Apanho feito Rocky Balboa

Poeta Rafa Ribeiro
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readMay 8, 2019

Coração bate feito Mike e eu apanho feito Rocky

“LEVANTA A GUARDA, CAMPEÃO!”

Jab, direto, jab, direto,
cruzado de esquerda.
O maldito é canhoto,
me vem logo o soco na cara,
cabeça pesada e o peito doído,
soubesse que seria isso teria fugido,
talvez nem viesse pro mundo.

Não lembro de ter marcado essa luta,
quando percebi já tava aqui em cima calçado de luva,
nem sei em que round está a disputa.
Tô quase pedindo que joguem a toalha,
eu não sei lutar,
queria mesmo sorrir,
mas já que estou aqui,
eu não vou desistir.

Não uso de esquiva,
bloqueio nenhum golpe,
a cada pancada,
uma nova tentativa,
não importa como eu me comporte,
ele ainda me bate,
meu rosto já cheio de corte,
peito cheio de remendo,
mal cabe tanto curativo,
já estou apanhando faz tempo.
Às vezes parece que nem vivo,
por que será que não aprendo?

Ele não para,
parece improviso,
domina tudo que eu faço,
machuca e nem sempre me avisa,
no ringue parece que dança,
sequencia de jab e cruzado,
um gancho no queixo,
fui quase a knockout,
um beijo na lona,
juiz abre contagem,
mas eu me levanto
de novo tô pronto.
Vem tranquilo, coração!

Não sei até quando eu aguento,
talvez seja sina,
tipo essas coisas de zodíaco,
de tanto falarem que ariano gosta de briga,
estou eu aqui apanhando da vida.

Mas é tanto soco,
que até a torcida já está com dó,
mas eu não desisto,
nem quero vencer,
queria um empate,
mesmo já estando só o pó.

Talvez eu nasci pra ser Rocky
e vença só no final.
Mas pensando bem,
prefiro viver o meu filme,
e sem dublê quase morrer
por não saber desistir
de sentir o meu coração me bater.

Vez em quando
até vejo brecha pra contra-ataque,
mas olho pra ele e não consigo,
ele é muito frágil,
eu quase que vejo um sorriso quando encaro,
daí não tem jeito,
eu baixo mesmo a guarda
e sigo apanhando.

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