A poesia mais linda que jamais escrevi

Tiago da Silva
Revista in-Cômoda
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2 min readJul 24, 2019

É do Marco de Menezes. Mas não consta em nenhum de seus livros. O que diz muito sobre a obra dele.

A li há 10 anos pela primeira vez e desde então nunca passam-se muitos meses sem que me recorde dela.

Certamente é das coisas mais lindas que já li.

“ADVERTÊNCIA

e de antemão te dizer
há uma linha fina e amarela
no lado inverso das folhas de lírio
que tocar ali produz a sensação
senão de alegria talvez de conforto
conforto vegetal e hídrico, destino
da planta que se dá ao toque do homem
que se crê de outra mão feminino

e de antemão te dizer
que esse cheiro de círios apagados
que essa inoportuna febre desalmada
soam falsos, funestos, malfazejos
que todo desejo que invada a madrugada
de manhã não chegará sequer ao beijo
que reconforta o outro, que o espelha
no rude umbral do espelho do banheiro

e de antemão te dizer
faltam escadas no escurecer da casa
com que a casa, destinação de quem pousa
sobre os objetos livres o olhar pasmado
com que a casa, alimento e almofada
cerca e pastiçal, cão e almotolia
abre-se em fitas empastadas de silêncio
abre-se em pálpebras azaleias de delírio

e de antemão te dizer
então e antes e para sempre deste rio
que faz a curva ali ao redor da ilha estranha
que da dor tamanha a esmo perdida nas entranhas
um grito só de ai! de alto! um grito só pânico passadiço
não será o som maior que acordará os passarinhos
não irá às guelras matutinas, não secará o fundo da piscina
que onde e antes e sempre esse rio memorizado fique”

Marco de Menezes

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Tiago da Silva
Revista in-Cômoda

Às vezes me surpreendo com o que escrevo, porque não sabia que pensava assim.