e contato com seus pais e famílias: “Encerrei meu relacionamento com minha família/pais” (P1, 48, B, C, 1G), “Eu tento me distanciar dos meu pais tanto quanto posso” (P14, 21, L, K, 2G), e “Eu lido ficando na escola e vendo meus pais com a maior moderação possível” (P27, 19, B, C, 3G).

Escondendo/desenfatizando. Assumir-se para os outros provavelmente aumentará as chances de encontrar preconceito heterossexista, discriminação, assédio, rejeição e violência, e as decisões de se assumir para os outros precisam ser pesadas contra as possíveis consequências negativas que podem surgir (Szymanski & Sung, 2010). Nove participantes relataram proteger-se de tais riscos ocultando ou diminuindo a ênfase da sua orientação sexual em seu cotidiano. Por exemplo, as participantes escreveram: “Eu retiro a ênfase em referências sexuais ou pessoais de qualquer tipo” e (P6, 42, L, K, 2G) “Não há muito a fazer, exceto ter cuidado e ter configurações de privacidade que não permitem que as pessoas postem sem minha permissão. Também significa não trazer pessoas significativas para eventos familiares, que são difíceis de lidar” (P20, 25, L, C, 2G). Outras participantes descreveram negociar os riscos de se expor ao controlar o nível de divulgação de sua orientação sexual a outras pessoas: “Só falar com pessoas em quem confio sobre minha orientação. Às vezes, tento ficar invisível quando não me sinto segura” (P23, 21, O, SA, 2G), “Eu apresento uma versão muito limitada de mim mesma aos meus familiares’’ (P34, 20, L, C, 2G), e “Eu separo minha vida familiar e a minha vida social/escolar” (P35, 19, NS, O, 2G).

Estratégias de empoderamento. Além de gerenciar a própria identidade sexual, as participantes também empregaram estratégias de empoderamento para lidar com a opressão. Dentro desse domínio, quatro temas emergiram: construir sistemas de apoio social/criar espaços seguros, resistir/confrontar, engajar-se no ativismo social e engajar-se em uma variedade de processos de resiliência.

Construindo sistemas de apoio social/criando espaços seguros. Consistente com o modelo teórico de Kwon (2013) de fatores de resiliência em indivíduos LGB, um grande número de participantes neste estudo (n 18) relatou várias maneiras de construir sistemas de suporte social. Esses métodos incluíam a criação de seus próprios espaços seguros por meio de seus relacionamentos, incluindo “irmãs”, “amigos LGBT”, “aliados” e “família”, bem como o envolvimento ativo em “uma comunidade queer asiática”, “grupos de apoio on-line”, “um grupo de mulheres”, “um grupo/clube LGBTQ asiático-americano” e “alguns sites e páginas de tumblr para mulheres lésbicas e bissexuais de cor”. As participantes relataram que elas poderiam gerenciar com eficácia seus desafios e vivências opressivas com apoio, consciência, segurança, normalização, aceitação e empoderamento: “Eu tenho um grupo próximo de amigos queer-identificados que enfrentam desafios semelhantes. Falar com eles e criar espaços seguros juntos é incrível e fortalecedor para mim” (P21, 22, O, K, 2G) e “Ter a namorada mais incrível e amigos/irmãs que me apoiam, me ajuda a lidar com qualquer um dos desafios que possa enfrentar. Só de saber que tem gente em quem posso contar e que vai me apoiar de qualquer jeito, facilita o enfrentamento” (P10, 21, B, F, 2G).

Resistindo/confrontando. Doze participantes relataram utilizar estratégias de resistência e/ou enfrentamento para lidar com o estigma e o preconceito. As participantes se engajaram em atos de resistência por meio da externalização do locus da questão heterossexista, assumindo-se, sendo publicamente afetuosas e expressando-se como únicas e separadas das normas culturais. Várias participantes relataram uma recusa em permitir que a estreiteza de outros se tornasse seu problema e, em vez disso, colocaram a necessidade de mudança de mentalidade por parte do opressor: “É problema deles se eles não gostam, não meu” (P19, 21, L, T, 2G) e “Se as pessoas têm problemas em assumir corretamente que sou lésbica e têm questões com isso, então 1) são burras e 2) não é problema meu. Aprendi a não me preocupar com os problemas de outras pessoas porque é uma perda de tempo” (P25, 26, L, F, 2G). Ao compartilhar atos de resistência, outros participantes descreveram: “Para demonstrações públicas de afeto, acho que acabei de aceitar, as pessoas precisam ver. Quanto mais pessoas veem isso acontecendo, mais normalizado é. Ser visível é o primeiro ato de resistência” (P13, 26, O, C, 2G) e “Assumo-me a conhecidos que presumem que sou heterossexual. Digo aos homens que dão em cima de mim em bares que estou lá com minha parceira e não estou interessada. Não tenho vergonha de quem sou independentemente do estigma cultural ou não” (P3, 27, L, T, 1G).

