BATIMENTOS

Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda
Published in
2 min readMay 19, 2020

Sala do médico. Silêncio absurdo. De repente: tum tum tum tum tum tum. Esse foi o primeiro contato que tive com o meu filho ou filha. O sexo pouco importa, esse é o clichê mais verdadeiro que existe e todo pai usa. O que valia, ali naquela sala congelante, era o som do seu coraçãozinho que batia de forma orquestrada. O som abafado naquele consultório era o mais lindo que eu já tinha ouvido na minha vida. Era perfeito, indescritível. A Quinta Sinfonia de Beethoven perdia era feio. Aquele ritmo ditava a minha emoção.

Um parêntese especial para agradecer à tecnologia, ela foi capaz de filmar dentro da barriga da minha esposa e mostrar nosso bebezinho de forma ampliada. Um aparelho pequeno e mágico: quanto mais tempo o meu filho aparecia no projetor, mais crescia meu amor por ele.

Fiquei mais tranquilo ao ver que ele está protegido e cercado de muito amor naquela barriguinha. Ali, naquele momento, a ficha caiu e me senti um pai de verdade. Descobri o verdadeiro significado dessa poderosa palavra que meu pai sempre fez questão de honrar. Tenho uma boa referência nesse quesito e quero seguir essa tradição de família. Falando nessa palavra, ela ganhou um novo significado na minha vida.

Voltando para a sala do médico, olhando para o projetor, percebi que quando seu coração pulsava, o corpo inteiro balançava. Algo estranho e, ao mesmo tempo lindo e barulhento. Aquele coraçãozinho ditava o ambiente da sala, ele batia rápido e forte. Para ser mais preciso: 143 batimentos por minuto de muito amor. Enquanto o coração dele batia, o meu quase explodia de felicidade. O ritmo do meu coração já desgastado e que viveu diversas emoções, chegou a acelerar de uma forma que pensei que enfartaria.

Agora entendo quando dizem que ser pai não é fácil. Mexe com o sentimento, com os sonhos, com os planos e com a forma de como ver e viver a vida. Foi uma alegria tão grande que, de vez em quando, escuto o sonzinho do seu coração e fico arrepiado. Mas confesso que não vejo a hora de começar a ouvir outro som que ele vai produzir muito: os seus choros na madrugada. Até lá, eu vou sonhando com ele nos meus braços.

--

--

Emmanuel Brandão
Revista in-Cômoda

Redator, publicitário, jogador e metido a escritor. Autor do livro de crônicas: Blá Blá Blá.