Rapsódia

Revista Fora da Área
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4 min readOct 7, 2015

Por Danrri Ferreira

Atletas comemoram gol de Alex contra o Figueirense. (Foto: Ricardo Duarte)

O segundo semestre de 2015 me deixa ressabiado e com uma ponta de ciúme dos bons acontecimentos da primeira parte do ano. Não sei se a palavra certa é essa, contudo, é uma sensação tosca de impotência. O barco não sai do lugar e parece que não há nada que se possa fazer, mesmo que saibam todas as soluções. Isso é mais tosco que levar olé. Aliás, que maldade é levar um olé. Inversamente prazeroso é provocar um olé. Um sentimento, quase um mantra da felicidade extrema ou do fracasso acachapante. Olé é aquele moleque trepidante que desnorteia e ainda dá um tapa na cara. Ou até mesmo três. Quem sabe, cinco. O olé é a marotice, a vitória selada com chiclete. Só que o olé não é exatamente o motivo principal deste conjunto de verbetes — mas pode ser. Se combinar direitinho, a gente marca uma cervejada e fazemos um debate.

Precisamos falar do Internacional. Aquele que não suporta as facilidades e triunfa no improvável. Aquele que achou mais conveniente se desfazer de Diego Aguirre e sua comissão técnica dias antes do humilhante Grenal do Dia dos Pais, deixou o rojão na mão do inexperiente Odair e apostou perigosamente no sanguíneo e peculiar Argel. Nada contra Argel, que fique bem claro. Só que em mais uma prova de que emoção pouca é bobagem, o “fato novo” pode ter nos custado sonhos maiores. E o Argel não tem culpa de ter sido procurado e de aceitar a proposta do seu time do coração. Seria uma HERESIA condená-lo, dadas as circunstâncias.

Partimos do seguinte princípio: ainda que existam diferenças em relação ao elenco do primeiro semestre, o time não é ruim. Por óbvio, existem carências, que todo mundo vê. Não são poucas as vezes em que o Internacional é um AMONTOADO dentro e fora de campo. Parece um time de queimada. Ou uma festa de aniversário de criança, onde todas correm desordenadas, derrubam bolos cobertos de merengue que melecam ainda mais tudo à sua volta. Vitório Píffero e Carlos Pellegrini duelam para saber quem ostenta mais abobrinhas em entrevistas. Entre salários, empréstimos e todas essas questões irritantes do esporte, residem vespeiros que insistem em ser remexidos. Injustamente, Aguirre é visto por muitos como alguém que “não fez nada”; um vilão.

Em um ano que serviu para descobrirmos e afirmarmos alguns talentos do time, mais da metade do Brasileirão se foi e o G-4 é apenas uma possibilidade remota. Encabeçado pelo Corinthians de Tite e seguido pelo perigoso Atlético-MG, o seleto grupo conta também com o surpreendente Grêmio de Roger. A última vaga ainda está em aberto, mas candidato é o que não falta. Tristão Garcia ainda terá bastante trabalho até o final do certame. Conturbados e emergentes disputam o quarto lugar conosco e isso me preocupa, por uma razão: o Inter do segundo semestre não assusta quase ninguém.

Com algumas vitórias, a dolorosa queda para o Palmeiras na Copa do Brasil e diversas críticas de todos os gêneros, nem o próprio Argel sabe se estará na casamata colorada em 2016. A inconstância de quem comanda o futebol no país não nos permite ter esperança em trabalhos a longo prazo. O imediatismo não cessa, a qualidade dos trabalhos dos treinadores padece e quem mais sofre, evidentemente, é o torcedor. Além disso, a rapsódia do Inter aparenta ter um final diferente desta vez. Ópera contemporânea com toques malvados e clássicos de filme de terror que apresenta uma sinfonia desatinada. Ainda assim, é notável a chance do concerto ser consertado. Sem dó, com sol, pra lá e sem ré. Muito empenho, TRABALHO™, torcida e fé.

Até porque, independente do que acontecer, a conclusão será sempre a mesma. Eu ligo o rádio e: blá, blá. Blá, blá, blá, blá, eu te amo.

Que assim seja.

Danrri Ferreira é torcedor colorado e colaborador da Revista Fora da Área.

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