Torcida que compra e se vicia

A cartilha do consumidor palmeirense, uma consequência de uma nova era

Revista Fora da Área
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Por Fabio Perina

Aplaudir renda da bilheteria na partida. Comemorar ter mais do que o arqui-rival: sócios torcedores. Vaiar a própria torcida organizada. Se o time joga no Pacaembu pra que ir?

Afinal o que importa é quando inaugurar o estádio novo, mesmo que muitos ‘palmeirenses’ desapareceram por tantos anos e de repente estão por todos lados, procurando ingressos. Nada mais de ‘Jardim Suspenso’, ‘Parque Antarctica’ ou ‘Palestra Italia’.

Corrigir os outros a chamar Arena, que entra pelo nome gringo da empresa alemã. Se a diretoria vender mando de campo pra que se indignar?

Ensinar o filho que bonito mesmo é ficar sentadinho e não dizer palavrão. E, por falar nisso, bonito é o pai cidadão de bem, que pode pagar um ingresso inteiro pra uma criança de colo!

Achar bonito mostrar pros outros o ingresso caro que pagou. Achar bonito mostrar pros outros a selfie estilosa que tirou. Comemorar que a camisa de jogo nova é a mais cara de todas — mas aceita que ela seja de qualquer cor, afinal o que importa é que está vendendo.

Comemorar que os rivais se humilham colocando ingressos baratos a suas torcidas. Tornar-se comentarista da economia dos clubes, no lugar de debater o próprio jogo. Comemorar balancete no azul. Comemorar inauguração de loja oficial. Comemorar recordes de acessos no Facebook e Youtube. Comemorar recordes no numero de sócios torcedores.

Comercial da Adidas de 2009, para o lançamento da camisa azul do Palmeiras daquele ano.

Em resumo, qualquer parafernália ou qualquer frescura substitui para muita gente a necessidade de grandeza: time competitivo e torcida que COBRA e vibra.

A ‘Era Valdívia’

Esse não é um texto sobre a ‘Era Paulo Nobre’ ou a ‘Era Avanti’. É, sim, sobre a decepcionante ‘Era Valdívia’. Resultados ruins dentro de campo e o palmeirense em sua maioria foi se acostumando a ficar sem títulos, se acostumando a assistir e torcer contra as conquistas dos rivais. Se acostumando a perder até mesmos os clássicos. Qualquer momento que tivesse serventia para tentar sobreviver de ilusões.

Isso só me faz lembrar a perda do titulo do Brasileirão de 2009. A imensa maioria dos palmeirenses que já conversei lembra de prontidão que, durante o primeiro turno, mesmo o grupo provou estar pronto pra ser campeão.E que miséria de escolha foi terem aceito Vagner Love e Muricy Ramalho que tanto atrapalharam! Mas passando-se os anos foi dando a impressão que as conseqüências dessa derrota foram muito mais profundas.

A perda de rumo era tanta que poucos vão lembrar que o clube investiu e se endividou muito nos anos 2008 e 2009 para conquistar grandes títulos.

Na metade do ano, então, a solução mágica para salvar 2010 foi um novo endividamento para contratar de uma só vez as celebrities Valdívia, Kléber Gladiador e Luiz Felipe Scolari. Uma chamada “Síndrome de ex-namorada”.

Dos três, o primeiro foi o que mais tempo ficou, e mais tempo fazendo o palmeirense ser humilhado semanalmente. E o nosso Parque Antarctica? Até nunca mais…

Para não dizer que não havia nenhuma nenhuma referência: havia São Marcos ainda.

O que vejo que tudo isso tem em comum é a crise na identidade do palmeirense. Por mais que um jogador explore e humilhe o clube, um dia ele sai. Como esse mercenário esteve de saída no tão esperado dia 17 de agosto. É o fim seu longo contrato, onde recebia 500 mil reais por cinco anos. Mas será que essa tal era de nossa crise de identidade somente vai se acabar com o fim do mandato do presidente?

E mais: Caminhamos assim para aceitar ser essa única trilha para voltar a ser protagonistas de títulos, mesmo que dessa forma tendo trocado grande parte da nossa identidade?

Um chute no vácuo deixa a pergunta no ar.

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