O confronto, muitas vezes, vinha na forma de participantes “repreendendo” os outros, embora isso muitas vezes dependesse de seus relacionamentos ou proximidade relacional, “Vou repreender meus amigos e parceiros sobre coisas homofóbicas/transfóbicas, mas não meus pais. Permito-me sentir raiva e exigir responsabilidade daqueles que estão mais próximos de mim” (P31, 25, B, C, 2G). Da mesma forma, outra observou: “Tento falar abertamente quando considero as ações de outras pessoas opressivas, a menos que sejam os pais dos meus amigos ou outra pessoa com quem não é da minha conta falar sobre isso” (P38, 20, B, J, 4G).

Envolvendo-se no ativismo social. Seis participantes relataram que se envolveram em uma variedade de atividades de ativismo para enfrentar e desafiar múltiplas formas de opressão, incluindo falar abertamente, liderança da comunidade LGBTQ, trabalho acadêmico e envolvimento em organizações ativistas universitárias. As participantes compartilharam: “Criando trabalho acadêmico que se centra nas vozes de lésbicas de cor e integra a análise interseccional que não reforça o essencialismo de gênero que privilegia a vivência lésbica branca e silencia todas as outras” (P18, 23, L, F, 2G) e sendo “Uma das únicas duas asiático-americanas lésbicas que fala abertamente, participa de eventos políticos e exige igualdade” (P7, 30, L, V, 2G). Além disso, as participantes escreveram sobre o ativismo voltado para a construção de uma comunidade inclusiva, aumentando a consciência da diversidade e aumentando a visibilidade e representação das minorias e comunidades sexuais de AA. Por exemplo, “Tenho o privilégio de ser uma defensora pública e, esperançosamente, indiretamente, ajudar a educar mais pessoas a serem tão receptivas quanto minha família e desempenhar um pequeno papel no aumento da visibilidade das mulheres bissexuais asiático-americanas” (P38, 20, B, J, 4G).

Envolvendo-se em uma variedade de processos de resiliência. Oito participantes relataram se envolver em diferentes tipos de processos de resiliência para gerenciar seu status de minoria, incluindo terapia, meditação, leitura, escrita, esportes, hobbies, férias e relacionamentos íntimos. Por exemplo, uma participante escreveu sobre extrair força e conforto de sua leitura:

“Eu leio histórias em quadrinhos e artigos de outras mulheres asiáticas que vivem na América ou no exterior para me conectar com os desafios sociais e tradições que estou familiarizada. Eu também li histórias negativas sobre saída do armário de mulheres bissexuais porque acho reconfortante saber que outras pessoas passam pelas mesmas coisas e sobrevivem” (P12, 21, B, V, 2G).

Aspectos positivos

Apesar dos desafios de ser uma AA LBW, as participantes também descreveram várias facetas positivas de suas identidades e vivências raciais/étnicas e sexuais minoritárias, que se desenvolveram em dois domínios: fontes socioculturais de força e percepção, e empatia por si e pelos outros (adaptado de Riggle et al., 2008). Dentro desses domínios, um total de seis temas foram identificados (ver Tabela 1). Além disso, surpreendentes 20% das participantes da amostra (n 10) relataram que não havia nada de positivo em ser uma AA LBW ou que “não tinham certeza”. Por exemplo, as participantes escreveram: “Nada, nesta sociedade, é muito mais fácil que ser branco e do sexo masculino. Há tantas coisas contra nós: raça, orientação sexual, sexo, aparência/visual” (P40, 22, B, K, 2G) e “Sinceramente não consigo pensar em nada de positivo” (P10, 21, B, F, 2G).

Fontes socioculturais de força. Muitas participantes descreveram fontes de força no contexto sociocultural como AA LBW, e três temas emergiram neste domínio: pertencer a uma comunidade, culturas/valores asiáticos como fontes de força e liberdade das restrições da heterossexualidade e normas de gênero opressivas.

Pertencer a uma comunidade. Onze participantes relataram que pertencer e ter conexões com comunidades de apoio, incluindo as mulheres AA, as AA LBW e as comunidades LGBTQ, eram aspectos positivos de ser uma AA LBW. As participantes expressaram que seu senso de comunidade as fez sentirem-se apoiadas, sortudas, gratas, reconfortadas, fortalecidas, compreendidas, aceitas, motivadas e empoderadas e que “Eu tenho um certo parentesco com outras pessoas LGBTQ asiáticas, porque só nós podemos entender as especificidades pelas quais passamos. É como se eu tivesse minha própria pequena comunidade” (P37, 18, B, J, 2G).

Culturas/valores asiáticos como fontes de força. Seis participantes relataram que extraíram força e significado de suas culturas/valores asiáticos, incluindo ensinamentos, anedotas, tradições, filosofia e história. As participantes escreveram: “Eu encontro conforto nos ensinamentos e anedotas de meu pai sobre o Vietnã, suas mitologias e como é viver lá” (P12, 21, B, V, 2G), “Como uma chinesa, estou muito orgulhosa de que a China não tem realmente um histórico de homofobia (pelo menos não tão sério quanto o Ocidente). E nossa linguagem sempre foi sem binaridade de gênero até a ocidentalização” (P26, 19, B, C, 1G),

e

“Quanto a mim, adoro o fato de que minhas culturas são antigas e deram muitas coisas positivas ao mundo. Também aprecio a ênfase na educação e no respeito pelos mais velhos. Gosto da consciência de tentar ser atenciosa com as outras pessoas e da ideia de que a harmonia do grupo é tão importante quanto a individualidade” (P24, 52, L, O, 4G).

