A Maior Certeza De Todo Amaldiçoado
Baudelaire desce comigo
Por uma rua lotada
De malditas
E malditas,
Nossa gente
Irmã,
Nossa gente
Amiga,
Nossos iguais
Na Deusa Maldição
Mastigando
O nosso coração.
Falamos com cada uma
Que tem contos
E cânticos
Cheios de dor,
Chagas
De milênios
Que nem a História
Consegue
Calcular,
Pragas
De eternidades
Que nem os Sábios
Conseguem
Identificar.
Falamos com cada um
Que tem plantas
E armas
Cheias de lama,
Fazedores arruinados
De grandes construções
De muitos passados,
Filhos ignorados
Pela Vida
E pela Morte,
Colecionadores
Dos próprios ossos
Pulverizadores,
Remadores
Dos próprios barcos
Destroçados.
A cada conversa
Colhemos a seiva
Em comum
Que todos nós,
Malditos
Dos Dias
E Das Noites
E Das Madrugadas
E Das Manhãs
E Das Tardes,
Damos à nossa
Mãe Maldição.
A cada conserva
Conservamos o vinho
Em comum
Que todos nós,
Malditos
Das Pontes
Das Praças
Das Fontes
Das Barcas
Das Esquinas
E Das Encruzilhadas,
Oferecemos à nossa
Mãe Maldição.
A cada conversa
Observamos o acúmulo
Dos livros
Que todos nós,
Malditos
Das Filosofias
Das Poesias
Dos Contos
Das Crônicas
Das Pinturas
Dos Desenhos
Dos Filmes
E Das Fantasias,
Escrevemos para a nossa
Mãe Maldição.
Sabemos
Que Ela
Nos dá
Apenas
Uma certeza.
Sabemos
Que Ela
Nos tem
Apenas
Dentro dessa
Certeza.
Sabemos
Que Ela
Nos alimenta
Somente
Com essa
Certeza.
Sabemos
Que Ela
Nos determina
Sempre
Como essa
Certeza.
Baudelaire continua
Eternamente comigo,
Vibrando
Como eu vibro
Na Certeza
Que vem
De nossa
Mãe.
Baudelaire expressa
Essa Certeza
Como expressava
Quando uma carne
Habitava
Em uma França
De outra
Era.
Baudelaire expressava
Essa Certeza,
Também,
Quando habitou
Outras carnes
Em outras
Franças
E em outras
Eras.
Eu que já fui
Francês
E muitos outros
Franceses
Das outras Franças
Entre O Éter
E O Nada,
Tenho Eternamente
Em mim
A Certeza.
E se tu és
Uma Amaldiçoada,
Um Amaldiçoado,
Saberá
Como eu
E Baudelaire
Sabemos
O que É
A Certeza.
Inominável Ser
AMALDIÇOADO
PELA ETERNIDADE
E PELA CERTEZA
ADVINDA DO ÚTERO
DA DEUSA
MALDIÇÃO
