Limite (1930), de Mário Peixoto

Giulia Tessitore
Revista Flusser
Published in
2 min readDec 2, 2020

por Giulia Tessitore

filme Limite, de Mário Peixoto, realizado em 1930 tem como contexto o ápice do cinema mudo, lembrado por Bazin como o limite da evolução da obra cinematográfica, capaz de enorme impacto por sua sofisticação. Neste momento, a linguagem cinematográfica atingia sua forma própria, complexidade formulações de ideias a partir da composição e montagem. Assim, Mário Peixoto decide produzir seu filme, que seria lembrado por Glauber Rocha como grande mistério que reuniu elogios de Mário de Andrade a Eisenstein.

Mário Peixoto, como pode-se ver em Limite, trabalha com o “cinema puro”. Narra muito mais o seu mundo interior do que uma história focalizada em um personagem. Trabalha com uma sensibilidade estética apurada, experimentando angulações, composições e efeitos de montagem. O diretor, pela arte, consegue provocar sensações. Glauber, em seu capítulo dedicado ao Mito Limite, classifica-o como arte pela arte, um cinema que não carrega mensagens.

Estes dois planos, colocados em sequência, trabalham, na linguagem cinematográfica, o conceito de tempo. Temos, pela aproximação de duas imagens, uma percepção de tempo que é comprimido.
Com ângulos que forem do padrão clássico, como à esquerda, e composições gráficas e geográficas, nas duas cenas, Limite pode ser entendido como um filme composto de planos altamente estéticos agrupados de forma rítmica. Ou, como analisa Saulo Pereira de Mello, são “ imagens geradas pelo tema só têm sentido no ritmo dado pela montagem”.

Assim, diferentemente de seu contemporâneo, Humberto Mauro, e por criar uma narrativa poética, não estuda temas da cultura nacional, e não aparenta uma crítica social por meio de seu cinema. Assim, Glauber avalia o filme como muito mais de interesse internacional do que nacional e, Saulo Pereira de Mello reafirma que poderia ser estranho para o contexto brasileiro dos anos 30, mas não para o contexto mundial.

As diagonais, assim como muito presentes nas vanguardas russas, aparece aqui em Limite. São marcadas pela estrada, pelos galhos secos e, triplamente, pelas sombras dos galhos na terra seca. Mesmo que reforçado por Glauber a fuga da motivação em retratar o Brasil, esta cena o retrata. Talvez não seja a proposta, mas, pela poesia, também compõe a documentação do país.

Com a complexidade proposta pelo filme na época, foi pouquíssimo repercutido. Saulo atribui ao Chaplin Club, Cine Clube dos amantes do cinema silencioso, a preservação desta obra uma vez que este não foi bem recebido pelos distribuidores americanos — o que faz sentido e que não havia de ser a pretensão de um cinema nada comercial. E, por isso, falar sobre Limite é também falar sobre sua (não) aceitação nacional e a dificuldade de seu restauro. O filme foi exibido ao público apenas em 1986 e por isso, é visto por Glauber como um mito, de forma até irônica.

--

--

Giulia Tessitore
Revista Flusser

oficialmente, estudante de cinema. realmente, estudando arte, filosofia e política.