Amor Vincit Omnia
Amo escrever, amo colocar meus sentimentos racionalizados no papel. Dar voz aos meus demônios, ter na ponta da caneta o sangue das vísceras espirituais. Raspar o papel com os pecados de um apocalipse perpétuo. Confessar coisas que até o padre se aviltaria. Dar lume ao meu melhor lado, transparecer as virtudes e honrarias que obtive, ainda que eu as negue por certa decência de humildade (ou apenas ignorância). Amar o amor e a pessoa a quem amo, sacrificar a vergonha de ser frágil quanto uma pétala. É estar nu, vulnerável e mesquinho, sensível. Gosto de ignorar nominalismos de sujeitos: o meu nome e sobrenome; a cor da minha pele e o estranhamento dos homens; o meu gênero e os pressupostos sociais; a minha época e suas penitências; o meu credo e as consequências dele.
Amo escrever, embora eu sofra justamente por isso. Escrever é um processo de sangria, a qual só transcendemos quando o mar exausto das palavras afoga-nos num salto ao céu, que as juntas e os músculos mancham sempre a imprecisão da sentença.