Limite (1930), de Mário Peixoto
por Giulia Tessitore
filme Limite, de Mário Peixoto, realizado em 1930 tem como contexto o ápice do cinema mudo, lembrado por Bazin como o limite da evolução da obra cinematográfica, capaz de enorme impacto por sua sofisticação. Neste momento, a linguagem cinematográfica atingia sua forma própria, complexidade formulações de ideias a partir da composição e montagem. Assim, Mário Peixoto decide produzir seu filme, que seria lembrado por Glauber Rocha como grande mistério que reuniu elogios de Mário de Andrade a Eisenstein.
Mário Peixoto, como pode-se ver em Limite, trabalha com o “cinema puro”. Narra muito mais o seu mundo interior do que uma história focalizada em um personagem. Trabalha com uma sensibilidade estética apurada, experimentando angulações, composições e efeitos de montagem. O diretor, pela arte, consegue provocar sensações. Glauber, em seu capítulo dedicado ao Mito Limite, classifica-o como arte pela arte, um cinema que não carrega mensagens.
Assim, diferentemente de seu contemporâneo, Humberto Mauro, e por criar uma narrativa poética, não estuda temas da cultura nacional, e não aparenta uma crítica social por meio de seu cinema. Assim, Glauber avalia o filme como muito mais de interesse internacional do que nacional e, Saulo Pereira de Mello reafirma que poderia ser estranho para o contexto brasileiro dos anos 30, mas não para o contexto mundial.
Com a complexidade proposta pelo filme na época, foi pouquíssimo repercutido. Saulo atribui ao Chaplin Club, Cine Clube dos amantes do cinema silencioso, a preservação desta obra uma vez que este não foi bem recebido pelos distribuidores americanos — o que faz sentido e que não havia de ser a pretensão de um cinema nada comercial. E, por isso, falar sobre Limite é também falar sobre sua (não) aceitação nacional e a dificuldade de seu restauro. O filme foi exibido ao público apenas em 1986 e por isso, é visto por Glauber como um mito, de forma até irônica.