A tensão

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readJul 23, 2019

Trava que amarra meu corpo na cama e nem fome mais eu sinto.

Noite mal dormida,
olhos não se fecham e quando consigo,
o mesmo pensamento atormenta.

Abuso do tempo,
ponteiros me empurram pra rua.

Ainda despreparado,
andando sem rumo,
encaro meu mundo da Lua.
É só o começo do dia.

Me cobram o “bom dia”,
“até logo”, “fique bem”,
me cobram o sorriso,
e mesmo sem crer respondo pra mim com “amén”.

Que o dia termine logo,
que tudo acabe bem,
que a esquina dessa vez me acerte,
não suporto mais ser refém.

Peito vazio,
cabeça cheia de negativos,
se ao menos eu revelasse,
talvez eu fosse entendido.
Mas não encontro em qualquer canto alguém disposto a me ouvir.

Meu rosto cinza sem expressão não desperta o interesse de ninguém.
Sorrir,
às vezes faço questão de até fingir que eu estou bem.

Trabalho 8 horas por dia,
quase uma máquina de apertar parafusos de alguém.
Conserto aqui,
corrijo tudo,
mas não aperto um abraço.
Só o que eu quero é que passe
Eu não preciso de muito
Talvez apenas andar descalço de novo no mato
Sentir a terra nos pés outra vez.

Quando criança,
eu não sabia de fato
Que ser adulto, era ser só,
mesmo cercado de muitos.

Com que dedo que eu mesmo me julgo quando decido não mais seguir?

Que dirão os que ficarem, que será que vão sentir?

Minha falta eu sei que não
Já que há tempos não estou mais aqui
“Nunca me passou pela cabeça”
“Assim, do nada”
“O que será que aconteceu?”
Pois é, não sabem porque não ouvem
Porque nunca pensaram ser eu.

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