Amor-próprio é um gosto adquirido
No decorrer do primeiro dia
pensei em ligar mais vezes do que minha voz
confessaria
segurei o celular no rosto às duas da manhã
ao meio-dia e no fim da tarde
— a hora de descansar juntos no sofá
mas já não o tenho ao lado
e já não encontro descanso
todos os impulsos de alcançá-lo através da tela
agora são contidos como ervas daninhas
crescendo no estômago
cada vez que leio mensagens curtas
lembro que não somos mais
nós dois
aquele que espero
já não é quem atende o telefone
à noite o celular ficou sem toque
como meu corpo
tenho tanto para sussurrar no ouvido dele
deitar e molhar sua camiseta vermelha
mas estaria repetindo frases gastas
que ele já sabe de cor
agora são as janelas que me escutam
e no mesmo repertório dele
elas não dão resposta.