A linha tênue entre o cômico e o trágico
Começou com a garrafa de vinho barato que eu decidi jogar pelo ralo da pia.
Depois o processo de manter-me sob o meu próprio controle. Diferente daquela música, eu não deveria tentar ficar bêbada ou chapada o tempo inteiro para esquecer que sinto sua falta. Até porque não teria como eu esquecer assim. É algo intenso demais para ser banido da minha mente com substâncias de efeito passageiro. Eu tive que aprender a lidar com a sua falta e com o fato de que, como disseram, “não era pra ser”.
Estou em processo de recuperação não evitando você, mas evitando fazer com que minha mente pense apenas em você. Não tem porquê eu tentar substituí-lo, nem preciso agir como se você nunca tivesse existido.
“Só não finja que não passei por aqui.”.
E não há nada que você possa fazer para me ajudar nesse processo. Não é se afastando, não é estando aqui, não é… Não há.
Não vai passar, mas também não estará aqui o tempo todo.
Vai estar guardado com todos os momentos, lágrimas, fumaça jogada pelo ar e caminhadas em ruas que provavelmente não faremos mais juntos.
Olhando todo aquele vinho escorrer, chegou a ser cômico: como aquele líquido numa garrafa iria afogar todos esses sentimentos?
Meu único arrependimento é que é sábado à noite e eu gastei o resto da minha grana num vinho — barato — que joguei pela pia da cozinha.
maio, 2017