A Minha Velhice é um Bálsamo
A minha velhice vai além de uma mera data no RG.
Ela está estampada na barba que nunca cresceu o suficiente.
No cavanhaque disforme e nos pelos avulsos que deixo na esperança que se encontrem.
A minha velhice apareceu em mim bem antes de envelhecer.
E hoje em sentido contrário a abandono sozinha na esquina.
Sem dica de como voltar pra casa.
A minha velhice é visível na minha feição cansada de quem desvia das pancadas.
Pancadas que alguns carregam como cruz enquanto outros nem as percebem.
Umas no ferro e outras na ferradura.
A minha velhice é nítida na minha preguiça em responder a qualquer absurdo.
E para isso cultivo o calar ao invés de dizer o que deveria ser visto como óbvio.
É o desânimo produtivo.
A minha velhice me faz entender quem sou e quem fui.
E isso sem pressionar quem posso ser.
Cada macaco em seu devido galho.
A minha velhice está no clássico franzir na testa enquanto ouço uma besteira.
Que exclui o calar que citei acima: Este franzir diz muito mais que o calar.
A minha velhice resmunga em todo dia de chuva.
E nos de sol também.
A minha velhice é só minha e de mais ninguém.
Por mais que a veja em vários espelhos.
A minha velhice não se resume a resmungos e reclamações.
Mas também em desfrutar de uma coragem que pouco senti por perto.
A minha velhice carrego desde o primeiro tapa que recebi no nascimento
E passarei para outro antes do último suspiro.
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