Editorial #1

Revista Entendidas
Revista Entendidas
Published in
3 min readMar 8, 2021

Queridas lésbicas,

Queridas sapatonas,

Queridas entendidas,

Nós, as criadoras da Revista Entendidas, nos juntamos por acreditar na necessidade de ocupar um espaço que para nós é muito caro: o das revistas e publicações destinadas às lésbicas. Ao longo dos anos, fomos apresentadas às poucas publicações que existem sobre o assunto e, reunindo teoria feminista, rebeldia, uma vontade imensa de representar lésbicas e de resgatar a história e a memória de mulheres: aqui estamos. Viemos nos reunindo periodicamente desde o ano passado e elaborando com muito cuidado o que pensamos para esse projeto, que nasce agora num oito de março.

É porque carregamos em nossas consciências coragem, força e motivação que a identidade visual das Entendidas traz uma paleta de cores na qual o vinho simboliza esses três elementos. O amarelo representa uma aposta na comunicação e na linguagem antissexista e antilesbofóbica, além de sintetizar a principal inspiração que nos move: a libertação que está em nosso horizonte. A paleta também traz o laranja, simbolizando entusiasmo e uma interação ética e feminista por meio da amizade política. O marrom acrescenta uma camada de solidez, consistência, seriedade e paciência para o diálogo. Por fim, a lâmpada nos fala sobre a criatividade, que acreditamos ser um caminho importante para a emancipação das mulheres e para a mudança da sociedade. O formato de vulva é acrescentado porque acreditamos na força das mulheres e na importância de voltarmos nossa energia para nós mesmas e para nossas irmãs.

Aqui no Medium, publicaremos um texto por semana, que poderá ser uma tradução ou um artigo autoral, sempre escritos ou traduzidos por uma de nós. Ao longo de três publicações semanais no Instagram, abordaremos o mesmo texto de diferentes maneiras, especialmente por acreditarmos no debate como importante instrumento para despertares críticos. É também nossa missão divulgar a história das mulheres que nos antecederam, com quem nos identificamos e onde calcamos nossos saberes, além de seus legados como teóricas.

Foi também considerando os motivos de termos idealizado e concretizado essa revista que escolhemos o tema da nossa primeira edição: apagamento lésbico. A diminuta existência de referências para lésbicas, principalmente orientadas pela teoria e por práticas feministas, faz parte desse apagamento tanto quanto é explicada por ele. Colocar em foco a existência lésbica e sua importância para a luta pela libertação das mulheres é uma ameaça ao patriarcado e, portanto, nosso dever. Por isso a urgência de falarmos sobre como fomos apagadas da história e como seguimos tendo negada nossa existência, de diversas e novas maneiras.

Nos referenciamos em Chanacomchana, na Revista Labrys, em La Revuelta, em La Boletina, em Fem, em Cihuat, em La Correa Feminista, em Mujeres en Red e em tantas outras que se mobilizaram para falar sobre a realidade de mulheres em um mundo patriarcal. Especialmente, nos referenciamos nas que ousaram falar do amor entre mulheres, tema que, desde os tempos antigos, é vetado — mesmo, e ainda, em espaços feministas.

É com a força das lésbicas, sapatonas, entendidas e caminhoneiras que apresentamos nosso trabalho, acreditando ser um exercício de coragem, resistência e amizade política. Nossa revista se destina sobretudo às mulheres que amam exclusivamente mulheres, mas queremos também ser um espaço de reflexão para as mulheres dispostas a amar mulheres e para aquelas que desconfiam que podem e devem se relacionar com mulheres. Bem-vindas.

Saudações feministas, em 8 de março de 2021,

Entendidas

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