Livre de restrições de heterossexualidade e normas de gênero opressivas. Sete participantes expressaram que sentiram uma sensação de liberação e “liberdade das restrições de heterossexualidade e normas de gênero opressivas” e expectativas colocadas sobre mulheres heterossexuais AA. As identidades de LBW das participantes permitiram que elas redefinissem a beleza, como relatado em “Eu acho lindo não ficar restrita ao heteronormativo e conformada ao gênero para escapar do binário de gênero heterossexista” (P12, 21, B, V, 2G), “Eu estou vivendo pelos meus próprios valores, valorizando as pessoas e não me limitando a um gênero ou seguindo regras de gênero prescritas no namoro” (P38, 20, B, J, 4G), e moldar papéis de gênero alternativos de sua escolha, “Sentindo como se eu não precisasse atender às expectativas convencionais de ser uma mulher asiática” (P11, 26, O, C, 2G).

Compreensão e empatia por si mesma e pelos outros. Muitas participantes relataram vivências positivas de percepção e reflexão pessoal, bem como aumento da empatia por outras LGB AA e grupos marginalizados. Nesse domínio, três temas emergiram: senso positivo de si mesma, singularidade e aumento da empatia e compaixão pelos outros/mundo.

Sentido positivo de si mesma. Onze participantes consideraram ter um senso positivo de si mesmas como um aspecto positivo de suas identidades AA LBW. As participantes descreveram um forte senso de identidade: “Tudo isso envolve abraçar e amar quem eu sou e quem escolho ser… e isso me traz mais paz do que ficar no armário e fingir uma vida que não tenho e nem quero” (P13, 26, O, C, 2G), que às vezes era conquistada pelas dificuldades de ser uma AA LBW, “Acho que tenho uma auto identidade muito forte que veio de muitos anos de questionamento, compreensão, não gostar e, eventualmente, gostar e apreciar minhas múltiplas identidades” (P3, 27, L, T, 1G).

Singularidade. Quatorze participantes relataram que a singularidade era um aspecto positivo de ser AA LBW. Algumas participantes afirmaram que, uma vez que havia poucas pessoas LGB AA, “Todo mundo me conhece ou já ouviu falar de mim” (P7, 30, L, V, 2G), “Eu sou a única amiga lésbica asiática favorita de todos” (P16, 22, L, L, 2G), e “Poucas bissexuais/lésbicas asiático-americanas estão fora de questão em comparação com outras etnias, então parece haver um fator de raridade/singularidade, que as pessoas tendem a gostar” (P10, 21, B, F, 2G).

As participantes também relataram que sua identidade deu origem a “Uma perspectiva única e interseccional do mundo” (P31, 25, B, C, 2G), permitindo-lhes “Ver a sociedade de uma forma diferente, de forma mais crítica e inteligente” (P6, 42, L, K, 2G) e “Encontrar semelhanças com muitas comunidades diferentes” (P31, 25, B, C, 2G). Para algumas participantes, a singularidade veio por ter uma identidade “intermediária”, “Eu me avalio como alguém que ‘caminha entre os mundos’ e os emergentes espaços de consciência que posso fazer parte” (P43, 33, NS, I, 1G), que agrega significado e valor a eles e às comunidades das quais fazem parte, “Acho que trazemos uma visão para cada um de nossos grupos de identidade, seja trazendo uma perspectiva asiático-americana para uma comunidade queer ou uma perspectiva queer para uma comunidade asiático-americana” (P44, 20, L, O, 4G).

Maior empatia e compaixão pelos outros/mundo. Quatro participantes relataram que suas identidades AA LBW aumentaram sua empatia pelos outros em grupos minoritários e as ajudaram a se tornarem mais abertas ao mundo. As participantes escreveram: “Viver no cruzamento me tornou mais empática e aberta ao mundo. Sou politizada pela minha identidade. Por isso faço o trabalho que faço” (P4, 25, L, T, 2G), “Tenho mais empatia, sabendo o que é ser minoria dentro de uma minoria” (P41, 22, B, F, 2G), e “Minhas identidades me ajudam a ter mais empatia com outros grupos historicamente marginalizados” (P9, 21, O, C, 1G).

Tabela: Revista Entendidas

Referências

(1) Challenges, Coping, and Benefits of Being an Asian American Lesbian or Bisexual Woman (2014)

(2) O que é socialização e o que é educação? | by Furiosa | QG Feminista

(3) Heterossexualidade compulsória e existência lésbica | Adrienne Rich |Bagoas — Estudos gays: gêneros e sexualidades

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